Que o capitalismo tem desprezo pela vida não é novidade para quem anda por essas partes do mundo.
No Brasil vivemos uma dura e triste sobreposição a esse desprezo: um governo que não apenas se filia às práticas mais violentas desse capitalismo, como goza com a morte. Eis a dimensão de seu fascismo: a morte do outro é motivo de gozo. No momento em que a morte pauta o mundo é como se o país e cada indivíduo tivesse que dar conta de três linhas de morte somadas. Capitalismo/Fascismo-miliciano/Covid. Haja corpo! Haja forças.
Porque a vida é secundária em relação ao lucro e ao gozo com a morte, já estamos sendo avisados que o preço a pagar pela crise será alto: corte de salário de vulneráveis, nenhuma intervenção no sistema financeiro, aumento radical de controle e vigilância, discursos que não fazem mais diferença alguma entre encarceramento policial e cuidado com a pandemia.
Quando sairmos dessa fase crítica diferentes mundos estarão ainda mais radicalmente em disputa. As ações para recuperar o lucro perdido serão fortíssimas, como pensar no planeta, em energia limpa, em terras preservadas, em distribuição de renda se estaremos em fortíssima recessão?
Mas, não é justamente essa impressão que o mundo poderia ser outro que nos atravessa agora?
Não é a impressão de que a vida seguia rumos não necessários, que a urgência do cotidiano impunha, e que agora parecem desnaturalizados?
Se a pandemia já é o paradigma para mais desejo de morte por parte desse necrocapitalismo, não seria ela também o paradigma para outras formas de vida?
O que significa ter uma casa em que se possa ficar três meses? Não é isso que o momento nos exige?
Por que cada artista que trabalha com MEI não recebe uma renda mínima quando fora de temporada? Não é isso que é possível fazer agora?
Se a internet se torna a única forma de sociabilidade, como deixá-la nas mãos do mercado?
Por que cada artista que trabalha com MEI não recebe uma renda mínima quando fora de temporada? Não é isso que é possível fazer agora?
Se a internet se torna a única forma de sociabilidade, como deixá-la nas mãos do mercado?
Nessa abundância enlouquecida que criamos o momento nos joga na cara a falência do sistema: há muita sobra, mas ninguém pode parar. Há muita sobra, mas uma enorme parcela da população não tem uma casa em que possa passar um ou dois meses e lavar as mãos com frequência.
Estamos no entre-mundos, e por toda parte sentimos uma reverberação: minha vida não será a mesma.
Pelas contas dos necropoderes, não há outro mundo possível e os pobres e o planeta vão pagar caro.
Pela evidência que está no corpo, a vida deve continuar e já sabemos que a proposta dos necropoderes é a morte.
Pela evidência que está no corpo, a vida deve continuar e já sabemos que a proposta dos necropoderes é a morte.
Felizmente, nesse caso, a morte não é um destino.
-- Diário do entre-mundos 11 --
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