No documentário, quando se elege o inimigo, quais os limites éticos?
Coloquei essa pergunta ao Gabriel Mascaro em debate sobre o seu longa, Um lugar ao sol.
Gabriel faz um documentário importante sobre pessoas que moram em coberturas.
Trata-se da elite que mora com uma vista privilegiada, distante do barulho, "perto de Deus", como diz uma entrevistada.
Gabriel usou algumas mentiras para se aproximar dos entrevistas, o que não é problema. Conseguiu entrevistas em que ouvimos frases muito pesadas que confirmam o estereótipo de preconceitos que essas pessoas podem ter.
Na cobertura há a possibilidade de ficar mais distante da cozinha, de ver o mundo de cima, etc.
Alguns pontos:
Primeiramente essas pessoas tem dinheiro, mas não são a elite. São pessoas que expõe seus preconceitos e cafonices com uma ênfase que as distancia do que é a elite hoje no mundo, ligada à comunicação, à sobriedade e à riqueza que permite flutar em um mundo de experiências. De maneira geral a elite do filme é decadente.
Guardo um certo incômodo por conta da forma como oe realizador filma a pobreza. O filme utiliza muitos planos da cidade, de pessoas que estão nas ruas, de favelas que, apesar de Gabriel discordar, me parece planos que acabam forjando um contra-plano, uma contraposição às coberturas e à riqueza. Não seria essa uma utilização instrumental da pobreza? Mais, uma pobreza que está em cada plano da cobertura, mesmo que não apareça, ele pertence ao espectador.
Me lembrei de Didi-Huberman comentado Brecht quando diz algo como : mostrar é tomar posição. Tomar posição, nesse caso seria menos criar uma dialética, um outro lado, mas dialetizar. Por exemplo, me interessa mais investigar esse desejo urbano de estar em uma posição de controle em uma cobertura - ver sem ser visto - do que transformar a investigação sobre o que legitima a cobertura em uma dênuncia. Ou seja, estar em uma cobertura é um desejo compartilhável por uma elite que não compartilha o discurso daqueles que estão no filme.
Esse é, digamos o limite político do filme de Mascaro.
Um dos entrevistas diz: "Você está de parabéns por fazer um filme positivo.", ou seja sem pobreza. É essa ambiguidade, de quem toma posição com a lógica do outro, que é muito forte em cada entrevista feita por Gabriel.
O inimigo é bem escolhido no filme, há um prazer em ver o filme apontar para aquela lógica de mundo. Entretanto acho que o inimigo é bem mais poderoso e inteligente que Um lugar ao sol faz crer.
Apenas para fechar. Há algo brilhante no filme que são as relações de família. Diversas entrevistas são marcadas pelas passagens de herança, pelo compartilhamento da casa com os pais, mesmo na idade adulta. Discussão interessante quando começa a se debater os importos sobre herança para uma reforma tributária.
Gabriel realizou o brilhante Avenida Brasilia Formosa que será apresentado em Rotterdam na próxima semana. Um filme com um outro registro em que a cidade como questão continua no centro.Um prazer ver esse cinema arriscado de realizadores jovens e preparados.
28 de jan. de 2010
25 de jan. de 2010
O cinema pode matar - Bastardos Inglórios
Perdi o timing dos lançamentos e só agora assisti o último Tarantino - Bastardos Inglórios.
Grande filme, Ilana Feldman já havia comentado e o Filipe Furtado escreveu uma ótima crítica na Cinética.
Um momento fantástico do filme.
A francesa, dona do cinema, acaba de atirar no jovem nazista que é, também, a estrela do filme que ela está projetando. Depois dos tiros ela olha para a tela e o vê em, plano próximo, em um momento de fragilidade, cansado, levemente pensativo. Pois é aquele plano que a faz esquecer quem era aquele homem e o projeto que de acabar com o cinema e com os nazistas ali presentes.
Um simples plano e ela percebe que havia uma pessoa, que havia matado alguém.
Mas, como sabemos, ela não o havia matado e ela é traida pelo cinema. Morta por ele.
O cinema pode matar.
A francesa morreu seduzida pelo filme, o cinema - a sala e a película - matou os nazista aprisionados e Tarantino matou todos, matou Hitler.
Grande filme, Ilana Feldman já havia comentado e o Filipe Furtado escreveu uma ótima crítica na Cinética.
Um momento fantástico do filme.
A francesa, dona do cinema, acaba de atirar no jovem nazista que é, também, a estrela do filme que ela está projetando. Depois dos tiros ela olha para a tela e o vê em, plano próximo, em um momento de fragilidade, cansado, levemente pensativo. Pois é aquele plano que a faz esquecer quem era aquele homem e o projeto que de acabar com o cinema e com os nazistas ali presentes.
Um simples plano e ela percebe que havia uma pessoa, que havia matado alguém.
Mas, como sabemos, ela não o havia matado e ela é traida pelo cinema. Morta por ele.
O cinema pode matar.
A francesa morreu seduzida pelo filme, o cinema - a sala e a película - matou os nazista aprisionados e Tarantino matou todos, matou Hitler.
23 de jan. de 2010
Além da transparência e da opacidade, (Resposta ao Vinícius Reis)
Caro Vinícius,
Tentando responder a tua pergunta colocada no Twitter.
Vamos ao histórico.
O Daney em uma bela conversa com o Godard fala algo como: O cinema se equilibra entre pedagogia e sedução. Nesse mesmo post eu digo que o problema é outro.
Porque?, v. me provoca.
Essa fala do Daney parece ser pautada por uma clivagem que prevalece ainda hoje e que faz uma divisão entre transparência e opacidade. Todos conhecemos o excelente livro do Ismail de 1977: O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. Essa clivagem não me parece dar conta de importantes filmes e realizadores contemporâneos. Não é por acaso que o próprio Ismail acrescenta na reedição do livro um capítulo sobre o dispositivo.
Porque não é o suficiente?
Podemos fazer um recuo na divisão transparecia/opacidade até o ponto em que eu entenderia essa dicotomia fundada na separação natureza/cultura. Ou seja, de um lado há um uma certa objetividade, o real, a verdade da natureza das coisas se fazendo, de outro a coisa feita, aculturadas; a representação. Mantemos a dicotomia representação de uma lado, objeto do outro. O problema certamente não é a representação, mas as consequencias de se apostar na objetividade da natureza, da verdade da construção.
É interessante vermos como o recurso ao “real”, garantido pelo processo, é muito utilizado na TV e na publicidade. A Ilana Feldman escreveu um ótimo artigo sobre esse apelo realista e as imagens amadoras. (O apelo realista), isso aparece nos realitys, claro, e em uma enorme quantidade de anúncios levados ao limite em suas versões mais cínicas, como o famoso comercial da Dove. O processo nesses casos, mas também em boa parte do cinema engajado dos anos 60, precisa ser nitidamente separado do produto final, uma vez que ali resistiria uma objetividade, uma revelação não mediada da mediação. Ou seja, expõe-se verdade do engodo, enquanto a obra acabada é só engoda. As leituras mais simplórias de Brecht, por exemplo só ressaltam esse ponto; a revelação do artifício. A pedagogia da construção, a desmistificação do engodo.
Então, de um lado a pedagogia, de outro a sedução, que tão bem conhecemos.
O que me parece necessário colocar em perspectiva é:
Primeiro, o processo não é menos construção que a obra. A opacidade não é mais uma estratégia de desmistificação ou revelatória. Ou seja a presença do processo no interior da obra não está mais ligada ao distanciamento. Toda natureza é cultural, toda natureza é construção, é o que não cansa de repetir o Eduardo Viveiros de Castro. Ou seja, processo há, mas ele não pode ser pensado como o portador de uma verdade. O que há no processo de uma obra revelado ao público são outras estratégias de criação.
Segundo. E aqui o mais interessante e de onde efetivamente vem meu comentário sobre a impossibilidade de operáramos dentro de uma clivagem processo/obra, pedagogia/dedução. Como pensar filmes como - Juventude em Marcha, do Pedro Costa, Moscou, do Coutinho, Aquele Meu querido Mês de Agosto, do Miguel Gomes, Brasília Teimosa, do Gabriel Mascaro ou mesmo o filme A falta que nos move, Christine Jatahy.
De formas diferenciadas esses filmes, acredito, tem em comum a impossibilidade da clivagem entre processo e obra, entre, no limite, cultura e natureza.
Voltando ainda ao Eduardo Viveiros de Castro, acho que o cinema brasileiro vive um Devir Tupinambá - (com a licença da brincadeira!) Para pensar a relação dos Tupinambás com os portugueses que aqui chegavam, o antropólogo escreve que para os índios, o que importava era a troca e não a identidade. Há um exemplo delicioso em uma entrevista em que ele conta que a pior ofensa para um índio é dizer que ele é avarento. Por outro lado os brancos dizem que não se pode confiar nos índios. Depois de fechar um negócio - te dou 10 mil para filmar aqui - uma semana depois, o índio quer renegociar. Para o branco, fechado o negócio a relação está clara e definida, para o índio é ali que tudo começa, ou seja enquanto um fechou o processo de troca o outro está apenas começando. Evidentemente não cabe aqui fazer um paralelo entre as partes envolvidas em um documentário e a relação entre ameríndios e europeus no século XVI. O processo é a troca entre as partes em que o fim é cambiante, nunca a identidade, nunca a estabilidade. Há um devir Tupinambá no cinema contemporâneo brasileiro. O que é invariável para os Tupinambás é a variação contínua.
A leitura Deleuziana é clara, para quem a essência é a mudança.
Seguindo essa linha, o que entendemos por processo nesses filmes é então uma construção em si e não o ato de construir. Ou seja, não é possível separar, para além de uma cronologia, o que é obra e o que é processo, nos dois casos estamos inseridos em uma invenção, uma montagem de seqüências e de escolhas. A separação não se sustenta então em termos de uma clivagem construção/fim.
