Assim, por todos os lados escutamos: tenho tempo, mas não estou dando conta.
Quando preciso estudar, frequentar uma aula, fazer uma reunião, faço participar dessa ação várias tensões e afetos mínimos inerentes a estar na cidade, a encontrar o porteiro do prédio, a viver as opressões do transporte, etc.
Quando estamos fazendo muitas dessas coisas online, sem sair de casa, essa dispersão, por mínima que seja, desaparece. Passamos a trabalhar com se houvesse uma linha reta entre o eu que estuda e o estudo. Entre o eu que trabalha e o trabalho. Caem os atravessamentos não dominados do mundo.
O isolamento produz assim uma hipercentralidade do eu: um desastre para a saúde.
Abre-se ai, com essa promessa de linha reta entre o eu e o que devo fazer, uma grande porta para as angústias e ansiedades. Aquele trabalho difícil ou aquela preocupação médica, passaram a ter uma centralidade que as tornam insuportáveis.
Abre-se ai, com essa promessa de linha reta entre o eu e o que devo fazer, uma grande porta para as angústias e ansiedades. Aquele trabalho difícil ou aquela preocupação médica, passaram a ter uma centralidade que as tornam insuportáveis.
Há uma relação entre dispersão e concentração nessa quarentena que afeta diretamente os processos subjetivos. Sim, o isolamento faz crer que seremos capazes de foco e agora nos damos conta que só somos capazes de foco quando a dispersão vem nos ajudar.
-- Diário do entre-mundos 24 --
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