As mídias sociais fazem parte da realidade que estamos construindo, acredito, de uma outra democracia, de formas menos verticais de poder.
O que fazem os governos e as empresas? Tentando correr atrás, se inserir nas mídias sociais, se tornam prestadores de serviço, para além do produto, estabelecem diálogos com comunidades, twitteiros, blogueiros etc.
Publiquei neste blog uma entrevista com o escritor Julio Ludemir sobre as UPP. Julio fez uma fala crítica, historicizou o processo, chamou atenção para a especulação imobiliária e para os usos políticos.
Dois dias depois foi deixado um comentário - note que este deve ser o blog menos comentado da internet!
"Gostaríamos de convidá-lo a visitar o site www.upp.rj.gov.br para conhecer melhor as ações das Unidades de Polícia Pacificadora. Na análise que você postou, há algumas informações equivocadas. O Governo do Rio de Janeiro se coloca à disposição para esclarecer qualquer dúvida sobre as UPPs ou qualquer outra política de governo.
Abs,
Equipe de Comunicação Digital."
a assinatura do Comentário é "Governo".
Curioso não? Bem, fui ao site proposto e o que se vê muita propaganda de governo.
Ai está o exemplo de um uso equivocado de uma "Equipe de Comunicação Digital."
Ou essa equipe entra no debate ou não serve para nada.
A tentativa com esse comentário é fazer dos blogs e mídias sociais uma outra forma de poder vertical em que não vale uma voz aqui outra ali. Tudo que o "governo" conseguiu foi me direcionar para o site e dizer que o Julio está equivicado. Onde, no que, etc, não interessa.
Desta forma o governo atua como um controlador, rastreando na internet o que se fala sobre ele para tentar desqualificar sem entrar no debate.
A ação é muito mais reveladora do método - na Mídia e talvez na UPP - do que uma atenção ao que a população está pensando e escrevendo.
18 de jan. de 2010
17 de jan. de 2010
"Israel envia missão ao Haiti para analisar ajuda necessária"
EUA está ajudando.
Palestinos ainda não sabem
se irão ajudar .
Haiti, 2010
Gaza, 2009
15 de jan. de 2010
Cinema e vídeo Experimental 60/70 - 5 essenciais.
Ubuweb é um sonho. Não é novidade.
Para quem não conhece, ai vai o link de 5 artistas essências do final dos 60 início dos 70.
Vito Acconci
Marcel Broodthaers
Peter Campus
Hollis Frampton
Cindy Sherman
Para quem não conhece, ai vai o link de 5 artistas essências do final dos 60 início dos 70.
Vito Acconci
Marcel Broodthaers
Peter Campus
Hollis Frampton
Cindy Sherman
13 de jan. de 2010
PNDH3 - Um passo à frente.
Lula "solucionou", hoje, a questão em torno do PNDH da seguinte maneira.
Criou um novo decreto que institui a Comissão Nacional da Verdade.
"Fica criado o grupo de trabalho para elaborar anteprojeto de lei que institua a Comissão Nacional da Vedade, composta de forma plural e suprapartidaria, com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memoria e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional."
Uma das recomendações do PNDH3 era a criação dessa comissão.
No que toca todas as outras questões: comunicação, interrupção voluntária de gravidez, agronegócio, etc. Nada foi ainda feito, ou melhor, tudo foi mantido.
Resumo da ópera, Lula - pelo menos até agora - não alterou o PNDH3, criou uma comissão que atendeu o Ministro Jobim e fez o que o PNDH pedia. Enquanto a mídia queria um passo para trás, Lula deu um passo à frente.
Nas internas - Lula enquadrou Jobim! Você acha que eu vou tocar nesse Programa e abrir o debate com todas as categorias?
Enquanto isso, O Globo diz: "A estratégia definida pelo Palácio do Planalto é de não mexer em mais nada agora, para não evidenciar derrota política "
A frase é absurda! Mexer seria uma derrota política, não só do governo, mas da sociedade que produziu o PNDH3.
A crise do PNDH3 antecipa o que será a campanha. A oposição e a grande mídia batem para depois tentarem entender do que se trata. (Ver posts anteriores 1, 2) O governo finge que cede e toca o barco sem comemorar.
Comentários do Azenha (link)
Criou um novo decreto que institui a Comissão Nacional da Verdade.
"Fica criado o grupo de trabalho para elaborar anteprojeto de lei que institua a Comissão Nacional da Vedade, composta de forma plural e suprapartidaria, com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memoria e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional."
Uma das recomendações do PNDH3 era a criação dessa comissão.
No que toca todas as outras questões: comunicação, interrupção voluntária de gravidez, agronegócio, etc. Nada foi ainda feito, ou melhor, tudo foi mantido.
Resumo da ópera, Lula - pelo menos até agora - não alterou o PNDH3, criou uma comissão que atendeu o Ministro Jobim e fez o que o PNDH pedia. Enquanto a mídia queria um passo para trás, Lula deu um passo à frente.
Nas internas - Lula enquadrou Jobim! Você acha que eu vou tocar nesse Programa e abrir o debate com todas as categorias?
Enquanto isso, O Globo diz: "A estratégia definida pelo Palácio do Planalto é de não mexer em mais nada agora, para não evidenciar derrota política "
A frase é absurda! Mexer seria uma derrota política, não só do governo, mas da sociedade que produziu o PNDH3.
A crise do PNDH3 antecipa o que será a campanha. A oposição e a grande mídia batem para depois tentarem entender do que se trata. (Ver posts anteriores 1, 2) O governo finge que cede e toca o barco sem comemorar.
Comentários do Azenha (link)
PNDH3 - Mudar é ir contra a democracia
O que o governo precisa deixar claro é que o PNDH3 não está em debate. O debate já foi feito. Ele foi apenas apresentado à sociedade para ser encaminhado ao congresso e às instâncias que podem efetivá-lo, ai sim se inicia um novo debate.
Ter 80% de aprovação da população faz com que Lula se torne vacilante, não quer fazer nada que possa suscitar críticas.
Na verdade, o risco é que o governo pare de pensar e continue apenas gerindo as obras.
O Caso do PNDH explicita isso. Lula não tem o direito de mudá-lo. Trata-se de uma produção social e coletiva legitima. Lula deve dar OK para o processo e não discutir o Programa. No momento que diz isso fica isso sai, assume o Programa como se fosse feito pelo governo dele, e não é. Trata-se de um processo independente do estado, apoiado por ele.
O governo se mete em uma fria se resolve entrar na discussão que a mídia quer, ponto por ponto.
O PNDH indica caminhos. Foi feito pela sociedade civil. No momento que for para o congresso a igreja, os militares etc, têm todo o direito de espernear, mas o governo aceitar as críticas agora é absurdo. Mudar o PNDH agora é negar o processo democrático que o gerou.
Ter 80% de aprovação da população faz com que Lula se torne vacilante, não quer fazer nada que possa suscitar críticas.
Na verdade, o risco é que o governo pare de pensar e continue apenas gerindo as obras.
O Caso do PNDH explicita isso. Lula não tem o direito de mudá-lo. Trata-se de uma produção social e coletiva legitima. Lula deve dar OK para o processo e não discutir o Programa. No momento que diz isso fica isso sai, assume o Programa como se fosse feito pelo governo dele, e não é. Trata-se de um processo independente do estado, apoiado por ele.
O governo se mete em uma fria se resolve entrar na discussão que a mídia quer, ponto por ponto.
O PNDH indica caminhos. Foi feito pela sociedade civil. No momento que for para o congresso a igreja, os militares etc, têm todo o direito de espernear, mas o governo aceitar as críticas agora é absurdo. Mudar o PNDH agora é negar o processo democrático que o gerou.
12 de jan. de 2010
Para Sérgio Besserman -
Prezado Sérgio,
admiro seus comentários no Jornal das Dez e por isso gostaria de colocar uma questão de fundo no comentário de hoje.
