23 de fev. de 2010

O Globo, Folha e o desespero (post desabafo, envergonhado)

É assustador o tom que as organizações Globo vão assumindo.
Jabor fala de Dilma e do PT com uma violência descabida, faz uma defesa de FHC e incentiva um Flu X Flu entre as partes. Triste.

Miriam Leitão propõe um golpe na Venezuela. Diz que não haverá nada de produtivo na America Latina com Hugo Chavez. Triste, preguiçoso. não se dá ao trabalho de ver o que acontece. A legalização dos quase 50 mil bolivianos que estavam ilegais no Brasil, o final dos confrontos entre Peru e Equador, o respeito às populações indígenas em todo o continente, a integração entre Brasil e Argentina, etc. Miriam é o palanque que Chavez quer. Ela compra o espetáculo.

O Globo Online de hoje repercute a matéria da Folha contra Dirceu. Objetivo? A Globo não pode deixar passar uma ação governamental de Banda Larga. A incapacidade deles de universalizar é evidente. Lembre-se que o Brasil só perde para a Bolivia, proporcionalmente, em número de assinantes de TV a cabo. Pois são eles que querem universalizar a banda larga?
É a velha estratégia. Folha, Globo e adivinhe qual será a capa da Veja?
Desespero no ar. São esses caras que falam em liberdade de imprensa? Essas pessoas que defendem a liberdade para poderem falar e escrever apenas o que patrão quer?
Triste ver pessoas inteligentes defendendo os poderes mais retrógrados e anti-democráticos.

16 de fev. de 2010

Alasca, pré-sal e a renda mínima

O que fazer com o dinheiro do petróleo que entrará com o pré-sal.

Certo, nossos problemas como moradia, educação, transporte, saúde e comunicação são infindáveis, mas talvez o Alaska possa servir de exemplo.

No final dos anos 70 o Alasca torna-se um grande produtor de petróleo e, paralelamente, acontece uma discussão, o que fazer com o dinheiro que o estado recebe?

Em 1980 o governador Jay Rammond aprova a criação de um fundo com 50% dos royalties do petróleo. Em 1982 inicia um pagamento anual de uma renda mínima, fruto dos ganhos com o petróleo, a todo cidadão que habite no Estado do Alasca, há pelo menos um ano. Esta renda não está ligada a nenhuma condição outra que estar vivo.

Ninguém precisa se declarar pobre para ter direito ao que lhe pertence.

Crianças e jovens com menos de 18 anos, eram representados pelos pais e recebiam também suas partes.

Partindo do princípio de que a terra, no caso o petróleo, é um recurso de todos, seus dividendos devem antes serem distribuídos para que cada um decidisse o que fazer com os recursos. Trata-se de um aluguel da terra que é direito de todos.

O valor distribuido não é enorme, variou de 300 a quase dois mil dólares anuais, guardando uma média de mais ou menos 1200 dólares (cálculo em 2006). Para uma família de 5 pessoas, isso significa aproximadamente 900 reais mensais, por família.(ver:Basic income and increasing income inequality in Russia por Alexander Varshavsky)

Em artigos de pessoas que conheceram a realidade - Philippe Van Parijs, Suplicy - não há narrativas que digam que o povo do Alasca estava trabalhando menos por conta da renda mínima recebida anualmente.

Essa renda do petróleo do Alasca representa algo em torno de 7% do PIB, o necessário para garantir que o Alasca tenha a menor taxa de desigualdade de todos os estados americanos.

Desde a instituição desta renda o êxodo do Alasca diminuiu e a taxa de crescimento econômico é maior que a média americana. (ver: LE REVENU INCONDITIONNEL REPONSE AUX OBJECTIONS - Par Jacques Berthillier - octobre 2000)

Ah, mas os ricos não devem receber, dirão alguns.
Todos devem receber, o estado deve gerenciar mas não apontar quem deve ou não ter acesso a esse bem que pertence a todos. Os mais abastados provavelmente terão impostos maiores e uma parte da renda que receberam voltará para o estado.

A universalização impede o populismo e os gastos com a burocracia.

Uma renda-mínima à partir do pré-sal não trará benefícios políticos a longo prazo a ninguém. A renda mínima instituída a partir de um fundo obrigatório não ficará à mercê deste ou daquele governo. Desta ou daquela distribuição de renda.

O petróleo é um bem finito, mas o saber, o conhecimento não. O que hoje pode finaciar uma renda mínima universal para todos os brasileiros ainda é uma energia velha, parte de um capitalismo decadente e insustentável, entretanto, é com esse dinheiro que podemos financiar nossa entrada em outro sistema de produção de riqueza, aqueles ligados capitalismo pós-industrial e cognitivo, ou, como dizia Gorz, no pós-capitalismo.


Referências:
http://www.basicincome.org/bien/papers.html (grande quantidade de artigos apresentados nos congressos do BIEN - Basic Income Earth Network que este ano acontece no Brasil: http://www.bien2010brasil.com/)
Renda básica de Cidadania, Eduardo Suplicy, L&PM Pocket
Renda básica de Cidadania, Yannick Vanderborght e Philippe Van Parijs

15 de fev. de 2010

Cinema Estação, é bom evitar

Dois finais de semana indo aos cinemas do Estação.
Saudades da época em que o Estação tinha interesse por cinema e respeitava o público.
Bastardos Inglórios no Barra Point e o som completamente rachado. Reclamei com o projecionista.
- Não há o que fazer, pode pegar o dinheiro de volta.
Mas o meu tempo, minha gasolina, meu desejo de cinema?
- Meu o que?