Em Moscou, por exemplo. Primeiramente existem dois diretores, um do filme outro da peça - escolhido pelos atores -, a peça que será performada como ensaio. Logo no início do filme, Henrique Dias tenta organizar a cena - do filme - e anuncia: “Ele (Coutinho) é o chefe”. Entretanto, essa chefia é esquiza, desde o início é o que pretende Coutinho, multiplica-se os “autores”, ou os chefes, como quer o Kike, para que todos se percam, e seus lugares sejam assim esvaziados sem que eles deixem de existir, ou seja, de participar de um agenciamento que lhes escapa. Ah, mas sempre escapa, dirão os relativistas. Mas não é desse relativismo que se trata, não é dessa presença do acaso ou do descontrole inerente à realidade e que tentamos organizar. Mas de uma afirmação do descontrole como lugar mesmo de potência, algo absolutamente diferente. “Não se trata de um relativismo da verdade, mas da verdade do relativo” (Deleuze citado pelo Viveiro de Castro - Encontros p90)
O Devir Tupinambá não multiplica os pontos de vista sobre algo, mas coloca a própria noção de ponto de vista em xeque - A pergunta quem vê perde o cabimento. Ela não pode ser respondida sem que se enumere diversos atores, sendo o filme não uma síntese, mas uma multiplicidade.
Na clivagem obra/processo, pedagogia/sedução há uma troca de pontos de vista, como se a instancia enunciativa saísse de um ponto para focar outro. Saísse do mundo construído para o mundo que constrói. - natureza, cultura - Pois no Devir Tupinambá de Moscou e Meu querido mês de Agosto a dicotomia Mundo/Ponto de Vista faz água.
Minha preocupação Vinícius, é incidimos em uma despontecialização dessas narrativas e imagens se sustentarmos uma divisão em dois do universo fílmico, aquele da obra e aquele do processo. Tal divisão é clara nos modos que a produção capitalista se organizou no século XX. A linha de montagem, as arquiteturas disciplinares, as formas de trabalho hierarquizadas e com narrativas Aristotélicas. Os meios, escondidos, se revelados apontavam para o sacrifício, para a exploração, para o tédio, para a dor contida em cada objeto forjado dentro desse modelo. O cinema mesmo, tanto tempo flutuando na discussão sobre sua própria industrialização, como se essa discussão falasse apenas dos meios de produção e não de uma separação que contaminaria toda a obra, ao separar o processo e a obra permanecemos sob a égide da separação que coloca de um lado a espontaneidade, a verdade, a natureza e outro a construção, a cultura.
Ou seja, talvez possamos esquecer essa divisão para pensarmos esses filmes, primeiramente dizendo que o fim, aquele do indivíduo exposto e acabado, do objeto pronto, da narrativa encerrada, nunca se efetiva. Mas, mais importante que isso, é pensar essa narrativa como uma máquina que não faz sistema e que vive se abrindo a uma multiplicidade. (O Didi-Huberman no último livro dele recupera o Brecht para falar dessa multiplicidade presente nas foto-montagens do diário de Trabalho do Brecht, uma dimensão mais complexa do distanciamento Brechtiniano) Não se trata nem de um processo separado do fim, nem o processo para dar conta de um contexto, de um modo de produção, mas o fazer como lugar mesmo de conexão e invenção, inseparável do que há a ser feito, a ser criado.
Em aquele meu querido mês de Agosto, há um seqüência em que a equipe parece juntar toda a comunidade para mostrar o que havia feito. Uma pessoa da equipe avisa que se juntaram ali para filmar o Chapeuzinho Vermelho em versão horror. Vemos na platéia uma senhora que, aparentemente também pertencente à comunidade e faz o papel da vovozinha sacrificada a machadadas. A partir dessa seqüência poderíamos supor que o filme ficara entre esses dois registros - como por exemplo o curta metragem Dada, do Duda Vaisman, você se lembra? que nos anos 90 trabalhara justamente com idas e vindas entre o registro da narração ficcional e a apresentação do processo. Aqui há, digamos, um aprofundamento de tal registro. Chapeuzinho vermelho será abandonado e mesmo a comunidade não passa a ter a importância que essa seqüência ameaça lhe dar. No lugar de ficar entre os dois registros o filme vai somando camadas. Pouco depois, duas jovens procuram a produção do filme que se diverte jogando malha ou algo do gênero. Elas desejam fazer parte do filme, se oferecem para serem filmadas. O filme filma a cena. A jovens se dirigem ao técnico de som, o som que ouvimos é capturado por ele. O técnico de som diz que não sabe de nada, pede para elas falarem com uma outra pessoa mas não tem dúvidas em acompanhá-las e continuar gravando o som de uma cena filmada com a câmera muito distante, sem decupagem, como que por acidente.
Essas camadas de AMQMA não fazem diferenças entre que é o filme trabalhando para mostrar algo, para fazer uma escritura e o que é a própria escritura. Não há interrupção entre o que seria a vida dos realizadores em seus trabalhos, o que é o trabalho em si ou o que é a o espaço e os personagens documentados. Isso não quer dizer que não haja diferença, apenas não há interrupção. Vida, trabalho, criação e criatura fazem parte de um mesmo fluxo que não para de nos levar para o interior do pais, para especificidades de uma região de Portugal, para o extraordinário mês de férias de Agosto, naturalmente onírico, e para o prazer do cinema. A escritura que se dobra, brincar de cinema, brincar com o mundo para que ambos transbordem seus encantamentos.
O real sob o risco do cinema.
Desculpe-me ter me alongada, mas ando pensando nisso e aproveitei para organizar uma coisinha ou outro. 140 caracteres as vezes é pouco né?
Abração Cezar
ps. percebi relendo que deixei no texto um "a" no lugar de um "o" e vice-versa, como faz parte do processo e dá mais veracidade à carta, resolvi deixar.
21 de jan. de 2010
Sem domicílio fixo -SDF
Sempre conectado, sempre disponível, em trânsito.
Em qualquer hotel do mundo encontra o interruptor no escuro.
Banco com braço anti-mendigo
19 de jan. de 2010
Excluir para reinventar
Esse desfile é daqueles exemplos prontos demais para serem eficazes, mas vamos a ele.
Um estilista percebe que na estética dos mendigos há uma produção singular.
O que ele faz?
Mais do que simplesmente incorporar texturas, cores, recortes, vazios e ritmos das roupas, ele mimetiza o mendigo.
Mais do que a captura da potência inventiva daquele que está na rua e resolve o problema da vestimenta com o que tem e com o que sobra, é a própria experiência do mendigo que precisa ser capturada.
O desfile se torna assim o momento exato em que se interrompe a criação. O desfile que seria o lugar em que se exibe a criação é na verdade o encerramento de uma criacão estética que está no mundo.
Em troca de mensagens no Twitter a Fernanda Bruno lembrou:
"No Rio temos aquele designer-decorador (G Cardia) que decora as festas VIPs c/ móveis "estilo favela"
Num Rio Cena o mesmo decorador fez um mural com rostos de pobres. P/ o seu azar, um deles era louco e em sua radical lucidez... reivindicou aos gritos entrada e tratamento VIP nos espetáculos, p/ desespero da organização que, claro, barrou o sujeito."
Esta história exemplifica, justamente, a impossibilidade de a criação continuar. A organização do evento poderia ter dito ao louco ao mendigo: "Você já criou o bastante, agora fora!"
Que o capitalismo é inventor de modos de vida, mais do que produtos, isso já é claro, mas não deixa de surpreender quando ele se reinventa nos mais marginalizados por ele mesmo.
Um estilista percebe que na estética dos mendigos há uma produção singular.
O que ele faz?
Mais do que simplesmente incorporar texturas, cores, recortes, vazios e ritmos das roupas, ele mimetiza o mendigo.
Mais do que a captura da potência inventiva daquele que está na rua e resolve o problema da vestimenta com o que tem e com o que sobra, é a própria experiência do mendigo que precisa ser capturada.
O desfile se torna assim o momento exato em que se interrompe a criação. O desfile que seria o lugar em que se exibe a criação é na verdade o encerramento de uma criacão estética que está no mundo.
Em troca de mensagens no Twitter a Fernanda Bruno lembrou:
"No Rio temos aquele designer-decorador (G Cardia) que decora as festas VIPs c/ móveis "estilo favela"
Num Rio Cena o mesmo decorador fez um mural com rostos de pobres. P/ o seu azar, um deles era louco e em sua radical lucidez... reivindicou aos gritos entrada e tratamento VIP nos espetáculos, p/ desespero da organização que, claro, barrou o sujeito."
Esta história exemplifica, justamente, a impossibilidade de a criação continuar. A organização do evento poderia ter dito ao louco ao mendigo: "Você já criou o bastante, agora fora!"
Que o capitalismo é inventor de modos de vida, mais do que produtos, isso já é claro, mas não deixa de surpreender quando ele se reinventa nos mais marginalizados por ele mesmo.
Found-footage e imagens de arquivo
A principal diferença entre o found footage e o arquivo é que um foi encontrado.
Não existe found footage sem uma tomada de posição em relação aquele footage. O Found-footage não existe sem a montagem, sem a intervenção, sem a escritura.
Já o arquivo é amorfo, é isolado de outras imagens, não pertence a uma narrativa ou a uma montagem, carece de significado.
Não existe found footage sem uma tomada de posição em relação aquele footage. O Found-footage não existe sem a montagem, sem a intervenção, sem a escritura.
Já o arquivo é amorfo, é isolado de outras imagens, não pertence a uma narrativa ou a uma montagem, carece de significado.
18 de jan. de 2010
O PSOL e o Haiti
Esse pessoal do Psol é inacreditável.
A recomendação deles é "cair fora do Haiti" -
O Brasil está "segurando a vaca para os EUA mamarem" (artigo)
Independente da urgência e da necessidade de homens e mulheres treinadas para ajudar em situações como esta, o que por si só deveria calar esse tipo de comentário, o que eles não suportam é estarem em um lugar de disputa, de mediação, de tensão de forças. Ou seja, a política.
