24 de jun. de 2015

Nossa ressaca

Dos mais duros efeitos dos últimos 20 anos de governos eleitos no Brasil parece ser uma profunda descrença na possibilidade de o Estado ser realmente um operador de transformações democráticas na sociedade.
No início do século XX os anarquistas já sabiam muito bem disso, mas a lição demanda confiança demais na forças sociais não pautadas pelo capital. Mais fácil é encontrarmos líderes que assumam nossas demandas.
O problema é que uma liderança verdadeiramente democrática é aquela que permite o descontrole em relação aos seus projetos, é aquela que não produz centralidades de discursos ou de poderes. Uma liderança democrática está sempre de saída.
Infelizmente, no Brasil, caminhamos para algo bem distinto, com raras exceções, o Estado não para de fortalecer centralidades, a dos projetos políticos de certos grupos e a do capital, com representantes de peso que transitam entre bancos e governo e que garantem a permanência das mesmas elites na terra e nas boas escolas.
Não temos exclusividade, nos Estados Unidos a rede de vigilância e controle tornou o Estado americano um gigantesco violador das liberdades individuais. Na França, em nome dos valores ocidentais se proíbe o véu nas escolas e se radicaliza a diferença entre nós e eles. Tudo dominar e controlar, é a regra de quem está no poder.
Talvez tenhamos sido entusiasta demais das manifestações de 2013, mas não poderia ser de outra maneira. Só algo que resista a essa centralidade do Estado e do Capital pode ter efeitos efetivamente transformadores na sociedade. Essa força vem das ruas e redes. De outra maneira, ficaremos medindo a capacidade do partido x ou y fazer pequenos ajustes em nossos desastres urbanos, ecológicos e humanos. Ou podemos também ficar contando quantos políticos de cada partido participam de cada nova lista.


8.3.15

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