Um dos ótimos momentos do novo livro do Giuseppe Cocco, MundoBraz, é quando ele faz um apanhado na mídia das críticas ao Bolsa Família.
No final do século XIX, antes e depois o final da escravidão no país, ainda se discutia a legitimidade ou não da escravidão. Talvez o Brasil não tivesse condições econômicas para suportar o fim da escravidão. Questionar a abolição e o direito dos negros serem cidadãos era algo aceitável. Hoje, o debate seria absurdo, claro.
O Bolsa Família vai na mesma direção. Hoje ainda precisamos debater, argumentar, mostrar que o capitalismo mudou, que o emprego não organiza mais o social, que o Bolsa Família libera as pessoas para a criação, para a educação e que, ao contrário do que dizem os setratores, não "vicia". Precisamos a todo momento falar da urgência que a pobreza exige e dos ganhos na saúde, educação e na economia que esse programa trouxe.(ver relatórios do IPEA)Precisamos tentar explicar a diferença entre assistencialismo e o que há de mais progressista em termos de ação social libertária, como enfatiza o Cocco, algo difícil de entender tanto para uma parte da esquerda quanto para a direita que ainda associam igualdade social com desenvolvimento e, pior, liberdade com a opressão do trabalho fabril. Para desespero dos velhos marxistas, essa transformação profunda se faz no interior do capitalismo e sem a revolução.
Pois, tudo isso e muito mais, que ainda nos ocupa, que ainda é parte de uma necessidade retórica, se tornará tão antigo e absurdo quanto um debate sobre se a escravidão deve ou não existir. Até lá, vamos a luta.
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