28 de jan. de 2010

Um lugar ao Sol Gabriel Mascaro

No documentário, quando se elege o inimigo, quais os limites éticos?
Coloquei essa pergunta ao Gabriel Mascaro em debate sobre o seu longa, Um lugar ao sol.
Gabriel faz um documentário importante sobre pessoas que moram em coberturas.
Trata-se da elite que mora com uma vista privilegiada, distante do barulho, "perto de Deus", como diz uma entrevistada.
Gabriel usou algumas mentiras para se aproximar dos entrevistas, o que não é problema. Conseguiu entrevistas em que ouvimos frases muito pesadas que confirmam o estereótipo de preconceitos que essas pessoas podem ter.
Na cobertura há a possibilidade de ficar mais distante da cozinha, de ver o mundo de cima, etc.

Alguns pontos:
Primeiramente essas pessoas tem dinheiro, mas não são a elite. São pessoas que expõe seus preconceitos e cafonices com uma ênfase que as distancia do que é a elite hoje no mundo, ligada à comunicação, à sobriedade e à riqueza que permite flutar em um mundo de experiências. De maneira geral a elite do filme é decadente.

Guardo um certo incômodo por conta da forma como oe realizador filma a pobreza. O filme utiliza muitos planos da cidade, de pessoas que estão nas ruas, de favelas que, apesar de Gabriel discordar, me parece planos que acabam forjando um contra-plano, uma contraposição às coberturas e à riqueza. Não seria essa uma utilização instrumental da pobreza? Mais, uma pobreza que está em cada plano da cobertura, mesmo que não apareça, ele pertence ao espectador.


Me lembrei de Didi-Huberman comentado Brecht quando diz algo como : mostrar é tomar posição. Tomar posição, nesse caso seria menos criar uma dialética, um outro lado, mas dialetizar. Por exemplo, me interessa mais investigar esse desejo urbano de estar em uma posição de controle em uma cobertura - ver sem ser visto - do que transformar a investigação sobre o que legitima a cobertura em uma dênuncia. Ou seja, estar em uma cobertura é um desejo compartilhável por uma elite que não compartilha o discurso daqueles que estão no filme.
Esse é, digamos o limite político do filme de Mascaro.


Um dos entrevistas diz: "Você está de parabéns por fazer um filme positivo.", ou seja sem pobreza. É essa ambiguidade, de quem toma posição com a lógica do outro, que é muito forte em cada entrevista feita por Gabriel.


O inimigo é bem escolhido no filme, há um prazer em ver o filme apontar para aquela lógica de mundo. Entretanto acho que o inimigo é bem mais poderoso e inteligente que Um lugar ao sol faz crer.


Apenas para fechar. Há algo brilhante no filme que são as relações de família. Diversas entrevistas são marcadas pelas passagens de herança, pelo compartilhamento da casa com os pais, mesmo na idade adulta. Discussão interessante quando começa a se debater os importos sobre herança para uma reforma tributária.



Gabriel realizou o brilhante Avenida Brasilia Formosa que será apresentado em Rotterdam na próxima semana. Um filme com um outro registro em que a cidade como questão continua no centro.Um prazer ver esse cinema arriscado de realizadores jovens e preparados.

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