Não podemos dizer que o mercado não é criativo. Pelo contrário, a valorização de uma marca ou de um produto está fundamentalmente ligado às criação que ele absorve.
Mas, justamente, é o valor desse produto que possui a centralidade. A criação que não pode ser capitalizada, que não pode ser transformar em design ou novas formas de consumo não possui qualquer valor para o mercado.
A angústia que atravessa o mundo em que o mercado é central está diretamente ligada à forma como somos atravessados por imensas doses de criação em que nenhuma nova ordem para o mundo parece possível - Lazzarato diz mais ou menos isso em As revoluções do capitalismo. A criação está em todo lugar mas nada de novo parece possível.
É o caso da internet, potencialmente libertária e democratizante, mas constantemente gerida por sistemas de vigilância e algoritmos que não dominamos e que colocam as forças do capital como centro.
Enquanto nas embalagens de comida somos informados sobre os ingredientes e composições, no Facebook ou no Google não temos nenhum acesso aos algoritmos que nos fazem ver certas mensagens em detrimentos de outras, que eliminam certas imagens ou fazem com que certos assuntos simplesmente desapareçam.
Vivemos no paradoxo do capitalismo cognitivo – hiper-valorização da criação acentrada com hiper-controle e modulação dessa criação.
Os mesmos meios de comunicação que cobram transparência do setor público deveriam em seus anúncios serem obrigados a dizer quanto aquela empresa está pagando por aquele espaço.
Regularizar a mídia é informar os componentes, tão importante quanto em remédios ou alimentos. A opacidade dos algoritmos que usamos cotidianamente é tóxica.
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