Prezado Sérgio,
admiro seus comentários no Jornal das Dez e por isso gostaria de colocar uma questão de fundo no comentário de hoje.
Quando dizes que o Bolsa família não pode existir indefinidamente, me parece que há ai uma distância das reflexões mais progressistas em relação às possibilidades do capitalismo contemporâneo.
Toda a crítica que se faz ao Bolsa Família ainda é fundada em uma percepção antiga que separa os sujeitos entre empregados ou desempregados, incluidos ou excluidos, uma percepção calcada no fordismo do Séc XX e não no que hoje tantos tem chamado de capitalismo cognitivo. A inclusão nesse novo capitalismo se descolou da noção de crescimento e isso é decisivo para percebermos um outro papel do estado. O estado tornou-se mais que nunca um gestor do excesso do capitalismo que inclui mesmo os excluídos - (banda larga na favela, celular de graça até para desempregado, dvd e acesso a bens digitais aos trabalhadores informais).
Me parece que não podemos ter nostalgia da disciplina e orientar o que desejamos para o país a partir apenas de mais desenvolvimento, mais indústrias, etc.
O desafio é justamente pensarmos uma além do emprego - o que significa muito trabalho -, um além da indústria, trata-se de uma percepção de que a vida é valor em si.
Entendo o Bolsa Família como parte de uma sociedade de plena atividade sem pleno emprego. (me refiro aqui ao excelente livro de Giuseppe Cocco, que deves conhecer, MundoBraz) O bolsa família é o embrião do que há de mais avançado, no meu entender, em termos de potencialização da criação e das invenção humana que a a idéia de uma renda mínima universal, defendida durante alguns anos pelo sen. Suplicy.
Desculpe-me se me alongo, gostaria apenas de compartilhar a preocupação com o país, a partir de um outro ponto de vista.
Meu cordial abraço
Cezar Migliorin
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