Ainda pensando "A pessoa é para o que nasce", mais especificamente a última sequência do filme.
A última seqüência deste documentário marca um ponto decisivo de inflexão na tradição documental. Em uma espetacular praia nordestina, na Paraíba, provavelmente, as três irmãs se despem e tomam banho de mar completamente nuas. Esta seqüência é difícil, pode ser facilmente pensada com uma forma de espetacularizacao, de super-exposição, como se de alguma forma o filme aqui se avizinhasse das formas mais corriqueiras que entrelaçam espetáculo com vigilância. Aqui, colocado ainda um agravante não desprezível; trata-se de mulheres cegas. Esta proximidade com as formas mais reles de exposição e funcionalização dos corpos colocam o filme de Berliner em um limite do documentário e se podemos agora abordar o que há de propriamente político neste trabalho, talvez essa abordagem deva começar justamente pela maneira como o realizador força o limite do humanismo, do olhar distanciado, da vitimizaçao. Toda essa prática contemporânea que excluía a política encontra neste filme um forte oponente.
Desfuncionalizado, o corpo aparece como tal, não serve ao voyeur nem ao mercado, não é erotizado para ser consumido, é apenas corpo. Nesse sentido, o A pessoa é pra o que nasce termina com o corpo como “meio enquanto tal”, como escreveu Agamben para falar dos gestos. Talvez seja este o lugar propriamente político que o documentário pode dar a estes corpos, ou seja, recolocando-os entre o ordinário e o singular e desconectados de uma ação que opere no mundo da maneira individual; não se trata do corpo forte, ativo, vigoroso e fundado na ação, mas do corpo marcado, inscrição do vivido, o corpo como “comunicação de um comunicável”, nas palavras de Agamben ainda sobre o gesto. Reconectar o corpo com a virtualidade destes mesmos corpos é das tarefas mais políticas e dignas do documentário.
Um comentário:
oi cezar.isto me fez pensar na performance da PatB vc viu? http://paoleb.blogspot.com/2007/10/primeiras-impresses.html
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