Quando dizes que o Bolsa família não pode existir indefinidamente, me parece que há ai uma distância das reflexões mais progressistas em relação às possibilidades do capitalismo contemporâneo.
Toda a crítica que se faz ao Bolsa Família ainda é fundada em uma percepção antiga que separa os sujeitos entre empregados ou desempregados, incluidos ou excluidos, uma percepção calcada no fordismo do Séc XX e não no que hoje tantos tem chamado de capitalismo cognitivo. A inclusão nesse novo capitalismo se descolou da noção de crescimento e isso é decisivo para percebermos um outro papel do estado. O estado tornou-se mais que nunca um gestor do excesso do capitalismo que inclui mesmo os excluídos - (banda larga na favela, celular de graça até para desempregado, dvd e acesso a bens digitais aos trabalhadores informais).
Me parece que não podemos ter nostalgia da disciplina e orientar o que desejamos para o país a partir apenas de mais desenvolvimento, mais indústrias, etc.
O desafio é justamente pensarmos uma além do emprego - o que significa muito trabalho -, um além da indústria, trata-se de uma percepção de que a vida é valor em si.
Entendo o Bolsa Família como parte de uma sociedade de plena atividade sem pleno emprego. (me refiro aqui ao excelente livro de Giuseppe Cocco, que deves conhecer, MundoBraz) O bolsa família é o embrião do que há de mais avançado, no meu entender, em termos de potencialização da criação e das invenção humana que a a idéia de uma renda mínima universal, defendida durante alguns anos pelo sen. Suplicy.
Desculpe-me se me alongo, gostaria apenas de compartilhar a preocupação com o país, a partir de um outro ponto de vista.
Meu cordial abraço
Cezar Migliorin
admiro seus comentários no Jornal das Dez e por isso gostaria de colocar uma questão de fundo no comentário de hoje.
Quando dizes que o Bolsa família não pode existir indefinidamente, me parece que há ai uma distância das reflexões mais progressistas em relação às possibilidades do capitalismo contemporâneo.
Toda a crítica que se faz ao Bolsa Família ainda é fundada em uma percepção antiga que separa os sujeitos entre empregados ou desempregados, incluidos ou excluidos, uma percepção calcada no fordismo do Séc XX e não no que hoje tantos tem chamado de capitalismo cognitivo. A inclusão nesse novo capitalismo se descolou da noção de crescimento e isso é decisivo para percebermos um outro papel do estado. O estado tornou-se mais que nunca um gestor do excesso do capitalismo que inclui mesmo os excluídos - (banda larga na favela, celular de graça até para desempregado, dvd e acesso a bens digitais aos trabalhadores informais).
Me parece que não podemos ter nostalgia da disciplina e orientar o que desejamos para o país a partir apenas de mais desenvolvimento, mais indústrias, etc.
O desafio é justamente pensarmos uma além do emprego - o que significa muito trabalho -, um além da indústria, trata-se de uma percepção de que a vida é valor em si.
Entendo o Bolsa Família como parte de uma sociedade de plena atividade sem pleno emprego. (me refiro aqui ao excelente livro de Giuseppe Cocco, que deves conhecer, MundoBraz) O bolsa família é o embrião do que há de mais avançado, no meu entender, em termos de potencialização da criação e das invenção humana que a a idéia de uma renda mínima universal, defendida durante alguns anos pelo sen. Suplicy.
Desculpe-me se me alongo, gostaria apenas de compartilhar a preocupação com o país, a partir de um outro ponto de vista.
Meu cordial abraço
Cezar Migliorin
Lula não tem o direito de alterar o PNDH III
Lula pode não se engajar na efetivação de todos os pontos do PNDH III, mas não cabe a ele tirar esse ou aquele tema. Isso é um texto formulado na base, com conferências e milhares de pessoas engajadas, ao presidente cabe assinar o processo como um todo ou não assinar. O presidente não está ali para julgar os pontos mas para entender a demanda da sociedade e se esforçar para transformá-los em realidade, ou não.
11 de jan. de 2010
As Bolsas
Barco nobags
Fábrica de Bolsas na China.
Algumas imagens carecem de pessoas. Outras não.
Algumas dispensam leitores, outras não.
Grande mídia e oposição antecipam o tom da campanha com as críticas ao Plano Nacional de Direitos Humanos.
Dois pontos Centrais:
1 -Ganha espaço no debate pessoas como a Senadora Kátia Abreu.
Participante do lobby dos latifundiários, a senadora é capaz de escrever coisas como:
"Rússia e o Canadá têm florestas, só que naqueles países as condições climáticas não favorecem a expansão agrícola." Ou seja, como aqui as condições climáticas favorecem.... Corta a floresta!
"Governo usou plano dos direitos humanos para ressuscitar seus demonios de um socialismo radical e totalitario.Viva a democracia!Liberdade!Lei"
Aspásia Camargo, por exemplo, chama a luta armada de terrorista. No mínimo uma ignorância conceitual. O Luis Eduardo Soares em seu Twitter pergunta: "A resistência anti-franquista era "terrorismo", @AspasiaCamargo ? A resistência francesa anti-nazista era "terrorismo" ?"
2 -A grande mídia baseia suas críticas em profunda ignorância.
Reclama que não houve debate - Enquanto o programa teve a participação de 14 mil pessoas
Não entende que o PNDH é um programa de intenções e não tem ação imediata.
Não entende que Lula precisa assinar pois foi o resultado de um processo de participação democrática.
Desconhecem que os PNDH I e II, feitos na era FH Cardoso, tem muitos pontos em comum com o PNDH III.
Willian Waak e um dos meninos da Veja perguntam se se trata de uma nova constituição. - Desconhecem o funcionamento dos processos democráticos fundados em participação popular e conferências.
É com esse nível de debate, desinteressado pelas questões de fundo, que a mídia pautará 2010.
1 -Ganha espaço no debate pessoas como a Senadora Kátia Abreu.
Participante do lobby dos latifundiários, a senadora é capaz de escrever coisas como:
"Rússia e o Canadá têm florestas, só que naqueles países as condições climáticas não favorecem a expansão agrícola." Ou seja, como aqui as condições climáticas favorecem.... Corta a floresta!
"Governo usou plano dos direitos humanos para ressuscitar seus demonios de um socialismo radical e totalitario.Viva a democracia!Liberdade!Lei"
Aspásia Camargo, por exemplo, chama a luta armada de terrorista. No mínimo uma ignorância conceitual. O Luis Eduardo Soares em seu Twitter pergunta: "A resistência anti-franquista era "terrorismo", @AspasiaCamargo ? A resistência francesa anti-nazista era "terrorismo" ?"
2 -A grande mídia baseia suas críticas em profunda ignorância.
Reclama que não houve debate - Enquanto o programa teve a participação de 14 mil pessoas
Não entende que o PNDH é um programa de intenções e não tem ação imediata.
Não entende que Lula precisa assinar pois foi o resultado de um processo de participação democrática.
Desconhecem que os PNDH I e II, feitos na era FH Cardoso, tem muitos pontos em comum com o PNDH III.
Willian Waak e um dos meninos da Veja perguntam se se trata de uma nova constituição. - Desconhecem o funcionamento dos processos democráticos fundados em participação popular e conferências.
É com esse nível de debate, desinteressado pelas questões de fundo, que a mídia pautará 2010.
10 de jan. de 2010
Merval Pereira e William Waack - incompetência para a crítica
Merval Pereira acusa o PT de esquerdismo!
Em artigo no Globo de Domingo, ele faz uma relação entre o PNDH 3, assinado por Lula e a Carta de Olinda, parte do programa do PT de 2002. O que ele ignora é que boa parte do esquerdismo, estava presente no PNDH 2, assinado por FH Cardoso.
O mesmo aconteceu na Globo News.
