A democracia é propriamente a desconexão entre ordem civil e ordem natural. Nenhuma ordem natural é anterior à democracia - governo dos mais velhos ou sábios, por exemplo - esse é o escândalo da democracia, uma ausência de legitimidade natural que autorize o exercício do poder.
A democracia é o poder "de qualquer um" e este poder é anterior a qualquer forma de governo. Rancière explicita assim o equivoco que se faz ao se confundir democracia com uma forma de governo. Ao fazer essa confusão regimes como o de Bush se autorizam a impor a "democracia" pelo mundo. Podemos pensar então que a retomada crítica da noção de democracia é também uma maneira de enfrentarmos os poderes mais autoritários em curso. Recuperar o escândalo da democracia.
Após a queda do muro, o principal inimigo da democracia é a democracia ela mesmo, é o que Rancière conclui como sendo a crítica que os intelectuais fazem à liberdade que os indivíduos em dar "livre curso aos seus desejos", seja no consumo, seja na vontade de comunicação com o mundo todo ao mesmo tempo, "mas também na jovem que quer manter seu véu na escola ou de casais homossexuais que desejam adotar filhos".
Este último exemplo é muito revelador das formas como o conservadorismo está presente no pensamento. Uma nostalgia do pai e da autoridade se traduz em ódio à democracia.
A democracia não está dada nem em uma forma de estado nem em uma forma de sociedade, pela democracia a luta é infidável e constante.
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