A radicalidade do PSOL é justamente um desejo de que a política seja eclipsada.
Twitter do Miltons Temer, por quem tenho real respeito: "Se Minustah não serviu a nada, é hora de o governo Lula retirar nossas tropas do Haiti. Ou o Brasil estará sendo capataz dos EUA, na repressão"
Milton, é o contrário. Quanto mais houver indícios de opressão, maior deve ser a presença brasileira.
Fazer conviver os princípios com a diferença é a radicalidade e a dificuldade da política, é isso que o PSOL desconhece.
A recomendação deles é "cair fora do Haiti" -
O Brasil está "segurando a vaca para os EUA mamarem" (artigo)
Independente da urgência e da necessidade de homens e mulheres treinadas para ajudar em situações como esta, o que por si só deveria calar esse tipo de comentário, o que eles não suportam é estarem em um lugar de disputa, de mediação, de tensão de forças. Ou seja, a política.
A radicalidade do PSOL é justamente um desejo de que a política seja eclipsada.
Twitter do Miltons Temer, por quem tenho real respeito: "Se Minustah não serviu a nada, é hora de o governo Lula retirar nossas tropas do Haiti. Ou o Brasil estará sendo capataz dos EUA, na repressão"
Milton, é o contrário. Quanto mais houver indícios de opressão, maior deve ser a presença brasileira.
Fazer conviver os princípios com a diferença é a radicalidade e a dificuldade da política, é isso que o PSOL desconhece.
UPPs - "Governo" deixa comentário no Blog
As mídias sociais fazem parte da realidade que estamos construindo, acredito, de uma outra democracia, de formas menos verticais de poder.
O que fazem os governos e as empresas? Tentando correr atrás, se inserir nas mídias sociais, se tornam prestadores de serviço, para além do produto, estabelecem diálogos com comunidades, twitteiros, blogueiros etc.
Publiquei neste blog uma entrevista com o escritor Julio Ludemir sobre as UPP. Julio fez uma fala crítica, historicizou o processo, chamou atenção para a especulação imobiliária e para os usos políticos.
Dois dias depois foi deixado um comentário - note que este deve ser o blog menos comentado da internet!
"Gostaríamos de convidá-lo a visitar o site www.upp.rj.gov.br para conhecer melhor as ações das Unidades de Polícia Pacificadora. Na análise que você postou, há algumas informações equivocadas. O Governo do Rio de Janeiro se coloca à disposição para esclarecer qualquer dúvida sobre as UPPs ou qualquer outra política de governo.
Abs,
Equipe de Comunicação Digital."
a assinatura do Comentário é "Governo".
Curioso não? Bem, fui ao site proposto e o que se vê muita propaganda de governo.
Ai está o exemplo de um uso equivocado de uma "Equipe de Comunicação Digital."
Ou essa equipe entra no debate ou não serve para nada.
A tentativa com esse comentário é fazer dos blogs e mídias sociais uma outra forma de poder vertical em que não vale uma voz aqui outra ali. Tudo que o "governo" conseguiu foi me direcionar para o site e dizer que o Julio está equivicado. Onde, no que, etc, não interessa.
Desta forma o governo atua como um controlador, rastreando na internet o que se fala sobre ele para tentar desqualificar sem entrar no debate.
A ação é muito mais reveladora do método - na Mídia e talvez na UPP - do que uma atenção ao que a população está pensando e escrevendo.
O que fazem os governos e as empresas? Tentando correr atrás, se inserir nas mídias sociais, se tornam prestadores de serviço, para além do produto, estabelecem diálogos com comunidades, twitteiros, blogueiros etc.
Publiquei neste blog uma entrevista com o escritor Julio Ludemir sobre as UPP. Julio fez uma fala crítica, historicizou o processo, chamou atenção para a especulação imobiliária e para os usos políticos.
Dois dias depois foi deixado um comentário - note que este deve ser o blog menos comentado da internet!
"Gostaríamos de convidá-lo a visitar o site www.upp.rj.gov.br para conhecer melhor as ações das Unidades de Polícia Pacificadora. Na análise que você postou, há algumas informações equivocadas. O Governo do Rio de Janeiro se coloca à disposição para esclarecer qualquer dúvida sobre as UPPs ou qualquer outra política de governo.
Abs,
Equipe de Comunicação Digital."
a assinatura do Comentário é "Governo".
Curioso não? Bem, fui ao site proposto e o que se vê muita propaganda de governo.
Ai está o exemplo de um uso equivocado de uma "Equipe de Comunicação Digital."
Ou essa equipe entra no debate ou não serve para nada.
A tentativa com esse comentário é fazer dos blogs e mídias sociais uma outra forma de poder vertical em que não vale uma voz aqui outra ali. Tudo que o "governo" conseguiu foi me direcionar para o site e dizer que o Julio está equivicado. Onde, no que, etc, não interessa.
Desta forma o governo atua como um controlador, rastreando na internet o que se fala sobre ele para tentar desqualificar sem entrar no debate.
A ação é muito mais reveladora do método - na Mídia e talvez na UPP - do que uma atenção ao que a população está pensando e escrevendo.
17 de jan. de 2010
"Israel envia missão ao Haiti para analisar ajuda necessária"
EUA está ajudando.
Palestinos ainda não sabem
se irão ajudar .
Haiti, 2010
Gaza, 2009
15 de jan. de 2010
Cinema e vídeo Experimental 60/70 - 5 essenciais.
Ubuweb é um sonho. Não é novidade.
Para quem não conhece, ai vai o link de 5 artistas essências do final dos 60 início dos 70.
Vito Acconci
Marcel Broodthaers
Peter Campus
Hollis Frampton
Cindy Sherman
Para quem não conhece, ai vai o link de 5 artistas essências do final dos 60 início dos 70.
Vito Acconci
Marcel Broodthaers
Peter Campus
Hollis Frampton
Cindy Sherman
13 de jan. de 2010
PNDH3 - Um passo à frente.
Lula "solucionou", hoje, a questão em torno do PNDH da seguinte maneira.
Criou um novo decreto que institui a Comissão Nacional da Verdade.
"Fica criado o grupo de trabalho para elaborar anteprojeto de lei que institua a Comissão Nacional da Vedade, composta de forma plural e suprapartidaria, com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memoria e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional."
Uma das recomendações do PNDH3 era a criação dessa comissão.
No que toca todas as outras questões: comunicação, interrupção voluntária de gravidez, agronegócio, etc. Nada foi ainda feito, ou melhor, tudo foi mantido.
Resumo da ópera, Lula - pelo menos até agora - não alterou o PNDH3, criou uma comissão que atendeu o Ministro Jobim e fez o que o PNDH pedia. Enquanto a mídia queria um passo para trás, Lula deu um passo à frente.
Nas internas - Lula enquadrou Jobim! Você acha que eu vou tocar nesse Programa e abrir o debate com todas as categorias?
Enquanto isso, O Globo diz: "A estratégia definida pelo Palácio do Planalto é de não mexer em mais nada agora, para não evidenciar derrota política "
A frase é absurda! Mexer seria uma derrota política, não só do governo, mas da sociedade que produziu o PNDH3.
A crise do PNDH3 antecipa o que será a campanha. A oposição e a grande mídia batem para depois tentarem entender do que se trata. (Ver posts anteriores 1, 2) O governo finge que cede e toca o barco sem comemorar.
Comentários do Azenha (link)
Criou um novo decreto que institui a Comissão Nacional da Verdade.
"Fica criado o grupo de trabalho para elaborar anteprojeto de lei que institua a Comissão Nacional da Vedade, composta de forma plural e suprapartidaria, com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memoria e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional."
Uma das recomendações do PNDH3 era a criação dessa comissão.
No que toca todas as outras questões: comunicação, interrupção voluntária de gravidez, agronegócio, etc. Nada foi ainda feito, ou melhor, tudo foi mantido.
Resumo da ópera, Lula - pelo menos até agora - não alterou o PNDH3, criou uma comissão que atendeu o Ministro Jobim e fez o que o PNDH pedia. Enquanto a mídia queria um passo para trás, Lula deu um passo à frente.
Nas internas - Lula enquadrou Jobim! Você acha que eu vou tocar nesse Programa e abrir o debate com todas as categorias?
Enquanto isso, O Globo diz: "A estratégia definida pelo Palácio do Planalto é de não mexer em mais nada agora, para não evidenciar derrota política "
A frase é absurda! Mexer seria uma derrota política, não só do governo, mas da sociedade que produziu o PNDH3.
A crise do PNDH3 antecipa o que será a campanha. A oposição e a grande mídia batem para depois tentarem entender do que se trata. (Ver posts anteriores 1, 2) O governo finge que cede e toca o barco sem comemorar.
Comentários do Azenha (link)
PNDH3 - Mudar é ir contra a democracia
O que o governo precisa deixar claro é que o PNDH3 não está em debate. O debate já foi feito. Ele foi apenas apresentado à sociedade para ser encaminhado ao congresso e às instâncias que podem efetivá-lo, ai sim se inicia um novo debate.
Ter 80% de aprovação da população faz com que Lula se torne vacilante, não quer fazer nada que possa suscitar críticas.
Na verdade, o risco é que o governo pare de pensar e continue apenas gerindo as obras.
O Caso do PNDH explicita isso. Lula não tem o direito de mudá-lo. Trata-se de uma produção social e coletiva legitima. Lula deve dar OK para o processo e não discutir o Programa. No momento que diz isso fica isso sai, assume o Programa como se fosse feito pelo governo dele, e não é. Trata-se de um processo independente do estado, apoiado por ele.
O governo se mete em uma fria se resolve entrar na discussão que a mídia quer, ponto por ponto.
O PNDH indica caminhos. Foi feito pela sociedade civil. No momento que for para o congresso a igreja, os militares etc, têm todo o direito de espernear, mas o governo aceitar as críticas agora é absurdo. Mudar o PNDH agora é negar o processo democrático que o gerou.
