2 de jan. de 2010

Didi-Huberman - Quando as imagens tomam posição

"Quando as imagens tomam posição" (Quand les images prennent position) é o mais recente livro do historiador da arte francês, Didi-Huberman.

O autor vem publicando intensamente nos últimos anos e isso se reflete na repetição das questões centrais do livro. Entretanto o objeto de análise, Brecht e seu Diário de Trabalho (Arbeitsjournal), publicado no Brasil pela Rocco, permite análises saborosíssimas e que parecem deixar ainda mais claro os princípios que regem as análises de Hubeman. Questões ligadas à montagem, ao anacronismo, à necessidade da imagem, à escritura como produção de saber e à construção da história estão aqui presentes com um esmiuçamento que ultrapassa o trabalho de Brecht para reforçar questões éticas e políticas que Huberman trabalha na arte e na história.

O título deixa isso claro.
A abordagem de Brecht está concentrada na escritura da história e da vida com imagens que não param de expor e expor-se. Dar conta do mundo e se conectar com outras histórias e outros tempos. Imagens que não cessam de "tomar posição" e produzir conhecimento.

A chave do livro de Huberman é o modo como ele constrói paralelamente a vida de Brecht - sem grandes detalhes - em que o exílio teve lugar central, e a própria percepção da arte do alemão que, em traços gerais, coincide com a sua. O exílio - tanto físico, daquele que não está em seu país, como estético, daquele que não pertence, que estranha, que guarda distância, é parte de um trabalho de escritura com textos e imagens.

Em um certo momento Huberman encontra em Brecht o nomadismo de Guattari e Deleuze em Mille Plateux. Não que eles sejam citados, mas a aproximação é clara. Brecht não é apenas alguém que muda muito, antes e depois de guerra, mas alguém que assume a posição "desterritorializada" (p.13) Poesia e vida não podem pesar, precisam se manter leve para que a mobilidade - estar aqui ou lá, ver daqui ou de lá - seja rápida. O exílio é mais que um estado ou um destino, mas um princípio para saber sobre algo: "acuidade da visão" e, o que não deixa de ser problemático, cheio de "informações lacunares" e distanciadas.

Passando por Foucault, Blanchot e Deleuze, Huberman nos lembra a dimensão política e coletiva dos diários como este de Brecht. O autor em algumas páginas aproxima os três pensadores que trazem o "eu" que escreve o diário como uma linha que atravessa o político, o universal e o coletivo, lugar em que uma "gênese de si" ou a intimidade do indivíduo não trazem maiores interesses.

Um dos mais interessantes focos do livro está nas fotomontagens que Brecht faz em seu diário. São aproximações concretas entre imagens, eventos, tempos, textos, espaços. É nessa montagem que Huberman enxerga - e com razão - a produção de saber de Brecht. As escolhas são precisas, ao mesmo tempo paradoxais, explicitando continuidades estranhas e demandando do espectador uma presença ativa nessas montagens, sem, entretanto, esvaziar o poder documental dessas imagens. É preciso que as imagens tomem posição, "apesar de tudo", nos repete o autor.


(Voltarei ao livro)

2 comentários:

Joao Francisco Figueira disse...

Gostaria de lhe fazer uma pergunta: qual o impacto do trabalho de didi-hubreman, mas também damisch, marin, arasse, warburg?... tem uma universidade onde há um conjunto de académicos particularmente interessados nestes autores?...

Joao Francisco Figueira disse...

No Brasil...