William Waack fez ontem um programa em que ele estava indignado. O problema é que ele não sabia o que era o decreto. Começa o programa dizendo isso: "O decreto coloca em funcionamento, execução, não sei bem qual é melhor palavra..."
A primeira pergunta de Waack é se o decreto é uma nova constituição. (ninguém ri no programa)
Nesse mesmo programa, José Gregori, ex-ministro de FH Cardoso defende o PNDH, até porque ele foi responsável pelo primeiro PNDH. Mas começa o programa dizendo que não estudo o terceiro plano.
Em artigo no Globo de Domingo, ele faz uma relação entre o PNDH 3, assinado por Lula e a Carta de Olinda, parte do programa do PT de 2002. O que ele ignora é que boa parte do esquerdismo, estava presente no PNDH 2, assinado por FH Cardoso.
O mesmo aconteceu na Globo News.
William Waack fez ontem um programa em que ele estava indignado. O problema é que ele não sabia o que era o decreto. Começa o programa dizendo isso: "O decreto coloca em funcionamento, execução, não sei bem qual é melhor palavra..."
A primeira pergunta de Waack é se o decreto é uma nova constituição. (ninguém ri no programa)
Nesse mesmo programa, José Gregori, ex-ministro de FH Cardoso defende o PNDH, até porque ele foi responsável pelo primeiro PNDH. Mas começa o programa dizendo que não estudo o terceiro plano.
O desejo asfixiado, Bernard Stiegler (Alguns Comentários)
Em O desejo asfixiado, artigo publicado no Le Monde Diplomatique, o filósofo francês Bernard Stiegler recorre a Deleuze, esvaziando a complexidade de seu pensamento sobre o capitalismo, para poder criticar a indústria cultural contemporânea. Para Stiegler a Sociedade de Controle é formado com um poder central e hierarquizado, só dessa maneira é possível pensar os mídias como um poder que pode se sobrepor à toda forma humana.
Stiegler desconsidera as múltiplas formas de interagir com os meios de comunicação, com a TV ou com os games. Provavelmente ainda não teve a chance de jogar Rock Band com o neto ou ouvir a discussão sobre a novela na fila do banco.
A demonização ingênua da indústria cultural, chamada por ele de “ máquina de aniquilamento do eu”, só pode ser entendida se o filósofo produz, antes dos meios, o aniquilamento desses “eus”. Para Stiegler, um programa de televisão que humilha a inteligência do espectador, o que sabemos é corrente, é recebido sem crítica, sem interferência por essa mesmo vida. Eis o equívoco central. O filósofo aceita o lugar que a TV coloca o público como se o público nada pudesse diante da TV.
Stiegler faz ainda uma leitura torta de Simondon. Voltando à noção de individuação, que como sabemos é parte da formação dos indivíduos à partir de um fundo coletivo e pré-individual, Stiegler ignora justamente que Simondon ajudou Deleuze, e nos ajuda ainda, a pensar a uma potência humana inapreensível pela mídia e pelo capitalismo.
A vida é o que está em jogo nesse capitalismo, Foucault deixou-nos isso muito claro, , ela é, ambiguamente, apropriada e resistência. Dizer, como faz Stiegler, que o que o marketing faz é “transformar o cotidiano e padronizar as existências” é fácil, o difícil é ver onde isso fracassa, onde as vidas se impõem. Eis o desafio intelectual, bastante mais complexo e árduo, para além de um simplório discurso que vê o “eclipse da política” como se diante das TVs houvesse apenas objetos manipuláveis.
Medidas sobre Comunicação do PNDH II assinado por FH Cardoso
Em 2002 o então presidente FH Cardoso assinou o Programa Nacional dos Direitos Humanos com as seguintes diretrizes para a Comunicação"
Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e televisão, regulamentar o uso dos meios de comunicação social e coibir práticas contrárias aos direitos humanos.
Garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos.
Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e televisão, regulamentar o uso dos meios de comunicação social e coibir práticas contrárias aos direitos humanos.
Garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras de rádio e televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos.
8 de jan. de 2010
comentários
Eu havia retirado a possibilidade do leitor deixar comentários. Me deprimia aqueles posts sem 1 comentário.
Sem a possibilidade dos comentários eu podia imaginar um monte de gente querendo comentar. Mas a única leitura desse blog me falou - Filhinho, deixa o espaço lá para os comentários. Ai está!
Sem a possibilidade dos comentários eu podia imaginar um monte de gente querendo comentar. Mas a única leitura desse blog me falou - Filhinho, deixa o espaço lá para os comentários. Ai está!
Bolsa família e escravidão
Um dos ótimos momentos do novo livro do Giuseppe Cocco, MundoBraz, é quando ele faz um apanhado na mídia das críticas ao Bolsa Família.
No final do século XIX, antes e depois o final da escravidão no país, ainda se discutia a legitimidade ou não da escravidão. Talvez o Brasil não tivesse condições econômicas para suportar o fim da escravidão. Questionar a abolição e o direito dos negros serem cidadãos era algo aceitável. Hoje, o debate seria absurdo, claro.
O Bolsa Família vai na mesma direção. Hoje ainda precisamos debater, argumentar, mostrar que o capitalismo mudou, que o emprego não organiza mais o social, que o Bolsa Família libera as pessoas para a criação, para a educação e que, ao contrário do que dizem os setratores, não "vicia". Precisamos a todo momento falar da urgência que a pobreza exige e dos ganhos na saúde, educação e na economia que esse programa trouxe.(ver relatórios do IPEA)Precisamos tentar explicar a diferença entre assistencialismo e o que há de mais progressista em termos de ação social libertária, como enfatiza o Cocco, algo difícil de entender tanto para uma parte da esquerda quanto para a direita que ainda associam igualdade social com desenvolvimento e, pior, liberdade com a opressão do trabalho fabril. Para desespero dos velhos marxistas, essa transformação profunda se faz no interior do capitalismo e sem a revolução.
Pois, tudo isso e muito mais, que ainda nos ocupa, que ainda é parte de uma necessidade retórica, se tornará tão antigo e absurdo quanto um debate sobre se a escravidão deve ou não existir. Até lá, vamos a luta.
No final do século XIX, antes e depois o final da escravidão no país, ainda se discutia a legitimidade ou não da escravidão. Talvez o Brasil não tivesse condições econômicas para suportar o fim da escravidão. Questionar a abolição e o direito dos negros serem cidadãos era algo aceitável. Hoje, o debate seria absurdo, claro.
O Bolsa Família vai na mesma direção. Hoje ainda precisamos debater, argumentar, mostrar que o capitalismo mudou, que o emprego não organiza mais o social, que o Bolsa Família libera as pessoas para a criação, para a educação e que, ao contrário do que dizem os setratores, não "vicia". Precisamos a todo momento falar da urgência que a pobreza exige e dos ganhos na saúde, educação e na economia que esse programa trouxe.(ver relatórios do IPEA)Precisamos tentar explicar a diferença entre assistencialismo e o que há de mais progressista em termos de ação social libertária, como enfatiza o Cocco, algo difícil de entender tanto para uma parte da esquerda quanto para a direita que ainda associam igualdade social com desenvolvimento e, pior, liberdade com a opressão do trabalho fabril. Para desespero dos velhos marxistas, essa transformação profunda se faz no interior do capitalismo e sem a revolução.
Pois, tudo isso e muito mais, que ainda nos ocupa, que ainda é parte de uma necessidade retórica, se tornará tão antigo e absurdo quanto um debate sobre se a escravidão deve ou não existir. Até lá, vamos a luta.
As UPPs - Conversa com Julio Ludemir
O Julio Ludemir é antes de tudo um amigo que conhece muito o Rio de Janeiro. Já escreveu sobre a Rocinha e sobre o Comando Vermelho, livros marcantes em torno das disputas que existem na cidade.