Ter 80% de aprovação da população faz com que Lula se torne vacilante, não quer fazer nada que possa suscitar críticas.
Na verdade, o risco é que o governo pare de pensar e continue apenas gerindo as obras.
O Caso do PNDH explicita isso. Lula não tem o direito de mudá-lo. Trata-se de uma produção social e coletiva legitima. Lula deve dar OK para o processo e não discutir o Programa. No momento que diz isso fica isso sai, assume o Programa como se fosse feito pelo governo dele, e não é. Trata-se de um processo independente do estado, apoiado por ele.
O governo se mete em uma fria se resolve entrar na discussão que a mídia quer, ponto por ponto.
O PNDH indica caminhos. Foi feito pela sociedade civil. No momento que for para o congresso a igreja, os militares etc, têm todo o direito de espernear, mas o governo aceitar as críticas agora é absurdo. Mudar o PNDH agora é negar o processo democrático que o gerou.
12 de jan. de 2010
Para Sérgio Besserman -
Prezado Sérgio,
admiro seus comentários no Jornal das Dez e por isso gostaria de colocar uma questão de fundo no comentário de hoje.
Quando dizes que o Bolsa família não pode existir indefinidamente, me parece que há ai uma distância das reflexões mais progressistas em relação às possibilidades do capitalismo contemporâneo.
Toda a crítica que se faz ao Bolsa Família ainda é fundada em uma percepção antiga que separa os sujeitos entre empregados ou desempregados, incluidos ou excluidos, uma percepção calcada no fordismo do Séc XX e não no que hoje tantos tem chamado de capitalismo cognitivo. A inclusão nesse novo capitalismo se descolou da noção de crescimento e isso é decisivo para percebermos um outro papel do estado. O estado tornou-se mais que nunca um gestor do excesso do capitalismo que inclui mesmo os excluídos - (banda larga na favela, celular de graça até para desempregado, dvd e acesso a bens digitais aos trabalhadores informais).
Me parece que não podemos ter nostalgia da disciplina e orientar o que desejamos para o país a partir apenas de mais desenvolvimento, mais indústrias, etc.
O desafio é justamente pensarmos uma além do emprego - o que significa muito trabalho -, um além da indústria, trata-se de uma percepção de que a vida é valor em si.
Entendo o Bolsa Família como parte de uma sociedade de plena atividade sem pleno emprego. (me refiro aqui ao excelente livro de Giuseppe Cocco, que deves conhecer, MundoBraz) O bolsa família é o embrião do que há de mais avançado, no meu entender, em termos de potencialização da criação e das invenção humana que a a idéia de uma renda mínima universal, defendida durante alguns anos pelo sen. Suplicy.
Desculpe-me se me alongo, gostaria apenas de compartilhar a preocupação com o país, a partir de um outro ponto de vista.
Meu cordial abraço
Cezar Migliorin
admiro seus comentários no Jornal das Dez e por isso gostaria de colocar uma questão de fundo no comentário de hoje.
Quando dizes que o Bolsa família não pode existir indefinidamente, me parece que há ai uma distância das reflexões mais progressistas em relação às possibilidades do capitalismo contemporâneo.
Toda a crítica que se faz ao Bolsa Família ainda é fundada em uma percepção antiga que separa os sujeitos entre empregados ou desempregados, incluidos ou excluidos, uma percepção calcada no fordismo do Séc XX e não no que hoje tantos tem chamado de capitalismo cognitivo. A inclusão nesse novo capitalismo se descolou da noção de crescimento e isso é decisivo para percebermos um outro papel do estado. O estado tornou-se mais que nunca um gestor do excesso do capitalismo que inclui mesmo os excluídos - (banda larga na favela, celular de graça até para desempregado, dvd e acesso a bens digitais aos trabalhadores informais).
Me parece que não podemos ter nostalgia da disciplina e orientar o que desejamos para o país a partir apenas de mais desenvolvimento, mais indústrias, etc.
O desafio é justamente pensarmos uma além do emprego - o que significa muito trabalho -, um além da indústria, trata-se de uma percepção de que a vida é valor em si.
Entendo o Bolsa Família como parte de uma sociedade de plena atividade sem pleno emprego. (me refiro aqui ao excelente livro de Giuseppe Cocco, que deves conhecer, MundoBraz) O bolsa família é o embrião do que há de mais avançado, no meu entender, em termos de potencialização da criação e das invenção humana que a a idéia de uma renda mínima universal, defendida durante alguns anos pelo sen. Suplicy.
Desculpe-me se me alongo, gostaria apenas de compartilhar a preocupação com o país, a partir de um outro ponto de vista.
Meu cordial abraço
Cezar Migliorin
Lula não tem o direito de alterar o PNDH III
Lula pode não se engajar na efetivação de todos os pontos do PNDH III, mas não cabe a ele tirar esse ou aquele tema. Isso é um texto formulado na base, com conferências e milhares de pessoas engajadas, ao presidente cabe assinar o processo como um todo ou não assinar. O presidente não está ali para julgar os pontos mas para entender a demanda da sociedade e se esforçar para transformá-los em realidade, ou não.
11 de jan. de 2010
As Bolsas
Barco nobags
Fábrica de Bolsas na China.
Algumas imagens carecem de pessoas. Outras não.
Algumas dispensam leitores, outras não.
Grande mídia e oposição antecipam o tom da campanha com as críticas ao Plano Nacional de Direitos Humanos.
Dois pontos Centrais:
1 -Ganha espaço no debate pessoas como a Senadora Kátia Abreu.
Participante do lobby dos latifundiários, a senadora é capaz de escrever coisas como:
"Rússia e o Canadá têm florestas, só que naqueles países as condições climáticas não favorecem a expansão agrícola." Ou seja, como aqui as condições climáticas favorecem.... Corta a floresta!
"Governo usou plano dos direitos humanos para ressuscitar seus demonios de um socialismo radical e totalitario.Viva a democracia!Liberdade!Lei"
Aspásia Camargo, por exemplo, chama a luta armada de terrorista. No mínimo uma ignorância conceitual. O Luis Eduardo Soares em seu Twitter pergunta: "A resistência anti-franquista era "terrorismo", @AspasiaCamargo ? A resistência francesa anti-nazista era "terrorismo" ?"
2 -A grande mídia baseia suas críticas em profunda ignorância.
Reclama que não houve debate - Enquanto o programa teve a participação de 14 mil pessoas
Não entende que o PNDH é um programa de intenções e não tem ação imediata.
Não entende que Lula precisa assinar pois foi o resultado de um processo de participação democrática.
Desconhecem que os PNDH I e II, feitos na era FH Cardoso, tem muitos pontos em comum com o PNDH III.
Willian Waak e um dos meninos da Veja perguntam se se trata de uma nova constituição. - Desconhecem o funcionamento dos processos democráticos fundados em participação popular e conferências.
É com esse nível de debate, desinteressado pelas questões de fundo, que a mídia pautará 2010.
1 -Ganha espaço no debate pessoas como a Senadora Kátia Abreu.
Participante do lobby dos latifundiários, a senadora é capaz de escrever coisas como:
"Rússia e o Canadá têm florestas, só que naqueles países as condições climáticas não favorecem a expansão agrícola." Ou seja, como aqui as condições climáticas favorecem.... Corta a floresta!
"Governo usou plano dos direitos humanos para ressuscitar seus demonios de um socialismo radical e totalitario.Viva a democracia!Liberdade!Lei"
Aspásia Camargo, por exemplo, chama a luta armada de terrorista. No mínimo uma ignorância conceitual. O Luis Eduardo Soares em seu Twitter pergunta: "A resistência anti-franquista era "terrorismo", @AspasiaCamargo ? A resistência francesa anti-nazista era "terrorismo" ?"
2 -A grande mídia baseia suas críticas em profunda ignorância.
Reclama que não houve debate - Enquanto o programa teve a participação de 14 mil pessoas
Não entende que o PNDH é um programa de intenções e não tem ação imediata.
Não entende que Lula precisa assinar pois foi o resultado de um processo de participação democrática.
Desconhecem que os PNDH I e II, feitos na era FH Cardoso, tem muitos pontos em comum com o PNDH III.
Willian Waak e um dos meninos da Veja perguntam se se trata de uma nova constituição. - Desconhecem o funcionamento dos processos democráticos fundados em participação popular e conferências.
É com esse nível de debate, desinteressado pelas questões de fundo, que a mídia pautará 2010.
10 de jan. de 2010
Merval Pereira e William Waack - incompetência para a crítica
Merval Pereira acusa o PT de esquerdismo!
Em artigo no Globo de Domingo, ele faz uma relação entre o PNDH 3, assinado por Lula e a Carta de Olinda, parte do programa do PT de 2002. O que ele ignora é que boa parte do esquerdismo, estava presente no PNDH 2, assinado por FH Cardoso.
O mesmo aconteceu na Globo News.
William Waack fez ontem um programa em que ele estava indignado. O problema é que ele não sabia o que era o decreto. Começa o programa dizendo isso: "O decreto coloca em funcionamento, execução, não sei bem qual é melhor palavra..."
A primeira pergunta de Waack é se o decreto é uma nova constituição. (ninguém ri no programa)
Nesse mesmo programa, José Gregori, ex-ministro de FH Cardoso defende o PNDH, até porque ele foi responsável pelo primeiro PNDH. Mas começa o programa dizendo que não estudo o terceiro plano.
Em artigo no Globo de Domingo, ele faz uma relação entre o PNDH 3, assinado por Lula e a Carta de Olinda, parte do programa do PT de 2002. O que ele ignora é que boa parte do esquerdismo, estava presente no PNDH 2, assinado por FH Cardoso.
O mesmo aconteceu na Globo News.
William Waack fez ontem um programa em que ele estava indignado. O problema é que ele não sabia o que era o decreto. Começa o programa dizendo isso: "O decreto coloca em funcionamento, execução, não sei bem qual é melhor palavra..."
