A democracia é essa ausência primeira ao direito de governar. Na democracia não há título a governar - elite, povo, igreja. (cont. post anterior)
Se ao governo é feito pela elite econômica ou religiosa, pode haver governo mas não há política.
Se há política é sempre possível que um novo ator apareça para dizer; minha fala também é política, minha reividicação e meu desejo, minha presença no poder também é política. A política, diz Rancière é a possibilidade de constantemente deslocar os limites do político; daquele que tem direito e ver e dizer na polis.
A democracia aparece justamente quando aparece o poder de um "povo" que não é particularmente legitimado por um sistema de estado ou econômico.
Algo que excede, sem ter nenhuma qualidade ética ou social particular.
Tudo isso me ajuda a pensar o cinema, especialmente o documentário.
Lugar onde pode surgir uma voz suplementar, um gesto que não suporte os catálogos pré estabelecidos.
Lugar em que a fala não pertence mais a uma ou ao outro, mas se torna coletiva.
Coletiva porque o documentário é frequentemente uma saída de si e uma invenção de um espaço comum, entre vários.
Por isso, dar voz ao outro é uma falácia, posto que a voz e a fala é uma invenção coletiva.
Esse talvez seja o caráter mais radical e democrático do documentário, ou seja, a possibilidade de na imagem aparecer novos atores no jogo social. Não é isso que nos moblliza nos bons documentários?
Não é isso que nos mobiliza nas imagens?
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