Como tenho andando muito intrigado sobre a atuação do Estado nas favelas, sobretudo em relação à aceitação e a tranqüilidade com que os morros forma “pacificados”, como gosta de dizer a grande mídia. Falei com o Julio e coloquei para ele 3 perguntas que sobre a UPPs.
Porque há tão pouco confronto em relação às UPPs?
Julio Ludemir - Já fui um observador mais atento da cena carioca, indo fisicamente a todos os lugares onde se travavam os grandes enfrentamentos entre os poderes paralelos e oficiais. Não faço mais isso porque sou mais um artista do que um sociólogo ou mesmo um jornalista. Mesmo à distância, tenho a sensação narcísica de que está se confirmando a tese na qual sempre acreditei: o poder militar do tráfico é uma balela difundida pelo principal interessado em sua permanência, que é a polícia. A mercadoria ilícita mais comercializada no Rio de Janeiro, mesmo no auge da cocaína, é a mercadoria política, que as três polícias se digladiam, numa guerra muito vezes mais sangrenta do que os combates travados pelas facções pelos pontos de venda de droga. Não há uma favela carioca cujo tráfico se imponha à vontade da polícia, paga regiamente com propinas semanais pelos chamados donos.
O Rio de Janeiro não é uma Colômbia ou mesmo Bolívia, países nos quais há imensas áreas dominadas pelo poder paralelo no meio da inóspita floresta amazônica ou mesmo da cordilheira dos Andes. Aqui no Rio de Janeiro, o tráfico se enquistou em um lugar tão próximo e acessível quanto o Cantagalo, o Pavão/Pavãozinho, o Santa Marta e Chapéu Mangueira, todos hoje dominados sem resistência pela polícia militar. Esses morros não têm mais do que três saídas, fora a mata atlântica. Não têm como oferecer resistência além de uma semana ou duas.
A escalada das milícias, que lambeu as favelas e conjuntos residenciais principalmente da zona oeste, já havia mostrado isso.
Que cidade é essa que as UPPs estão criando?
Julio Ludemir - Fiquei chocado com as manchetes dos jornais cariocas, que estão vendendo para a opinião pública, com as mesmas letras garrafais que anunciavam o holocausto do poder paralelo, a pacificação da cidade maravilhosa. Na verdade, as UPPs só foram instaladas nas favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro, devolvendo à arrogante classe média carioca o sonho de que vive numa espécie de principado de Mônaco, ilhado de todos os problemas socioeconômicos inerentes a uma cidade perversa como a nossa.
Em sua tacanhice, essa elite formulou inúmeras estratégias para se livrar dos pretos e paraíbas de que precisa para lavar suas privadas e cuidar de suas crianças mimadas, além de fazer sua segurança. Depois da política de criação dos parques proletários do estado novo, de que a cruzada de São Sebastião é o único símbolo, a Zona Sul carioca sonhou com a remoção das favelas até a chegada de Brizola ao governo do estado, cuja gestão foi tão contestada midiaticamente quanto a de Lula e o PT.
Embora nem todas as favelas removidas tenham dado lugar a conjuntos habitacionais de classe média, parece-me óbvio que o sonho dourado da RJZ e congêneres é promover uma expulsão branca das comunidades que conseguiram resistir à ameaça da polícia, mas que com certeza não deixará de ser seduzida pelo dinheiro da inevitável especulação imobiliária que já vinha acontecendo nas favelas da Zona Sul, que só fizeram crescer com a chegada das UPPs. Para quem não sabe, um empresário europeu já está comprando inúmeras casas do Vidigal, para construir um complexo turístico com aquela paradisíaca vista.
Os gringos que fizeram da Rocinha um dos roteiros turísticos mais visitados do país também estão comprando casas nas favelas. A Tavares Bastos ocupada, há quase uma década pelo BOPE, já tem uma noite em torno do agradável pub do Bob, um ex-correspondente da BBC. Há uma feijoada no Chapéu Mangueira que também está atraindo a classe média. Por fim, vale lembrar o encantamento do tripé gringos, classe média e mídia para os reveillons organizados no pacificado complexo Pavão/Pavãozinho/Cantagallo.
Caso as UPPs não sejam apenas uma obra eleitoreira e se consolidem nos próximos governos, acontecerá com essas favelas o mesmo fenômeno que já ocorreu na Lapa e em Botafogo. Onde está a malandragem da Lapa? eles sumiram, sem nenhuma intervenção policial, sem nenhuma batalha sangrenta, desde que a Lapa foi ocupada por aquele complexo de bares, restaurantes e outros espaços destinados à classe média carioca. Cadê os portugueses que ocupavam o casario em torno do Estação Botafogo? Também sumiram com a mesma especulação imobiliária já em curso nas favelas da zona sul carioca.
Esse tipo de ação é uma novidade?
Julio Ludemir - As UPPs são uma reedição das ocupações promovidas na década de 1990, pelo governo de Marcello Alencar. Acompanhei grande parte do processo do Acari por conta da amizade que fiz com o antropólogo Marcos Alvito, autor do clássico “As cores de Acari”. Como se pode ver no livro de Alvito, o tráfico foi expulso quase sem resistência do Acari, espalhando-se pelas favelas das redondezas. A ocupação agradou não apenas a classe média, como a própria população. Só que essa ocupação não se sustentou e cinco anos depois o Acari voltou a ser não apenas a capital do terceiro comando puro, como o epicentro de uma guerra entre o terceiro comando puro e a Amigos dos Amigos.
Tanto o oba-oba quanto as críticas feitas às UPPs parecem um remake das ocupações que se seguiram à chamada O Rio, cujo símbolo maior foi a estúpida subida de um tanque de guerra pelas estreitas ladeiras do Morro do Adeus, em Bonsucesso. Já naquela época se dizia que não existia vontade política, dinheiro e mão-de-obra para sustentar aquelas operações por tempo indefinido. Passadas as eleições, primeiro a Polícia Civil compartilhou a ocupação com a polícia militar, para depois deixar aquelas favelas sob o controle da mesma PM que hoje comanda as Upps. Vi com meus próprios olhos a gradual retomada de áreas da favela pelo tráfico durante os anos em que ia todos os fins de semana jogar futebol na quadra de areia da favela.
Há, porém, grandes diferenças em relação a essas ocupações, que nos permitem acreditar que elas pelo menos podem ter uma vida longa. Uma delas é o incremento de ações sociais nessas favelas, coalhadas de ONGs cujas ações são cada vez mais eficientes. Também não podemos deixar de levar em consideração que vivemos um outro momento socioeconômico. Por fim, poderíamos falar que a copa de 2014 e as olimpíadas de 2016 exigem uma nova cidade, mas isso não me traz maiores ilusões, pois o Rio de Janeiro vem mostrando desde a eco 92 que os poderes oficiais e paralelos sabem negociar muito durante os grandes eventos internacionais.
Como tenho andando muito intrigado sobre a atuação do Estado nas favelas, sobretudo em relação à aceitação e a tranqüilidade com que os morros forma “pacificados”, como gosta de dizer a grande mídia. Falei com o Julio e coloquei para ele 3 perguntas que sobre a UPPs.
Porque há tão pouco confronto em relação às UPPs?
Julio Ludemir - Já fui um observador mais atento da cena carioca, indo fisicamente a todos os lugares onde se travavam os grandes enfrentamentos entre os poderes paralelos e oficiais. Não faço mais isso porque sou mais um artista do que um sociólogo ou mesmo um jornalista. Mesmo à distância, tenho a sensação narcísica de que está se confirmando a tese na qual sempre acreditei: o poder militar do tráfico é uma balela difundida pelo principal interessado em sua permanência, que é a polícia. A mercadoria ilícita mais comercializada no Rio de Janeiro, mesmo no auge da cocaína, é a mercadoria política, que as três polícias se digladiam, numa guerra muito vezes mais sangrenta do que os combates travados pelas facções pelos pontos de venda de droga. Não há uma favela carioca cujo tráfico se imponha à vontade da polícia, paga regiamente com propinas semanais pelos chamados donos.