A primeira pergunta de Waack é se o decreto é uma nova constituição. (ninguém ri no programa)
Nesse mesmo programa, José Gregori, ex-ministro de FH Cardoso defende o PNDH, até porque ele foi responsável pelo primeiro PNDH. Mas começa o programa dizendo que não estudo o terceiro plano.
O desejo asfixiado, Bernard Stiegler (Alguns Comentários)
Em O desejo asfixiado, artigo publicado no Le Monde Diplomatique, o filósofo francês Bernard Stiegler recorre a Deleuze, esvaziando a complexidade de seu pensamento sobre o capitalismo, para poder criticar a indústria cultural contemporânea. Para Stiegler a Sociedade de Controle é formado com um poder central e hierarquizado, só dessa maneira é possível pensar os mídias como um poder que pode se sobrepor à toda forma humana.
Stiegler desconsidera as múltiplas formas de interagir com os meios de comunicação, com a TV ou com os games. Provavelmente ainda não teve a chance de jogar Rock Band com o neto ou ouvir a discussão sobre a novela na fila do banco.
A demonização ingênua da indústria cultural, chamada por ele de “ máquina de aniquilamento do eu”, só pode ser entendida se o filósofo produz, antes dos meios, o aniquilamento desses “eus”. Para Stiegler, um programa de televisão que humilha a inteligência do espectador, o que sabemos é corrente, é recebido sem crítica, sem interferência por essa mesmo vida. Eis o equívoco central. O filósofo aceita o lugar que a TV coloca o público como se o público nada pudesse diante da TV.
Stiegler faz ainda uma leitura torta de Simondon. Voltando à noção de individuação, que como sabemos é parte da formação dos indivíduos à partir de um fundo coletivo e pré-individual, Stiegler ignora justamente que Simondon ajudou Deleuze, e nos ajuda ainda, a pensar a uma potência humana inapreensível pela mídia e pelo capitalismo.
A vida é o que está em jogo nesse capitalismo, Foucault deixou-nos isso muito claro, , ela é, ambiguamente, apropriada e resistência. Dizer, como faz Stiegler, que o que o marketing faz é “transformar o cotidiano e padronizar as existências” é fácil, o difícil é ver onde isso fracassa, onde as vidas se impõem. Eis o desafio intelectual, bastante mais complexo e árduo, para além de um simplório discurso que vê o “eclipse da política” como se diante das TVs houvesse apenas objetos manipuláveis.
Medidas sobre Comunicação do PNDH II assinado por FH Cardoso
Em 2002 o então presidente FH Cardoso assinou o Programa Nacional dos Direitos Humanos com as seguintes diretrizes para a Comunicação"
Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e televisão, regulamentar o uso dos meios de comunicação social e coibir práticas contrárias aos direitos humanos.
Garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos.
Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e televisão, regulamentar o uso dos meios de comunicação social e coibir práticas contrárias aos direitos humanos.
Garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos.
8 de jan. de 2010
comentários
Eu havia retirado a possibilidade do leitor deixar comentários. Me deprimia aqueles posts sem 1 comentário.
Sem a possibilidade dos comentários eu podia imaginar um monte de gente querendo comentar. Mas a única leitura desse blog me falou - Filhinho, deixa o espaço lá para os comentários. Ai está!
Sem a possibilidade dos comentários eu podia imaginar um monte de gente querendo comentar. Mas a única leitura desse blog me falou - Filhinho, deixa o espaço lá para os comentários. Ai está!
Bolsa família e escravidão
Um dos ótimos momentos do novo livro do Giuseppe Cocco, MundoBraz, é quando ele faz um apanhado na mídia das críticas ao Bolsa Família.
No final do século XIX, antes e depois o final da escravidão no país, ainda se discutia a legitimidade ou não da escravidão. Talvez o Brasil não tivesse condições econômicas para suportar o fim da escravidão. Questionar a abolição e o direito dos negros serem cidadãos era algo aceitável. Hoje, o debate seria absurdo, claro.
O Bolsa Família vai na mesma direção. Hoje ainda precisamos debater, argumentar, mostrar que o capitalismo mudou, que o emprego não organiza mais o social, que o Bolsa Família libera as pessoas para a criação, para a educação e que, ao contrário do que dizem os setratores, não "vicia". Precisamos a todo momento falar da urgência que a pobreza exige e dos ganhos na saúde, educação e na economia que esse programa trouxe.(ver relatórios do IPEA)Precisamos tentar explicar a diferença entre assistencialismo e o que há de mais progressista em termos de ação social libertária, como enfatiza o Cocco, algo difícil de entender tanto para uma parte da esquerda quanto para a direita que ainda associam igualdade social com desenvolvimento e, pior, liberdade com a opressão do trabalho fabril. Para desespero dos velhos marxistas, essa transformação profunda se faz no interior do capitalismo e sem a revolução.
Pois, tudo isso e muito mais, que ainda nos ocupa, que ainda é parte de uma necessidade retórica, se tornará tão antigo e absurdo quanto um debate sobre se a escravidão deve ou não existir. Até lá, vamos a luta.
No final do século XIX, antes e depois o final da escravidão no país, ainda se discutia a legitimidade ou não da escravidão. Talvez o Brasil não tivesse condições econômicas para suportar o fim da escravidão. Questionar a abolição e o direito dos negros serem cidadãos era algo aceitável. Hoje, o debate seria absurdo, claro.
O Bolsa Família vai na mesma direção. Hoje ainda precisamos debater, argumentar, mostrar que o capitalismo mudou, que o emprego não organiza mais o social, que o Bolsa Família libera as pessoas para a criação, para a educação e que, ao contrário do que dizem os setratores, não "vicia". Precisamos a todo momento falar da urgência que a pobreza exige e dos ganhos na saúde, educação e na economia que esse programa trouxe.(ver relatórios do IPEA)Precisamos tentar explicar a diferença entre assistencialismo e o que há de mais progressista em termos de ação social libertária, como enfatiza o Cocco, algo difícil de entender tanto para uma parte da esquerda quanto para a direita que ainda associam igualdade social com desenvolvimento e, pior, liberdade com a opressão do trabalho fabril. Para desespero dos velhos marxistas, essa transformação profunda se faz no interior do capitalismo e sem a revolução.
Pois, tudo isso e muito mais, que ainda nos ocupa, que ainda é parte de uma necessidade retórica, se tornará tão antigo e absurdo quanto um debate sobre se a escravidão deve ou não existir. Até lá, vamos a luta.
As UPPs - Conversa com Julio Ludemir
O Julio Ludemir é antes de tudo um amigo que conhece muito o Rio de Janeiro. Já escreveu sobre a Rocinha e sobre o Comando Vermelho, livros marcantes em torno das disputas que existem na cidade.
Como tenho andando muito intrigado sobre a atuação do Estado nas favelas, sobretudo em relação à aceitação e a tranqüilidade com que os morros forma “pacificados”, como gosta de dizer a grande mídia. Falei com o Julio e coloquei para ele 3 perguntas que sobre a UPPs.
Porque há tão pouco confronto em relação às UPPs?
Julio Ludemir - Já fui um observador mais atento da cena carioca, indo fisicamente a todos os lugares onde se travavam os grandes enfrentamentos entre os poderes paralelos e oficiais. Não faço mais isso porque sou mais um artista do que um sociólogo ou mesmo um jornalista. Mesmo à distância, tenho a sensação narcísica de que está se confirmando a tese na qual sempre acreditei: o poder militar do tráfico é uma balela difundida pelo principal interessado em sua permanência, que é a polícia. A mercadoria ilícita mais comercializada no Rio de Janeiro, mesmo no auge da cocaína, é a mercadoria política, que as três polícias se digladiam, numa guerra muito vezes mais sangrenta do que os combates travados pelas facções pelos pontos de venda de droga. Não há uma favela carioca cujo tráfico se imponha à vontade da polícia, paga regiamente com propinas semanais pelos chamados donos.
O Rio de Janeiro não é uma Colômbia ou mesmo Bolívia, países nos quais há imensas áreas dominadas pelo poder paralelo no meio da inóspita floresta amazônica ou mesmo da cordilheira dos Andes. Aqui no Rio de Janeiro, o tráfico se enquistou em um lugar tão próximo e acessível quanto o Cantagalo, o Pavão/Pavãozinho, o Santa Marta e Chapéu Mangueira, todos hoje dominados sem resistência pela polícia militar. Esses morros não têm mais do que três saídas, fora a mata atlântica. Não têm como oferecer resistência além de uma semana ou duas.
A escalada das milícias, que lambeu as favelas e conjuntos residenciais principalmente da zona oeste, já havia mostrado isso.
Que cidade é essa que as UPPs estão criando?
Julio Ludemir - Fiquei chocado com as manchetes dos jornais cariocas, que estão vendendo para a opinião pública, com as mesmas letras garrafais que anunciavam o holocausto do poder paralelo, a pacificação da cidade maravilhosa. Na verdade, as UPPs só foram instaladas nas favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro, devolvendo à arrogante classe média carioca o sonho de que vive numa espécie de principado de Mônaco, ilhado de todos os problemas socioeconômicos inerentes a uma cidade perversa como a nossa.
Em sua tacanhice, essa elite formulou inúmeras estratégias para se livrar dos pretos e paraíbas de que precisa para lavar suas privadas e cuidar de suas crianças mimadas, além de fazer sua segurança. Depois da política de criação dos parques proletários do estado novo, de que a cruzada de São Sebastião é o único símbolo, a Zona Sul carioca sonhou com a remoção das favelas até a chegada de Brizola ao governo do estado, cuja gestão foi tão contestada midiaticamente quanto a de Lula e o PT.
Embora nem todas as favelas removidas tenham dado lugar a conjuntos habitacionais de classe média, parece-me óbvio que o sonho dourado da RJZ e congêneres é promover uma expulsão branca das comunidades que conseguiram resistir à ameaça da polícia, mas que com certeza não deixará de ser seduzida pelo dinheiro da inevitável especulação imobiliária que já vinha acontecendo nas favelas da Zona Sul, que só fizeram crescer com a chegada das UPPs. Para quem não sabe, um empresário europeu já está comprando inúmeras casas do Vidigal, para construir um complexo turístico com aquela paradisíaca vista.
