Sobre Bolsonaro e seus apoiadores, tudo parece ter sido dito, ao mesmo tempo que as palavras parecem irrelevantes.
Algumas ideias aqui aparecem em diálogo com Torturra e Safatle.
Tornou-se corrente falarmos de dois traços fortes de se governo 1) A impossibilidade de uma relação racional com os lideres ou apoiadores 2) Trata-se de um governo que se sustenta na morte do outro, que se dá o direito de matar, uma necropolitica.
Sobre as dois traços precisamos considerar que é próprio ao capitalismo uma irracionalidade. Nenhum sistema sustentaria tanta destruição e desigualdade mortífera se fosse "racional". Assim, dizer: Ah, esses bolsonaristas são irracionais, é uma bobagem.
A racionalidade deles não tem os mesmos parâmetros que a nossa, ou a irracionalidade deles tem outras pulsões.
Já a necropolítica "tradicional", em seus projetos escravocratas e coloniais, tinha um viés económico e político em que a morte - do outro- fazia-se fundamental para garantir os ganhos e conquistas.
O que vemos com o bolsonarismo hoje é diferente. A morte é o fim em si. Nas recentes manifestações contra a quarentena - ou pró-Covid - a morte do outro é também suicidaria.
Os apoiadores de Bolsonaro estão surfando em uma linha de morte suicida, uma linha que se expressa em possibilidade de gozo com todas as mortes, inclusive a própria.
Vivemos um governo que atua como serial-killer que invade uma escola atirando em todos e pronto a se matar no final.
Qual a possibilidade de política com um grupo que surfar na morte em tempos de covid?
Já vimos que os argumentos pela vida ou económicos são irrelevantes.
Aquele que tem tendência suicida poderia ter consciência de tal tendência e pedir ajuda. Entretanto, esse pedido se torna impossível dado o efeito de massa e a formação coletiva em torno do seria-killer. Se olhar no espelho não é uma possibilidade.
Seria possível então uma ideia de cuidado em relação àquele de deseja se matar?
Ou, como desarmar essa pulsão suicida que deseja tudo levar à morte?
Sem racionalidade pela vida ou económica, apenas a própria vida como força, prazer, invenção e alegria pode desarmar a tristeza do serial-killer.
Talvez uma utopia, ou a morte.
-- Diário do entre-mundos 26 --
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