O Rio de Janeiro não é uma Colômbia ou mesmo Bolívia, países nos quais há imensas áreas dominadas pelo poder paralelo no meio da inóspita floresta amazônica ou mesmo da cordilheira dos Andes. Aqui no Rio de Janeiro, o tráfico se enquistou em um lugar tão próximo e acessível quanto o Cantagalo, o Pavão/Pavãozinho, o Santa Marta e Chapéu Mangueira, todos hoje dominados sem resistência pela polícia militar. Esses morros não têm mais do que três saídas, fora a mata atlântica. Não têm como oferecer resistência além de uma semana ou duas.
A escalada das milícias, que lambeu as favelas e conjuntos residenciais principalmente da zona oeste, já havia mostrado isso.
Que cidade é essa que as UPPs estão criando?
Julio Ludemir - Fiquei chocado com as manchetes dos jornais cariocas, que estão vendendo para a opinião pública, com as mesmas letras garrafais que anunciavam o holocausto do poder paralelo, a pacificação da cidade maravilhosa. Na verdade, as UPPs só foram instaladas nas favelas da Zona Sul do Rio de Janeiro, devolvendo à arrogante classe média carioca o sonho de que vive numa espécie de principado de Mônaco, ilhado de todos os problemas socioeconômicos inerentes a uma cidade perversa como a nossa.
Em sua tacanhice, essa elite formulou inúmeras estratégias para se livrar dos pretos e paraíbas de que precisa para lavar suas privadas e cuidar de suas crianças mimadas, além de fazer sua segurança. Depois da política de criação dos parques proletários do estado novo, de que a cruzada de São Sebastião é o único símbolo, a Zona Sul carioca sonhou com a remoção das favelas até a chegada de Brizola ao governo do estado, cuja gestão foi tão contestada midiaticamente quanto a de Lula e o PT.
Embora nem todas as favelas removidas tenham dado lugar a conjuntos habitacionais de classe média, parece-me óbvio que o sonho dourado da RJZ e congêneres é promover uma expulsão branca das comunidades que conseguiram resistir à ameaça da polícia, mas que com certeza não deixará de ser seduzida pelo dinheiro da inevitável especulação imobiliária que já vinha acontecendo nas favelas da Zona Sul, que só fizeram crescer com a chegada das UPPs. Para quem não sabe, um empresário europeu já está comprando inúmeras casas do Vidigal, para construir um complexo turístico com aquela paradisíaca vista.
Os gringos que fizeram da Rocinha um dos roteiros turísticos mais visitados do país também estão comprando casas nas favelas. A Tavares Bastos ocupada, há quase uma década pelo BOPE, já tem uma noite em torno do agradável pub do Bob, um ex-correspondente da BBC. Há uma feijoada no Chapéu Mangueira que também está atraindo a classe média. Por fim, vale lembrar o encantamento do tripé gringos, classe média e mídia para os reveillons organizados no pacificado complexo Pavão/Pavãozinho/Cantagallo.
Caso as UPPs não sejam apenas uma obra eleitoreira e se consolidem nos próximos governos, acontecerá com essas favelas o mesmo fenômeno que já ocorreu na Lapa e em Botafogo. Onde está a malandragem da Lapa? eles sumiram, sem nenhuma intervenção policial, sem nenhuma batalha sangrenta, desde que a Lapa foi ocupada por aquele complexo de bares, restaurantes e outros espaços destinados à classe média carioca. Cadê os portugueses que ocupavam o casario em torno do Estação Botafogo? Também sumiram com a mesma especulação imobiliária já em curso nas favelas da zona sul carioca.
Esse tipo de ação é uma novidade?
Julio Ludemir - As UPPs são uma reedição das ocupações promovidas na década de 1990, pelo governo de Marcello Alencar. Acompanhei grande parte do processo do Acari por conta da amizade que fiz com o antropólogo Marcos Alvito, autor do clássico “As cores de Acari”. Como se pode ver no livro de Alvito, o tráfico foi expulso quase sem resistência do Acari, espalhando-se pelas favelas das redondezas. A ocupação agradou não apenas a classe média, como a própria população. Só que essa ocupação não se sustentou e cinco anos depois o Acari voltou a ser não apenas a capital do terceiro comando puro, como o epicentro de uma guerra entre o terceiro comando puro e a Amigos dos Amigos.
Tanto o oba-oba quanto as críticas feitas às UPPs parecem um remake das ocupações que se seguiram à chamada O Rio, cujo símbolo maior foi a estúpida subida de um tanque de guerra pelas estreitas ladeiras do Morro do Adeus, em Bonsucesso. Já naquela época se dizia que não existia vontade política, dinheiro e mão-de-obra para sustentar aquelas operações por tempo indefinido. Passadas as eleições, primeiro a Polícia Civil compartilhou a ocupação com a polícia militar, para depois deixar aquelas favelas sob o controle da mesma PM que hoje comanda as Upps. Vi com meus próprios olhos a gradual retomada de áreas da favela pelo tráfico durante os anos em que ia todos os fins de semana jogar futebol na quadra de areia da favela.
Há, porém, grandes diferenças em relação a essas ocupações, que nos permitem acreditar que elas pelo menos podem ter uma vida longa. Uma delas é o incremento de ações sociais nessas favelas, coalhadas de ONGs cujas ações são cada vez mais eficientes. Também não podemos deixar de levar em consideração que vivemos um outro momento socioeconômico. Por fim, poderíamos falar que a copa de 2014 e as olimpíadas de 2016 exigem uma nova cidade, mas isso não me traz maiores ilusões, pois o Rio de Janeiro vem mostrando desde a eco 92 que os poderes oficiais e paralelos sabem negociar muito durante os grandes eventos internacionais.
7 de jan. de 2010
Bolsa Família e o Capitalismo Contemporâneo
Já comentei - 1 2 -a RMU (Renda Mínina Universal) e, lendo o livro novo do Giuseppe Cocco, Mundobraz, volto a pensar no Bolsa família, semente do RMU, e os programas do gênero.
Além da importância, na urgência da pobreza, o Bolsa Família prepara o país para o que é o capitalismo contemporâneo em que o ideal do pleno emprego foi definitivamente riscado do mapa. O emprego não é mais agregador e organizador social como no capitalismo fordista, é para isso que temos que estar preparados.
O atual governo, me parece, desenvolve um gigantesco trabalho, na estruturação de um programa com tais dimensões. Tal estrutura tem um valor ainda não calculável. É com ela que esse e futuros governos poderão pensar ações que serão cada vez mais necessárias, diretamente ligadas a novas formas de financiamento da criação coletiva. É isso que fará a diferença entre países no capitalismo globalizado.
Veja, muito alêm de um programa contra a pobreza, estamos inventado formas de o estado participar de outras formas de "integração social" que não passam mais pelas tradicionais formas que faziam a clivagem entre emprego e o desemprego. Eis o desafio estrutral e teórico: pensar e dar conta de uma era em que o traballho se multiplicou em mil "independências" e precariedades.
Além da importância, na urgência da pobreza, o Bolsa Família prepara o país para o que é o capitalismo contemporâneo em que o ideal do pleno emprego foi definitivamente riscado do mapa. O emprego não é mais agregador e organizador social como no capitalismo fordista, é para isso que temos que estar preparados.
O atual governo, me parece, desenvolve um gigantesco trabalho, na estruturação de um programa com tais dimensões. Tal estrutura tem um valor ainda não calculável. É com ela que esse e futuros governos poderão pensar ações que serão cada vez mais necessárias, diretamente ligadas a novas formas de financiamento da criação coletiva. É isso que fará a diferença entre países no capitalismo globalizado.