Os gringos que fizeram da Rocinha um dos roteiros turísticos mais visitados do país também estão comprando casas nas favelas. A Tavares Bastos ocupada, há quase uma década pelo BOPE, já tem uma noite em torno do agradável pub do Bob, um ex-correspondente da BBC. Há uma feijoada no Chapéu Mangueira que também está atraindo a classe média. Por fim, vale lembrar o encantamento do tripé gringos, classe média e mídia para os reveillons organizados no pacificado complexo Pavão/Pavãozinho/Cantagallo.
Caso as UPPs não sejam apenas uma obra eleitoreira e se consolidem nos próximos governos, acontecerá com essas favelas o mesmo fenômeno que já ocorreu na Lapa e em Botafogo. Onde está a malandragem da Lapa? eles sumiram, sem nenhuma intervenção policial, sem nenhuma batalha sangrenta, desde que a Lapa foi ocupada por aquele complexo de bares, restaurantes e outros espaços destinados à classe média carioca. Cadê os portugueses que ocupavam o casario em torno do Estação Botafogo? Também sumiram com a mesma especulação imobiliária já em curso nas favelas da zona sul carioca.
Esse tipo de ação é uma novidade?
Julio Ludemir - As UPPs são uma reedição das ocupações promovidas na década de 1990, pelo governo de Marcello Alencar. Acompanhei grande parte do processo do Acari por conta da amizade que fiz com o antropólogo Marcos Alvito, autor do clássico “As cores de Acari”. Como se pode ver no livro de Alvito, o tráfico foi expulso quase sem resistência do Acari, espalhando-se pelas favelas das redondezas. A ocupação agradou não apenas a classe média, como a própria população. Só que essa ocupação não se sustentou e cinco anos depois o Acari voltou a ser não apenas a capital do terceiro comando puro, como o epicentro de uma guerra entre o terceiro comando puro e a Amigos dos Amigos.
Tanto o oba-oba quanto as críticas feitas às UPPs parecem um remake das ocupações que se seguiram à chamada O Rio, cujo símbolo maior foi a estúpida subida de um tanque de guerra pelas estreitas ladeiras do Morro do Adeus, em Bonsucesso. Já naquela época se dizia que não existia vontade política, dinheiro e mão-de-obra para sustentar aquelas operações por tempo indefinido. Passadas as eleições, primeiro a Polícia Civil compartilhou a ocupação com a polícia militar, para depois deixar aquelas favelas sob o controle da mesma PM que hoje comanda as Upps. Vi com meus próprios olhos a gradual retomada de áreas da favela pelo tráfico durante os anos em que ia todos os fins de semana jogar futebol na quadra de areia da favela.
Há, porém, grandes diferenças em relação a essas ocupações, que nos permitem acreditar que elas pelo menos podem ter uma vida longa. Uma delas é o incremento de ações sociais nessas favelas, coalhadas de ONGs cujas ações são cada vez mais eficientes. Também não podemos deixar de levar em consideração que vivemos um outro momento socioeconômico. Por fim, poderíamos falar que a copa de 2014 e as olimpíadas de 2016 exigem uma nova cidade, mas isso não me traz maiores ilusões, pois o Rio de Janeiro vem mostrando desde a eco 92 que os poderes oficiais e paralelos sabem negociar muito durante os grandes eventos internacionais.
Como tenho andando muito intrigado sobre a atuação do Estado nas favelas, sobretudo em relação à aceitação e a tranqüilidade com que os morros forma “pacificados”, como gosta de dizer a grande mídia. Falei com o Julio e coloquei para ele 3 perguntas que sobre a UPPs.
Porque há tão pouco confronto em relação às UPPs?
Julio Ludemir - Já fui um observador mais atento da cena carioca, indo fisicamente a todos os lugares onde se travavam os grandes enfrentamentos entre os poderes paralelos e oficiais. Não faço mais isso porque sou mais um artista do que um sociólogo ou mesmo um jornalista. Mesmo à distância, tenho a sensação narcísica de que está se confirmando a tese na qual sempre acreditei: o poder militar do tráfico é uma balela difundida pelo principal interessado em sua permanência, que é a polícia. A mercadoria ilícita mais comercializada no Rio de Janeiro, mesmo no auge da cocaína, é a mercadoria política, que as três polícias se digladiam, numa guerra muito vezes mais sangrenta do que os combates travados pelas facções pelos pontos de venda de droga. Não há uma favela carioca cujo tráfico se imponha à vontade da polícia, paga regiamente com propinas semanais pelos chamados donos.
O Rio de Janeiro não é uma Colômbia ou mesmo Bolívia, países nos quais há imensas áreas dominadas pelo poder paralelo no meio da inóspita floresta amazônica ou mesmo da cordilheira dos Andes. Aqui no Rio de Janeiro, o tráfico se enquistou em um lugar tão próximo e acessível quanto o Cantagalo, o Pavão/Pavãozinho, o Santa Marta e Chapéu Mangueira, todos hoje dominados sem resistência pela polícia militar. Esses morros não têm mais do que três saídas, fora a mata atlântica. Não têm como oferecer resistência além de uma semana ou duas.
A escalada das milícias, que lambeu as favelas e conjuntos residenciais principalmente da zona oeste, já havia mostrado isso.
Que cidade é essa que as UPPs estão criando?
Julio Ludemir - Fiquei chocado com as manchetes dos jornais cariocas, que estão vendendo para a opinião pública, com as mesmas letras garrafais que anunciavam o holocausto do poder paralelo, a pacificação da cidade maravilhosa. Na verdade, as UPPs só foram instaladas nas favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro, devolvendo à arrogante classe média carioca o sonho de que vive numa espécie de principado de Mônaco, ilhado de todos os problemas socioeconômicos inerentes a uma cidade perversa como a nossa.
Em sua tacanhice, essa elite formulou inúmeras estratégias para se livrar dos pretos e paraíbas de que precisa para lavar suas privadas e cuidar de suas crianças mimadas, além de fazer sua segurança. Depois da política de criação dos parques proletários do estado novo, de que a cruzada de São Sebastião é o único símbolo, a Zona Sul carioca sonhou com a remoção das favelas até a chegada de Brizola ao governo do estado, cuja gestão foi tão contestada midiaticamente quanto a de Lula e o PT.
Embora nem todas as favelas removidas tenham dado lugar a conjuntos habitacionais de classe média, parece-me óbvio que o sonho dourado da RJZ e congêneres é promover uma expulsão branca das comunidades que conseguiram resistir à ameaça da polícia, mas que com certeza não deixará de ser seduzida pelo dinheiro da inevitável especulação imobiliária que já vinha acontecendo nas favelas da Zona Sul, que só fizeram crescer com a chegada das UPPs. Para quem não sabe, um empresário europeu já está comprando inúmeras casas do Vidigal, para construir um complexo turístico com aquela paradisíaca vista.
Os gringos que fizeram da Rocinha um dos roteiros turísticos mais visitados do país também estão comprando casas nas favelas. A Tavares Bastos ocupada, há quase uma década pelo BOPE, já tem uma noite em torno do agradável pub do Bob, um ex-correspondente da BBC. Há uma feijoada no Chapéu Mangueira que também está atraindo a classe média. Por fim, vale lembrar o encantamento do tripé gringos, classe média e mídia para os reveillons organizados no pacificado complexo Pavão/Pavãozinho/Cantagallo.
Caso as UPPs não sejam apenas uma obra eleitoreira e se consolidem nos próximos governos, acontecerá com essas favelas o mesmo fenômeno que já ocorreu na Lapa e em Botafogo. Onde está a malandragem da Lapa? eles sumiram, sem nenhuma intervenção policial, sem nenhuma batalha sangrenta, desde que a Lapa foi ocupada por aquele complexo de bares, restaurantes e outros espaços destinados à classe média carioca. Cadê os portugueses que ocupavam o casario em torno do Estação Botafogo? Também sumiram com a mesma especulação imobiliária já em curso nas favelas da zona sul carioca.
Esse tipo de ação é uma novidade?
Julio Ludemir - As UPPs são uma reedição das ocupações promovidas na década de 1990, pelo governo de Marcello Alencar. Acompanhei grande parte do processo do Acari por conta da amizade que fiz com o antropólogo Marcos Alvito, autor do clássico “As cores de Acari”. Como se pode ver no livro de Alvito, o tráfico foi expulso quase sem resistência do Acari, espalhando-se pelas favelas das redondezas. A ocupação agradou não apenas a classe média, como a própria população. Só que essa ocupação não se sustentou e cinco anos depois o Acari voltou a ser não apenas a capital do terceiro comando puro, como o epicentro de uma guerra entre o terceiro comando puro e a Amigos dos Amigos.
Tanto o oba-oba quanto as críticas feitas às UPPs parecem um remake das ocupações que se seguiram à chamada O Rio, cujo símbolo maior foi a estúpida subida de um tanque de guerra pelas estreitas ladeiras do Morro do Adeus, em Bonsucesso. Já naquela época se dizia que não existia vontade política, dinheiro e mão-de-obra para sustentar aquelas operações por tempo indefinido. Passadas as eleições, primeiro a Polícia Civil compartilhou a ocupação com a polícia militar, para depois deixar aquelas favelas sob o controle da mesma PM que hoje comanda as Upps. Vi com meus próprios olhos a gradual retomada de áreas da favela pelo tráfico durante os anos em que ia todos os fins de semana jogar futebol na quadra de areia da favela.
Há, porém, grandes diferenças em relação a essas ocupações, que nos permitem acreditar que elas pelo menos podem ter uma vida longa. Uma delas é o incremento de ações sociais nessas favelas, coalhadas de ONGs cujas ações são cada vez mais eficientes. Também não podemos deixar de levar em consideração que vivemos um outro momento socioeconômico. Por fim, poderíamos falar que a copa de 2014 e as olimpíadas de 2016 exigem uma nova cidade, mas isso não me traz maiores ilusões, pois o Rio de Janeiro vem mostrando desde a eco 92 que os poderes oficiais e paralelos sabem negociar muito durante os grandes eventos internacionais.
