24 de jun. de 2015

De Sica e redução da maioridade penal

No belo “Vítimas da tormenta” (Sciuscià) (1946), de De Sica, os dois meninos que fazem os papéis principais são levados para uma prisão para jovens.
Na prisão há uma breve discussão entre o diretor do estabelecimento e um outro homem, seu assistente, que cobra melhores condições para os meninos.
A resposta do diretor fala muito sobre a lógica que organiza muitos dos defensores da redução da maioridade penal. Ele diz: “Isso aqui é uma prisão e não um centro de cuidados. Se você esquecer isso, será para sempre um assistente.”
O pragmatismo do diretor é cruel e explicita que o tratamento que ele deseja para os jovens não tem relação alguma com a segurança, com uma reflexão sobre a sociedade ou com o futuro dos jovens, mas exclusivamente com seu lugar de poder.
A questão da redução da maioridade penal também passa por essa tragédia. Enquanto os adolescentes são tratados como adolescentes, em espaços responsáveis pela escola e pelo futuro dos internos, ainda há uma negociação que a sociedade faz com esses jovens. Há portas abertas, o que impede o autoritarismo extremo.
A redução da maioridade penal parece caber em um raciocínio parecido com o diretor da prisão. Para garantir o poder é preciso negar os jovens como sujeitos.
60 anos depois do filme de De Sica, continuamos tentando afirmar que esses jovens existem.


12.4.15

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