Veja, muito alêm de um programa contra a pobreza, estamos inventado formas de o estado participar de outras formas de "integração social" que não passam mais pelas tradicionais formas que faziam a clivagem entre emprego e o desemprego. Eis o desafio estrutral e teórico: pensar e dar conta de uma era em que o traballho se multiplicou em mil "independências" e precariedades.
6 de jan. de 2010
"Pessoalmente, digo: dane-se o desenvolvimento." - Viveiro de Castro
No ótimo livro Cultura Digital, a Azougue republicou uma entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiro de Castro, um dos mais importantes intelectuais brasileiros.
É uma entrevista engajada e reveladora, atenta aos lugares em que o país e o mundo estão efetivamente disputando os espaços e as sensibilidades. Assim como faz em seus artigos, o Viveiro de Castro convoca pensadores como Deleuze, Guatarri e Foucault para pensar a Amazônia e o mundo.
A entrevista ajuda ainda a pensarmos o modelo de país/mundo que desejamos e escolhemos cotidianamente.
Provocador, ele nos diz coisas como:
"Pessoalmente, digo: dane-se o desenvolvimento."
"Quem se preocupa com identidade, de língua, cultura, seja do que fôr, já “perdeu”."
O problema nacional é um problema da elite para a elite pela elite. O chamado “povo” está preocupado com outra coisa...
"Para o bem ou para o mal, a Amazônia virou o Lugar dos lugares, natural como cultural, alias; é lá que está sendo cozinhado um gigantesco guisado cultural, e que daqui nós não temos a menor idéia do que está se passando."
Como dizia o Glauber, quem ainda não leu está por fora.
É uma entrevista engajada e reveladora, atenta aos lugares em que o país e o mundo estão efetivamente disputando os espaços e as sensibilidades. Assim como faz em seus artigos, o Viveiro de Castro convoca pensadores como Deleuze, Guatarri e Foucault para pensar a Amazônia e o mundo.
A entrevista ajuda ainda a pensarmos o modelo de país/mundo que desejamos e escolhemos cotidianamente.
Provocador, ele nos diz coisas como:
"Pessoalmente, digo: dane-se o desenvolvimento."
"Quem se preocupa com identidade, de língua, cultura, seja do que fôr, já “perdeu”."
O problema nacional é um problema da elite para a elite pela elite. O chamado “povo” está preocupado com outra coisa...
"Para o bem ou para o mal, a Amazônia virou o Lugar dos lugares, natural como cultural, alias; é lá que está sendo cozinhado um gigantesco guisado cultural, e que daqui nós não temos a menor idéia do que está se passando."
Como dizia o Glauber, quem ainda não leu está por fora.
4 de jan. de 2010
Lula - o Filho do Brasil, um herói por acaso.

Toda essa dimensão extra-fílmica assume um papel enorme. Preciso confessar que me emocionei algumas vezes enquanto Lula é Luis Inácio, ainda criança, certamente por conta da forma como o filme me reconecta com uma história que me emociona antes do filme. Duvido que aqueles que guardam antipatia em relação à Lula sintam o mesmo - vou perguntar para os meus 2 ou 3 consultores do contra e depois aviso.
O risível do filme é o esvaziamento político. Lula vira o que é para satisfazer a mãe e por conta de uma grande dose de acaso. O problema é a superação, a insistência, a vitória. Na verdade, politicamente Lula é
tratado quase como um pelego, está sempre tentando ficar longe das confusões, como pede sua mãe. O Lula herói dos Barretos poderia ser cantor sertanejo ou presidente da Volks, tanto faz, ideológica e politicamente não há nada no filme que justifique o caminho do sindicato e da política e não outro. Lula vai para a cadeia porque é macho, entra na política porque sobe em um caminhão, avisa os companheiros que não há esquerda e direita, apenas trabalhadores e por ai vai. Como um Chaplin que sem querer se torna líder de uma manifestação operária ou assume o papel de do ditador para fazer um discurso pacifista, em Lula, filho do Brasil é assim que Lula se torna presidente. Trabalhador, confiável, inteligente e, sobretudo disponível.

Na verdade, se vemos o filme como a história de Lula contada por sua mãe ele se torna mais interessante, o problema é que a visão da mãe, apesar de ser o fio condutor, não é assumida como uma visão parcial, daquela que vê na vida do filho apenas o que quer, mas como a vida de Lula MESMO. O filme conta a vida de Lula como se nunca tivesse havido nada mais que um "Lula paz e amor". Pretende-se que a imagem que hoje interessa o marketing esteve presente em toda a história do Lula; sem embates, sem posicionamentos decisivos. Felizmente não é isso que faz de Lula o presidente que ele é hoje.
(Tempos Modernos, de Chaplin, Posse de Lula 2003, A greve, de Eisenstein - Esse plano do russo é reproduzido em Lula, filho do Brasil, uma citação singela. O que o filme não faz, justamente, é pensar a história como um problema de montagem, de aproximação entre eventos e fatos eventualmente separados no tempo e no espaço.)
3 de jan. de 2010
Jornalismo para dizer o que bem entender
Tarso Genro diz que Dilma não é 'mandona'
Se ele não disse e ainda nega, porque é essa a manchete do O Globo?
É o talento do jornalista em transformar a pergunta em manchete.
Controlar a linguagem
Controlar a linguagem é a ação mais eficaz para que se diga o que o contexto permite e não o que queremos ou precisamos dizer.
No Globo, ainda sobre Angra e os deslizamentos:
"Prefeitura faz apelo à Eletronuclear após surgir fenda na rodovia. Estatal diz que decisão é da Defesa Civil e não vê necessidade de desligar agora. Angra 1 e Angra 2 só podem funcionar se plano de emergência puder ser acionado."
Em nenhum momento, se a empresa fosse privada, no lugar de Estatal estaria "privada" ou qualquer palavra que caracteriza-se o pertencimento da empresa ao setor.
No Globo, ainda sobre Angra e os deslizamentos:
"Prefeitura faz apelo à Eletronuclear após surgir fenda na rodovia. Estatal diz que decisão é da Defesa Civil e não vê necessidade de desligar agora. Angra 1 e Angra 2 só podem funcionar se plano de emergência puder ser acionado."
Em nenhum momento, se a empresa fosse privada, no lugar de Estatal estaria "privada" ou qualquer palavra que caracteriza-se o pertencimento da empresa ao setor.
Gambiarras Urbanas Antimendigos
Recebi do Leo Sette uma seqüência de fotos de dispositivos colocados nas ruas de Paris para evitar que os chamados SDF (sem domicílio fixo) possam se instalar.
Veja: Imagens
Uma compilação dessas, mesmo sem legenda, mesmo sem montagem com outras imagens, mesmo sem contexto, aspira ser uma crítica aos dispositivos. Colocados juntos vemos o higienismo espalhado pela cidade. Vemos a defesa dos espaços privados.
No Rio de Janeiro isso ficou muito presente quando no início dos anos 90 os prédios foram gradeados. Muitos prédios dos anos 50, 60 e 70 possuíam entradas em que entre a rua e o prédio havia uma passagem, uma área que não era mais rua, mas também não era só d prédio. Pequenos jardins ou simples recuos que funcionavam como um pedido de desculpas à cidade pela fronteira que depois dele se colocaria. Isso acabou, agora o corte é seco.
As Gambiarras urbanas antimendigo não são nem o corte seco nem a invenção de espaços de suspensão, mas simulacros de pessoas em forma de espada, cactus ou pedra. As pessoas estão ali transformadas em outras coisas. Ao vermos os dispositivos, não vemos um espaço vazio protegido, como é o caso das grades, também agressivas, mas as pessoas mesmo.