7 de jan. de 2010
Bolsa Família e o Capitalismo Contemporâneo
Já comentei - 1 2 -a RMU (Renda Mínina Universal) e, lendo o livro novo do Giuseppe Cocco, Mundobraz, volto a pensar no Bolsa família, semente do RMU, e os programas do gênero.
Além da importância, na urgência da pobreza, o Bolsa Família prepara o país para o que é o capitalismo contemporâneo em que o ideal do pleno emprego foi definitivamente riscado do mapa. O emprego não é mais agregador e organizador social como no capitalismo fordista, é para isso que temos que estar preparados.
O atual governo, me parece, desenvolve um gigantesco trabalho, na estruturação de um programa com tais dimensões. Tal estrutura tem um valor ainda não calculável. É com ela que esse e futuros governos poderão pensar ações que serão cada vez mais necessárias, diretamente ligadas a novas formas de financiamento da criação coletiva. É isso que fará a diferença entre países no capitalismo globalizado.
Veja, muito alêm de um programa contra a pobreza, estamos inventado formas de o estado participar de outras formas de "integração social" que não passam mais pelas tradicionais formas que faziam a clivagem entre emprego e o desemprego. Eis o desafio estrutral e teórico: pensar e dar conta de uma era em que o traballho se multiplicou em mil "independências" e precariedades.
Além da importância, na urgência da pobreza, o Bolsa Família prepara o país para o que é o capitalismo contemporâneo em que o ideal do pleno emprego foi definitivamente riscado do mapa. O emprego não é mais agregador e organizador social como no capitalismo fordista, é para isso que temos que estar preparados.
O atual governo, me parece, desenvolve um gigantesco trabalho, na estruturação de um programa com tais dimensões. Tal estrutura tem um valor ainda não calculável. É com ela que esse e futuros governos poderão pensar ações que serão cada vez mais necessárias, diretamente ligadas a novas formas de financiamento da criação coletiva. É isso que fará a diferença entre países no capitalismo globalizado.
Veja, muito alêm de um programa contra a pobreza, estamos inventado formas de o estado participar de outras formas de "integração social" que não passam mais pelas tradicionais formas que faziam a clivagem entre emprego e o desemprego. Eis o desafio estrutral e teórico: pensar e dar conta de uma era em que o traballho se multiplicou em mil "independências" e precariedades.
6 de jan. de 2010
"Pessoalmente, digo: dane-se o desenvolvimento." - Viveiro de Castro
No ótimo livro Cultura Digital, a Azougue republicou uma entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiro de Castro, um dos mais importantes intelectuais brasileiros.
É uma entrevista engajada e reveladora, atenta aos lugares em que o país e o mundo estão efetivamente disputando os espaços e as sensibilidades. Assim como faz em seus artigos, o Viveiro de Castro convoca pensadores como Deleuze, Guatarri e Foucault para pensar a Amazônia e o mundo.
A entrevista ajuda ainda a pensarmos o modelo de país/mundo que desejamos e escolhemos cotidianamente.
Provocador, ele nos diz coisas como:
"Pessoalmente, digo: dane-se o desenvolvimento."
"Quem se preocupa com identidade, de língua, cultura, seja do que fôr, já “perdeu”."
O problema nacional é um problema da elite para a elite pela elite. O chamado “povo” está preocupado com outra coisa...
"Para o bem ou para o mal, a Amazônia virou o Lugar dos lugares, natural como cultural, alias; é lá que está sendo cozinhado um gigantesco guisado cultural, e que daqui nós não temos a menor idéia do que está se passando."
Como dizia o Glauber, quem ainda não leu está por fora.
É uma entrevista engajada e reveladora, atenta aos lugares em que o país e o mundo estão efetivamente disputando os espaços e as sensibilidades. Assim como faz em seus artigos, o Viveiro de Castro convoca pensadores como Deleuze, Guatarri e Foucault para pensar a Amazônia e o mundo.
A entrevista ajuda ainda a pensarmos o modelo de país/mundo que desejamos e escolhemos cotidianamente.
Provocador, ele nos diz coisas como:
"Pessoalmente, digo: dane-se o desenvolvimento."
"Quem se preocupa com identidade, de língua, cultura, seja do que fôr, já “perdeu”."
O problema nacional é um problema da elite para a elite pela elite. O chamado “povo” está preocupado com outra coisa...
"Para o bem ou para o mal, a Amazônia virou o Lugar dos lugares, natural como cultural, alias; é lá que está sendo cozinhado um gigantesco guisado cultural, e que daqui nós não temos a menor idéia do que está se passando."
Como dizia o Glauber, quem ainda não leu está por fora.
4 de jan. de 2010
Lula - o Filho do Brasil, um herói por acaso.
Admiro a coragem dos Barretos em fazer esse filme. Claro, ele parte de uma grande possibilidade de sucesso, retorno financeiro, etc, mas me parece ingênuo entender o filme apenas sob esse aspecto. Trata-se de uma ação de produtor que decide jogar alto, narrar a vida do presidente em exercício. Por mais épica e heróica que seja essa vida, Lula é o presidente que está ali; político, enfrentando crises, alvo de adversários diversos, governando, fazendo acordos e, ao mesmo tempo, sendo tratado como um pop star por boa parte dos brasileiro.
Toda essa dimensão extra-fílmica assume um papel enorme. Preciso confessar que me emocionei algumas vezes enquanto Lula é Luis Inácio, ainda criança, certamente por conta da forma como o filme me reconecta com uma história que me emociona antes do filme. Duvido que aqueles que guardam antipatia em relação à Lula sintam o mesmo - vou perguntar para os meus 2 ou 3 consultores do contra e depois aviso.
O risível do filme é o esvaziamento político. Lula vira o que é para satisfazer a mãe e por conta de uma grande dose de acaso. O problema é a superação, a insistência, a vitória. Na verdade, politicamente Lula é
tratado quase como um pelego, está sempre tentando ficar longe das confusões, como pede sua mãe. O Lula herói dos Barretos poderia ser cantor sertanejo ou presidente da Volks, tanto faz, ideológica e politicamente não há nada no filme que justifique o caminho do sindicato e da política e não outro. Lula vai para a cadeia porque é macho, entra na política porque sobe em um caminhão, avisa os companheiros que não há esquerda e direita, apenas trabalhadores e por ai vai. Como um Chaplin que sem querer se torna líder de uma manifestação operária ou assume o papel de do ditador para fazer um discurso pacifista, em Lula, filho do Brasil é assim que Lula se torna presidente. Trabalhador, confiável, inteligente e, sobretudo disponível.
Na verdade, se vemos o filme como a história de Lula contada por sua mãe ele se torna mais interessante, o problema é que a visão da mãe, apesar de ser o fio condutor, não é assumida como uma visão parcial, daquela que vê na vida do filho apenas o que quer, mas como a vida de Lula MESMO. O filme conta a vida de Lula como se nunca tivesse havido nada mais que um "Lula paz e amor". Pretende-se que a imagem que hoje interessa o marketing esteve presente em toda a história do Lula; sem embates, sem posicionamentos decisivos. Felizmente não é isso que faz de Lula o presidente que ele é hoje.
(Tempos Modernos, de Chaplin, Posse de Lula 2003, A greve, de Eisenstein - Esse plano do russo é reproduzido em Lula, filho do Brasil, uma citação singela. O que o filme não faz, justamente, é pensar a história como um problema de montagem, de aproximação entre eventos e fatos eventualmente separados no tempo e no espaço.)
3 de jan. de 2010
Jornalismo para dizer o que bem entender
Tarso Genro diz que Dilma não é 'mandona'
Se ele não disse e ainda nega, porque é essa a manchete do O Globo?
É o talento do jornalista em transformar a pergunta em manchete.
Controlar a linguagem
Controlar a linguagem é a ação mais eficaz para que se diga o que o contexto permite e não o que queremos ou precisamos dizer.
No Globo, ainda sobre Angra e os deslizamentos:
"Prefeitura faz apelo à Eletronuclear após surgir fenda na rodovia. Estatal diz que decisão é da Defesa Civil e não vê necessidade de desligar agora. Angra 1 e Angra 2 só podem funcionar se plano de emergência puder ser acionado."
Em nenhum momento, se a empresa fosse privada, no lugar de Estatal estaria "privada" ou qualquer palavra que caracteriza-se o pertencimento da empresa ao setor.
No Globo, ainda sobre Angra e os deslizamentos:
"Prefeitura faz apelo à Eletronuclear após surgir fenda na rodovia. Estatal diz que decisão é da Defesa Civil e não vê necessidade de desligar agora. Angra 1 e Angra 2 só podem funcionar se plano de emergência puder ser acionado."
Em nenhum momento, se a empresa fosse privada, no lugar de Estatal estaria "privada" ou qualquer palavra que caracteriza-se o pertencimento da empresa ao setor.
Gambiarras Urbanas Antimendigos
Recebi do Leo Sette uma seqüência de fotos de dispositivos colocados nas ruas de Paris para evitar que os chamados SDF (sem domicílio fixo) possam se instalar.
Veja: Imagens
Uma compilação dessas, mesmo sem legenda, mesmo sem montagem com outras imagens, mesmo sem contexto, aspira ser uma crítica aos dispositivos. Colocados juntos vemos o higienismo espalhado pela cidade. Vemos a defesa dos espaços privados.
No Rio de Janeiro isso ficou muito presente quando no início dos anos 90 os prédios foram gradeados. Muitos prédios dos anos 50, 60 e 70 possuíam entradas em que entre a rua e o prédio havia uma passagem, uma área que não era mais rua, mas também não era só d prédio. Pequenos jardins ou simples recuos que funcionavam como um pedido de desculpas à cidade pela fronteira que depois dele se colocaria. Isso acabou, agora o corte é seco.
