Recebi do Leo Sette uma seqüência de fotos de dispositivos colocados nas ruas de Paris para evitar que os chamados SDF (sem domicílio fixo) possam se instalar.
Veja: Imagens
Uma compilação dessas, mesmo sem legenda, mesmo sem montagem com outras imagens, mesmo sem contexto, aspira ser uma crítica aos dispositivos. Colocados juntos vemos o higienismo espalhado pela cidade. Vemos a defesa dos espaços privados.
No Rio de Janeiro isso ficou muito presente quando no início dos anos 90 os prédios foram gradeados. Muitos prédios dos anos 50, 60 e 70 possuíam entradas em que entre a rua e o prédio havia uma passagem, uma área que não era mais rua, mas também não era só d prédio. Pequenos jardins ou simples recuos que funcionavam como um pedido de desculpas à cidade pela fronteira que depois dele se colocaria. Isso acabou, agora o corte é seco.
As Gambiarras urbanas antimendigo não são nem o corte seco nem a invenção de espaços de suspensão, mas simulacros de pessoas em forma de espada, cactus ou pedra. As pessoas estão ali transformadas em outras coisas. Ao vermos os dispositivos, não vemos um espaço vazio protegido, como é o caso das grades, também agressivas, mas as pessoas mesmo.
Aqui não se trata de evitar a entrada de um sujeito que anda, abre portas, fala, ou mesmo de um ladrão. Trata-se de domesticar a visibilidade, impedir que o sujeito se encoste, se escore. As gambiarras não estão ali para defender, ou separar, mas para limpar visualmente a cidade. O problema é que ao serem colocadas elas antecipam o sujeito que ainda não se deitou, dobrando a violência do dispositivo, multiplicando exponencialmente os mendigos da cidade.
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