Aqui não se trata de evitar a entrada de um sujeito que anda, abre portas, fala, ou mesmo de um ladrão. Trata-se de domesticar a visibilidade, impedir que o sujeito se encoste, se escore. As gambiarras não estão ali para defender, ou separar, mas para limpar visualmente a cidade. O problema é que ao serem colocadas elas antecipam o sujeito que ainda não se deitou, dobrando a violência do dispositivo, multiplicando exponencialmente os mendigos da cidade.
Veja: Imagens
Uma compilação dessas, mesmo sem legenda, mesmo sem montagem com outras imagens, mesmo sem contexto, aspira ser uma crítica aos dispositivos. Colocados juntos vemos o higienismo espalhado pela cidade. Vemos a defesa dos espaços privados.
No Rio de Janeiro isso ficou muito presente quando no início dos anos 90 os prédios foram gradeados. Muitos prédios dos anos 50, 60 e 70 possuíam entradas em que entre a rua e o prédio havia uma passagem, uma área que não era mais rua, mas também não era só d prédio. Pequenos jardins ou simples recuos que funcionavam como um pedido de desculpas à cidade pela fronteira que depois dele se colocaria. Isso acabou, agora o corte é seco.
As Gambiarras urbanas antimendigo não são nem o corte seco nem a invenção de espaços de suspensão, mas simulacros de pessoas em forma de espada, cactus ou pedra. As pessoas estão ali transformadas em outras coisas. Ao vermos os dispositivos, não vemos um espaço vazio protegido, como é o caso das grades, também agressivas, mas as pessoas mesmo.
Aqui não se trata de evitar a entrada de um sujeito que anda, abre portas, fala, ou mesmo de um ladrão. Trata-se de domesticar a visibilidade, impedir que o sujeito se encoste, se escore. As gambiarras não estão ali para defender, ou separar, mas para limpar visualmente a cidade. O problema é que ao serem colocadas elas antecipam o sujeito que ainda não se deitou, dobrando a violência do dispositivo, multiplicando exponencialmente os mendigos da cidade.
2 de jan. de 2010
Didi-Huberman - Quando as imagens tomam posição
"Quando as imagens tomam posição" (Quand les images prennent position) é o mais recente livro do historiador da arte francês, Didi-Huberman.
O autor vem publicando intensamente nos últimos anos e isso se reflete na repetição das questões centrais do livro. Entretanto o objeto de análise, Brecht e seu Diário de Trabalho (Arbeitsjournal), publicado no Brasil pela Rocco, permite análises saborosíssimas e que parecem deixar ainda mais claro os princípios que regem as análises de Hubeman. Questões ligadas à montagem, ao anacronismo, à necessidade da imagem, à escritura como produção de saber e à construção da história estão aqui presentes com um esmiuçamento que ultrapassa o trabalho de Brecht para reforçar questões éticas e políticas que Huberman trabalha na arte e na história.
O título deixa isso claro.
A abordagem de Brecht está concentrada na escritura da história e da vida com imagens que não param de expor e expor-se. Dar conta do mundo e se conectar com outras histórias e outros tempos. Imagens que não cessam de "tomar posição" e produzir conhecimento.
A chave do livro de Huberman é o modo como ele constrói paralelamente a vida de Brecht - sem grandes detalhes - em que o exílio teve lugar central, e a própria percepção da arte do alemão que, em traços gerais, coincide com a sua. O exílio - tanto físico, daquele que não está em seu país, como estético, daquele que não pertence, que estranha, que guarda distância, é parte de um trabalho de escritura com textos e imagens.
Em um certo momento Huberman encontra em Brecht o nomadismo de Guattari e Deleuze em Mille Plateux. Não que eles sejam citados, mas a aproximação é clara. Brecht não é apenas alguém que muda muito, antes e depois de guerra, mas alguém que assume a posição "desterritorializada" (p.13) Poesia e vida não podem pesar, precisam se manter leve para que a mobilidade - estar aqui ou lá, ver daqui ou de lá - seja rápida. O exílio é mais que um estado ou um destino, mas um princípio para saber sobre algo: "acuidade da visão" e, o que não deixa de ser problemático, cheio de "informações lacunares" e distanciadas.
Passando por Foucault, Blanchot e Deleuze, Huberman nos lembra a dimensão política e coletiva dos diários como este de Brecht. O autor em algumas páginas aproxima os três pensadores que trazem o "eu" que escreve o diário como uma linha que atravessa o político, o universal e o coletivo, lugar em que uma "gênese de si" ou a intimidade do indivíduo não trazem maiores interesses.
Um dos mais interessantes focos do livro está nas fotomontagens que Brecht faz em seu diário. São aproximações concretas entre imagens, eventos, tempos, textos, espaços. É nessa montagem que Huberman enxerga - e com razão - a produção de saber de Brecht. As escolhas são precisas, ao mesmo tempo paradoxais, explicitando continuidades estranhas e demandando do espectador uma presença ativa nessas montagens, sem, entretanto, esvaziar o poder documental dessas imagens. É preciso que as imagens tomem posição, "apesar de tudo", nos repete o autor.
(Voltarei ao livro)
O autor vem publicando intensamente nos últimos anos e isso se reflete na repetição das questões centrais do livro. Entretanto o objeto de análise, Brecht e seu Diário de Trabalho (Arbeitsjournal), publicado no Brasil pela Rocco, permite análises saborosíssimas e que parecem deixar ainda mais claro os princípios que regem as análises de Hubeman. Questões ligadas à montagem, ao anacronismo, à necessidade da imagem, à escritura como produção de saber e à construção da história estão aqui presentes com um esmiuçamento que ultrapassa o trabalho de Brecht para reforçar questões éticas e políticas que Huberman trabalha na arte e na história.
O título deixa isso claro.
A abordagem de Brecht está concentrada na escritura da história e da vida com imagens que não param de expor e expor-se. Dar conta do mundo e se conectar com outras histórias e outros tempos. Imagens que não cessam de "tomar posição" e produzir conhecimento.
A chave do livro de Huberman é o modo como ele constrói paralelamente a vida de Brecht - sem grandes detalhes - em que o exílio teve lugar central, e a própria percepção da arte do alemão que, em traços gerais, coincide com a sua. O exílio - tanto físico, daquele que não está em seu país, como estético, daquele que não pertence, que estranha, que guarda distância, é parte de um trabalho de escritura com textos e imagens.
Em um certo momento Huberman encontra em Brecht o nomadismo de Guattari e Deleuze em Mille Plateux. Não que eles sejam citados, mas a aproximação é clara. Brecht não é apenas alguém que muda muito, antes e depois de guerra, mas alguém que assume a posição "desterritorializada" (p.13) Poesia e vida não podem pesar, precisam se manter leve para que a mobilidade - estar aqui ou lá, ver daqui ou de lá - seja rápida. O exílio é mais que um estado ou um destino, mas um princípio para saber sobre algo: "acuidade da visão" e, o que não deixa de ser problemático, cheio de "informações lacunares" e distanciadas.
Passando por Foucault, Blanchot e Deleuze, Huberman nos lembra a dimensão política e coletiva dos diários como este de Brecht. O autor em algumas páginas aproxima os três pensadores que trazem o "eu" que escreve o diário como uma linha que atravessa o político, o universal e o coletivo, lugar em que uma "gênese de si" ou a intimidade do indivíduo não trazem maiores interesses.
Um dos mais interessantes focos do livro está nas fotomontagens que Brecht faz em seu diário. São aproximações concretas entre imagens, eventos, tempos, textos, espaços. É nessa montagem que Huberman enxerga - e com razão - a produção de saber de Brecht. As escolhas são precisas, ao mesmo tempo paradoxais, explicitando continuidades estranhas e demandando do espectador uma presença ativa nessas montagens, sem, entretanto, esvaziar o poder documental dessas imagens. É preciso que as imagens tomem posição, "apesar de tudo", nos repete o autor.
(Voltarei ao livro)
O Globo e a prepotência - "o finalmente"
A prepotência dos grandes jornais brasileiros é cotidiana. Tudo o que é público é tratado como inimigo, o estado inclusive. É essa democracia que a grande mídia tanto teme ser colocada em questão por outras esferas da sociedade?