As Gambiarras urbanas antimendigo não são nem o corte seco nem a invenção de espaços de suspensão, mas simulacros de pessoas em forma de espada, cactus ou pedra. As pessoas estão ali transformadas em outras coisas. Ao vermos os dispositivos, não vemos um espaço vazio protegido, como é o caso das grades, também agressivas, mas as pessoas mesmo.
Aqui não se trata de evitar a entrada de um sujeito que anda, abre portas, fala, ou mesmo de um ladrão. Trata-se de domesticar a visibilidade, impedir que o sujeito se encoste, se escore. As gambiarras não estão ali para defender, ou separar, mas para limpar visualmente a cidade. O problema é que ao serem colocadas elas antecipam o sujeito que ainda não se deitou, dobrando a violência do dispositivo, multiplicando exponencialmente os mendigos da cidade.
Veja: Imagens
Uma compilação dessas, mesmo sem legenda, mesmo sem montagem com outras imagens, mesmo sem contexto, aspira ser uma crítica aos dispositivos. Colocados juntos vemos o higienismo espalhado pela cidade. Vemos a defesa dos espaços privados.
No Rio de Janeiro isso ficou muito presente quando no início dos anos 90 os prédios foram gradeados. Muitos prédios dos anos 50, 60 e 70 possuíam entradas em que entre a rua e o prédio havia uma passagem, uma área que não era mais rua, mas também não era só d prédio. Pequenos jardins ou simples recuos que funcionavam como um pedido de desculpas à cidade pela fronteira que depois dele se colocaria. Isso acabou, agora o corte é seco.
As Gambiarras urbanas antimendigo não são nem o corte seco nem a invenção de espaços de suspensão, mas simulacros de pessoas em forma de espada, cactus ou pedra. As pessoas estão ali transformadas em outras coisas. Ao vermos os dispositivos, não vemos um espaço vazio protegido, como é o caso das grades, também agressivas, mas as pessoas mesmo.
Aqui não se trata de evitar a entrada de um sujeito que anda, abre portas, fala, ou mesmo de um ladrão. Trata-se de domesticar a visibilidade, impedir que o sujeito se encoste, se escore. As gambiarras não estão ali para defender, ou separar, mas para limpar visualmente a cidade. O problema é que ao serem colocadas elas antecipam o sujeito que ainda não se deitou, dobrando a violência do dispositivo, multiplicando exponencialmente os mendigos da cidade.
2 de jan. de 2010
Didi-Huberman - Quando as imagens tomam posição
"Quando as imagens tomam posição" (Quand les images prennent position) é o mais recente livro do historiador da arte francês, Didi-Huberman.
O autor vem publicando intensamente nos últimos anos e isso se reflete na repetição das questões centrais do livro. Entretanto o objeto de análise, Brecht e seu Diário de Trabalho (Arbeitsjournal), publicado no Brasil pela Rocco, permite análises saborosíssimas e que parecem deixar ainda mais claro os princípios que regem as análises de Hubeman. Questões ligadas à montagem, ao anacronismo, à necessidade da imagem, à escritura como produção de saber e à construção da história estão aqui presentes com um esmiuçamento que ultrapassa o trabalho de Brecht para reforçar questões éticas e políticas que Huberman trabalha na arte e na história.
O título deixa isso claro.
A abordagem de Brecht está concentrada na escritura da história e da vida com imagens que não param de expor e expor-se. Dar conta do mundo e se conectar com outras histórias e outros tempos. Imagens que não cessam de "tomar posição" e produzir conhecimento.
A chave do livro de Huberman é o modo como ele constrói paralelamente a vida de Brecht - sem grandes detalhes - em que o exílio teve lugar central, e a própria percepção da arte do alemão que, em traços gerais, coincide com a sua. O exílio - tanto físico, daquele que não está em seu país, como estético, daquele que não pertence, que estranha, que guarda distância, é parte de um trabalho de escritura com textos e imagens.
Em um certo momento Huberman encontra em Brecht o nomadismo de Guattari e Deleuze em Mille Plateux. Não que eles sejam citados, mas a aproximação é clara. Brecht não é apenas alguém que muda muito, antes e depois de guerra, mas alguém que assume a posição "desterritorializada" (p.13) Poesia e vida não podem pesar, precisam se manter leve para que a mobilidade - estar aqui ou lá, ver daqui ou de lá - seja rápida. O exílio é mais que um estado ou um destino, mas um princípio para saber sobre algo: "acuidade da visão" e, o que não deixa de ser problemático, cheio de "informações lacunares" e distanciadas.
Passando por Foucault, Blanchot e Deleuze, Huberman nos lembra a dimensão política e coletiva dos diários como este de Brecht. O autor em algumas páginas aproxima os três pensadores que trazem o "eu" que escreve o diário como uma linha que atravessa o político, o universal e o coletivo, lugar em que uma "gênese de si" ou a intimidade do indivíduo não trazem maiores interesses.
Um dos mais interessantes focos do livro está nas fotomontagens que Brecht faz em seu diário. São aproximações concretas entre imagens, eventos, tempos, textos, espaços. É nessa montagem que Huberman enxerga - e com razão - a produção de saber de Brecht. As escolhas são precisas, ao mesmo tempo paradoxais, explicitando continuidades estranhas e demandando do espectador uma presença ativa nessas montagens, sem, entretanto, esvaziar o poder documental dessas imagens. É preciso que as imagens tomem posição, "apesar de tudo", nos repete o autor.
(Voltarei ao livro)
O autor vem publicando intensamente nos últimos anos e isso se reflete na repetição das questões centrais do livro. Entretanto o objeto de análise, Brecht e seu Diário de Trabalho (Arbeitsjournal), publicado no Brasil pela Rocco, permite análises saborosíssimas e que parecem deixar ainda mais claro os princípios que regem as análises de Hubeman. Questões ligadas à montagem, ao anacronismo, à necessidade da imagem, à escritura como produção de saber e à construção da história estão aqui presentes com um esmiuçamento que ultrapassa o trabalho de Brecht para reforçar questões éticas e políticas que Huberman trabalha na arte e na história.
O título deixa isso claro.
A abordagem de Brecht está concentrada na escritura da história e da vida com imagens que não param de expor e expor-se. Dar conta do mundo e se conectar com outras histórias e outros tempos. Imagens que não cessam de "tomar posição" e produzir conhecimento.
A chave do livro de Huberman é o modo como ele constrói paralelamente a vida de Brecht - sem grandes detalhes - em que o exílio teve lugar central, e a própria percepção da arte do alemão que, em traços gerais, coincide com a sua. O exílio - tanto físico, daquele que não está em seu país, como estético, daquele que não pertence, que estranha, que guarda distância, é parte de um trabalho de escritura com textos e imagens.
Em um certo momento Huberman encontra em Brecht o nomadismo de Guattari e Deleuze em Mille Plateux. Não que eles sejam citados, mas a aproximação é clara. Brecht não é apenas alguém que muda muito, antes e depois de guerra, mas alguém que assume a posição "desterritorializada" (p.13) Poesia e vida não podem pesar, precisam se manter leve para que a mobilidade - estar aqui ou lá, ver daqui ou de lá - seja rápida. O exílio é mais que um estado ou um destino, mas um princípio para saber sobre algo: "acuidade da visão" e, o que não deixa de ser problemático, cheio de "informações lacunares" e distanciadas.
Passando por Foucault, Blanchot e Deleuze, Huberman nos lembra a dimensão política e coletiva dos diários como este de Brecht. O autor em algumas páginas aproxima os três pensadores que trazem o "eu" que escreve o diário como uma linha que atravessa o político, o universal e o coletivo, lugar em que uma "gênese de si" ou a intimidade do indivíduo não trazem maiores interesses.
Um dos mais interessantes focos do livro está nas fotomontagens que Brecht faz em seu diário. São aproximações concretas entre imagens, eventos, tempos, textos, espaços. É nessa montagem que Huberman enxerga - e com razão - a produção de saber de Brecht. As escolhas são precisas, ao mesmo tempo paradoxais, explicitando continuidades estranhas e demandando do espectador uma presença ativa nessas montagens, sem, entretanto, esvaziar o poder documental dessas imagens. É preciso que as imagens tomem posição, "apesar de tudo", nos repete o autor.
(Voltarei ao livro)
O Globo e a prepotência - "o finalmente"
A prepotência dos grandes jornais brasileiros é cotidiana. Tudo o que é público é tratado como inimigo, o estado inclusive. É essa democracia que a grande mídia tanto teme ser colocada em questão por outras esferas da sociedade?
O Globo diz assim: Cabral, finalmente, chega a Ilha Grande. Como assim finalmente? quem é o Globo para dizer onde e quando um governador deve chegar a algum lugar. A matéria não é nem assinada.
O finalmente se justifica porque eles só sabem lidar com a lógica do espetáculo e das celebridades.
Os dois secretários de estado presentes não interessam, não são notícia. Além da avalanche e das mortes é preciso garantir o espetáculo.
Curiosamente, na mesma primeira página do O Globo online há uma matéria sobre o que as "celebridades" postaram no Twitter sobre a tragédia da Ilha Grande. Onde está o governador que nem um post fez nas primeiras 24 horas?
O Globo diz assim: Cabral, finalmente, chega a Ilha Grande. Como assim finalmente? quem é o Globo para dizer onde e quando um governador deve chegar a algum lugar. A matéria não é nem assinada.
O finalmente se justifica porque eles só sabem lidar com a lógica do espetáculo e das celebridades.
Os dois secretários de estado presentes não interessam, não são notícia. Além da avalanche e das mortes é preciso garantir o espetáculo.
Curiosamente, na mesma primeira página do O Globo online há uma matéria sobre o que as "celebridades" postaram no Twitter sobre a tragédia da Ilha Grande. Onde está o governador que nem um post fez nas primeiras 24 horas?
Assinar:
Postagens (Atom)