21 de abr. de 2020

Diário do entre-mundos 20

O governo Bolsonaro, com Guedes e seu neoliberalismo tosco, se organizou para não existir.
Trata-se de ser ministro da fazenda para entregar tudo aos patrões e poder deixar de existir.
Um ministro que tem o projeto de tornar-se obsoleto. Bolsonaro a mesma coisa. Um presidente sem projeto, além de eximir-se da política e ficar apenas no escândalo violento e mortífero. Por todos os lados, esse governo que desejava apenas estar no poder, mas não governar, estar no poder, mas se ausentar, descobre uma nova presença: eles mesmos. O Corona vírus aparece para jogar a necessidade de governo no colo desses caras. E agora? E agora que o lugar que estou me obriga a fazer alguma coisa? Bolsonaro faz sua aposta: meu único papel é não estar aqui, ou estar aqui e destruir esse lugar mesmo em que estou, até o ponto de ser descartado.
Sua aposta é de radicalizar sua inaptidão e inconveniência para o lugar que ocupa para tornar a presidência algo tão sem sentido, tão descabida que, ela mesma, se torne irrelevante. O projeto ficou muito explicito no momento em que, sem saída, o governo precisa existir.
Se opor a Bolsonaro é, claro, bater panelas, mas é também fazer um caminho oposto ao dele e de seus tristes comparsas: se opor a eles é estar presente. Estar onde se está. Isso significa um enorme esforço, uma atenção ao entorno, aos próximos e a frustração porque com frequencia não damos conta de tanta presença. O momento nos coloca aqui, perto de nossas coisas, de nossas condições sociais, familiares, nossas responsabilidades com outros. É essa presença que a brutalidade de um Guedes não permite. Estar aqui é uma exigência exaustiva quando estamos no centro de um acontecimento e não temos a irresponsabilidade de estarmos em outro lugar ou em outro tempo.
Segura essa!
-- diário do entre-mundos 20 --

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