O Globo diz assim: Cabral, finalmente, chega a Ilha Grande. Como assim finalmente? quem é o Globo para dizer onde e quando um governador deve chegar a algum lugar. A matéria não é nem assinada.
O finalmente se justifica porque eles só sabem lidar com a lógica do espetáculo e das celebridades.
Os dois secretários de estado presentes não interessam, não são notícia. Além da avalanche e das mortes é preciso garantir o espetáculo.
Curiosamente, na mesma primeira página do O Globo online há uma matéria sobre o que as "celebridades" postaram no Twitter sobre a tragédia da Ilha Grande. Onde está o governador que nem um post fez nas primeiras 24 horas?
O Globo diz assim: Cabral, finalmente, chega a Ilha Grande. Como assim finalmente? quem é o Globo para dizer onde e quando um governador deve chegar a algum lugar. A matéria não é nem assinada.
O finalmente se justifica porque eles só sabem lidar com a lógica do espetáculo e das celebridades.
Os dois secretários de estado presentes não interessam, não são notícia. Além da avalanche e das mortes é preciso garantir o espetáculo.
Curiosamente, na mesma primeira página do O Globo online há uma matéria sobre o que as "celebridades" postaram no Twitter sobre a tragédia da Ilha Grande. Onde está o governador que nem um post fez nas primeiras 24 horas?
28 de dez. de 2009
O impasse da guerra - Afeganistão
Diante do ataque (cnn - Al Jazeera)das forças americanas contra civis Afegãos, fica uma vez mais explicita a inoperância das estratégias de Obama na região.
Com a ida de McChrystal para o Afeganistão, algo mudava na estratégia. Os Estados Unidos assumiam a impossibilidade de ganhar essa disputa pela força militar tradicional. Obama pediu 40 mil homens e McChrystal indicou o caminho. Não podemos mais atacar, não podemos estar separados da população.
Trata-se se uma estratégia que percebe que o embate não se dá contra um estado, mas contra forças fragmentadas. E, contra essa fragmentação, a única estratégia é uma ocupação viral. Os americanos, segundo McChrystal, precisam ficar amigos dos Afegãos, inclusive dos insurgentes (ver matéria na Piauí de novembro). Curiosamnete a nova estratégia se confunde com a ajuda humanitária; estar presente, ocupar, ajudar, construir, alimentar, etc. Diante dessa estratégia, a vitória não é parte dos planos possíveis.
Adotar esses métodos e dizer que irá deixar o país em 2012 é absurdo.
Com os ataques de ontem o Estados Unidos voltam - continuam - fazendo o que sabem fazer bem. Entretanto abandonam as novas ordens. Se não atacarem e optarem pela guerra orgânica e viral, de infiltração - biopolítica, se quisermos, a vitória não é uma perspectiva. Se atacarem são derrotados pois não há o que ganhar, como mostra a história das guerras no Afeganistão.
Com a ida de McChrystal para o Afeganistão, algo mudava na estratégia. Os Estados Unidos assumiam a impossibilidade de ganhar essa disputa pela força militar tradicional. Obama pediu 40 mil homens e McChrystal indicou o caminho. Não podemos mais atacar, não podemos estar separados da população.
Trata-se se uma estratégia que percebe que o embate não se dá contra um estado, mas contra forças fragmentadas. E, contra essa fragmentação, a única estratégia é uma ocupação viral. Os americanos, segundo McChrystal, precisam ficar amigos dos Afegãos, inclusive dos insurgentes (ver matéria na Piauí de novembro). Curiosamnete a nova estratégia se confunde com a ajuda humanitária; estar presente, ocupar, ajudar, construir, alimentar, etc. Diante dessa estratégia, a vitória não é parte dos planos possíveis.
Adotar esses métodos e dizer que irá deixar o país em 2012 é absurdo.
Com os ataques de ontem o Estados Unidos voltam - continuam - fazendo o que sabem fazer bem. Entretanto abandonam as novas ordens. Se não atacarem e optarem pela guerra orgânica e viral, de infiltração - biopolítica, se quisermos, a vitória não é uma perspectiva. Se atacarem são derrotados pois não há o que ganhar, como mostra a história das guerras no Afeganistão.
O Globo e autoritarismo de sempre
No Globo de hoje
Menos de 10% das obras do PAC foram concluídas
A Casa Civil contesta com um argumento pertinente. Não é possível medir pelo número de obras, mas pelo investimento. Uma usina hidroelétrica concluída não pode estar no mesmo patamar que o esgoto de uma rua em um bairro de Nova Iguaçu - por mais importante que seja essa obra também. Fazendo-se essa ressalva, o percentual salta para mais de 32%.
O Globo adota o método que lhe convêm e não se dá ao trabalho de explicar porque muda o método.
O autoritarismo de sempre.
Menos de 10% das obras do PAC foram concluídas
A Casa Civil contesta com um argumento pertinente. Não é possível medir pelo número de obras, mas pelo investimento. Uma usina hidroelétrica concluída não pode estar no mesmo patamar que o esgoto de uma rua em um bairro de Nova Iguaçu - por mais importante que seja essa obra também. Fazendo-se essa ressalva, o percentual salta para mais de 32%.
O Globo adota o método que lhe convêm e não se dá ao trabalho de explicar porque muda o método.
O autoritarismo de sempre.
26 de dez. de 2009
Bibliografia levantada por François Dosse (Deleuze e Guattari)

Para continuar a leitura de Mille Plateaux a partir do mapeamento feito na ótima biografia cruzada de Deleuze e Guattari.
John Austin, Quand dire c'est faire. Seuil, Paris, 1970.
(Ação e a performatividade da palavra.)
Pierce, Écrits sur le signe. Seuil, 1978, Paris. (óbvio né?)
De Certeau, Dominique Julia, Jacques Revel, Une Politique de la langue. Gallimard, Paris 1975.
Pierre Clastres, Chronique des indiens Guayakis, Plon, Paris, 1972.
UPPs, mídia e consenso
Tenho tido muita curiosidade para saber mais sobre as UPP.
Há um enorme consenso na cidade sobre sua eficácia.
Que bom que há uma ação do estado para que a violência diminua nos desdobramentos do tráfico.
Na verdade, como parece estar ficando claro, o tráfico não é o problema, mas a violência que dali se desdobra. Essa visão é um importante passo para a liberação das drogas.
Há tráfico com baixa violência em Lisboa, Madrid, Londres, etc.
O que tem chamado atenção é a facilidade e o consenso.
Como pode essa grande força dos traficantes que tanto se propagandeou nos últimos anos ser dominada em vários morros da zona sul do Rio - os pontos mais valorizados - em tão pouco tempo?
Não se lê nada sobre a população, a não ser a aceitação.
A Fernanda Bruno postou outro dia no twitter dizendo que no Dona Marta houve manifestações por conta da instalação de câmeras de vigilância, na grande mídia nada.
Há um enorme consenso na cidade sobre sua eficácia.
Que bom que há uma ação do estado para que a violência diminua nos desdobramentos do tráfico.
Na verdade, como parece estar ficando claro, o tráfico não é o problema, mas a violência que dali se desdobra. Essa visão é um importante passo para a liberação das drogas.
Há tráfico com baixa violência em Lisboa, Madrid, Londres, etc.
O que tem chamado atenção é a facilidade e o consenso.
Como pode essa grande força dos traficantes que tanto se propagandeou nos últimos anos ser dominada em vários morros da zona sul do Rio - os pontos mais valorizados - em tão pouco tempo?
Não se lê nada sobre a população, a não ser a aceitação.
A Fernanda Bruno postou outro dia no twitter dizendo que no Dona Marta houve manifestações por conta da instalação de câmeras de vigilância, na grande mídia nada.
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