Não é só a casa. É o bairro, a classe, os vizinhos, os sons, os rostos. Entramos em um modo “homogeneidade compulsória”.
A cada dia produzimos mais tensão com o vizinho que bate ou não panela, com a companheira que lava ou não o prato, com o filho que ....
Nessa repetição, não paramos de acessar notícias e texto sobre a crise. As notícias trazem mortes e imbecilidades assassinas. E assim vamos nos organizando em uma lógica condominial radical.
Nessa repetição, não paramos de acessar notícias e texto sobre a crise. As notícias trazem mortes e imbecilidades assassinas. E assim vamos nos organizando em uma lógica condominial radical.
No isolamento vivemos a repetição do mesmo, que também tem o nome de morte, e do lado de fora a extrema ameaça.
Não é só o vírus ou essa imagem triste de pessoas mascaradas que produzem o medo, mas os modos como começamos a entender a rua como ameaça. O heterogêneo e o diferente como perigo.
Na homogeneidade compulsória, mesmo nas famílias que vivem o estresse da proximidade quarentenada, desenvolvendo ao limite o que Freud chamava de “narcisismo das pequenas diferenças”, o trabalho de cada um será grande para se esquivar da repetição que adoece e o lado de fora que ameaça.
Trata-se de um trabalho de cuidado consigo, de aberturas para diferenças possíveis nos espaços fechados que radicalizam a homogeneidade.
Por que tantos reclamam que não conseguem ler um livro? Pelo simples fato de saberem que são essas derivas - com a arte, com a ficção, com as histórias – que podem garantir uma saúde intrinsicamente política. São essas aberturas que podem romper a “homogeneidade compulsória”.
Ficar em casa e encontrar formas de abrir a porta.
Ps. sobre "a lógica do condomínio", ver Christian Dunker
-- Diário do entre-mundos 18 --
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