Bem,
esse final de semana foi o Fita Branca do Haneke.
Faltavam 2 minutos, eu estava na primeira fila, que fora ficar na reta do ar-condicionado tem uma boa visibilidade, quando o lanterninha abriu a porta de saída na minha frente.
Fora ter agido como montador - ó o desejo de cinema dele ai - avisando que o filme ia acabar. Jogou uma luz na minha frente.
Estragou o final do filme.
Que ódio!
Meu dinheiro de volta, Pedi. só consegui que o gerente me desse o direito de rever o filme.
Sorte que fui a pé, pelo menos a gasolina não vou gastar.

Infantilizar não é tratar o espectador como imbecil

Eduardo Escorel escreve na Folha (domingo 14.02) e diz que Globo Reporter infatiliza o público.
Escorel faz um bom diagnóstico do programa, chama atenção para a prática de transformar tudo em jogo e interacão voyeur, entretanto, tratar o espectador como imbecil é completamente diferente de infantilização.
As crianças são bem mais inteligentes e capazes do que o Globo Reporter, isso é certo.

12 de fev. de 2010

Arruda e o PCC

Claro que é um prazer ver o Arruda preso.
Mas não é sem um forte estranhamento que vejo a polícia prender um governador.
Parece haver muito pouca dúvida sobre o envolvimento do Arruda com a corrupcão, é certo que deveria ser preso. Mas, prender um governador eleito é também uma temeridade. A polícia e a justiça tem mais direitos sobre a liberdade do que a câmara, representante do povo que o elegeu?
Caimos então em uma armadilha. Mesmo preso Arruda deveria ter o direito de continuar governando, uma vez que ele ainda não foi condenado.
Confesso que tenho tanto medo da justiça que prende um governador quanto de um governador corrupto. Ou temos tanta confiança na justiça? ela nunca será usada para retirar do poder alguém por motivos políticos, por exemplo.
Por enquanto resta ao Arruda administrar o DF à moda PCC, com celulares contrabandeados para dentro do presídio.

11 de fev. de 2010

Márcio Utsch - biopoder explícito

Como tenho especial interesse pela retórica em torno do trabalho no mundo contemporâneo, comprei a mais recente revista Época Negócios para ler uma matéria sobre a rotina de trabalho de cinco presidentes de grandes empresas.

Antes de chegar no texto, a primeira imagem da matéria já é extremamente reveladora dessa retórica.
Um dos retratados na matéria é fotografado de costas andando em um corredor em seu lugar de trabalho de mãos dadas com seus dois filhos. No final do corredor uma câmera de vigilância. Como diz o André Brasil, uma imagem dessas dispensa qualquer análise. Já está tudo ali, o lugar vigiado mas que permite a entrada da família, mas, sobretudo a fusão trabalho vida. Como escreveu o outro André, o Gorz, "não há mais fora do trabalho."

A rotina de trabalho que interessa a matéria inclui os filhos, a família, as atividades físicas, o consumo, a ocupação do tempo, a saúde etc. A rotina de trabalho é na verdade a vida."Quando Utsch está à mesa, todo almoço é de trabalho"
Mário Utsch, presidente da Alpargatas aparece na matéria em várias fotos, nas maiores ele aparece 1- em sua corrida matinal, 2 - fazendo embaixadinha 3 - sentado descontraído em uma mesa. Mas, nas corridas ele leva um gravador e grava todas as novas idéias e tudo que lembra que deve fazer. Ao chegar ao escritório entrega o gravador para a secretária deve ouvir e anotar as idéias que aparecem em meio à respiração ofegante.

Outro ponto curioso que impressiona o jornalista é uma reunião de Utsch com um dirigente de um clube de futebol. O presidente e os diretores não querem tomar nenhuma decisão naquele momento. "Tensão? Ao contrário. A reunião dura quase uma hora de incontáveis gargalhadas. E termina conforme o previsto, sem um acordo."

A vida se tornou, na retórica e na prática do trabalho contemporâneo, o que há para ser incorporado e modulado pelo capital, longe das práticas disciplinares. Já sabemos isso há uns 40 anos, mas, mais do que nunca essa prática se naturalizou. Tal modulação e controle encontra em uma frase de Utsch uma pérola dessa retórica que não dispensa uma boa dose de cinismo e que diverte o jornalista. "Motivação? É manter a galinha viva, a raposa com fome e o galinheiro aberto"

3 de fev. de 2010

Audiovisual e Trabalho Imaterial

Precisamos pensar uma renda mínima para jovens produtores de audiovisual recém saídos das universidades.

Finaciar o cinema hoje é financiar a vida de quem produz e não os filmes (apenas).

Temos visto em festivais uma grande quantidade de filmes; curtas, longas, documentários, animação e ficção produzidos com orçamento zero.

Câmeras, microfones e ilhas de edição estão ao alcance de todos que freqüentam universidades e escolas de audiovisual.

A exibição é garantida em festivas quase diários, internet e TVs universitárias e públicas.

O custa da produção tende a zero, em muitos casos. O da distribuição também.

O que leva tantos jovens a pararem de produzir quando saem das escolas e universidades é a necessidade de ganhar 1.500 ou dois mil reais mensais e não a impossibilidade de terem seus filmes patrocinados.

Os filmes deixam de ser feitos pela necessidade de arranjar um trabalho, freqüentemente distante da criação.

Estes jovens não esperam que seus filmes sejam patrocinados, não querem apresentar projetos em editais, não querem encaixar suas produções nos moldes que o mercado demanda.

O problema contemporâneo é que já sabemos que não haverá emprego para todos. Essa é a lógica de um capitalismo industrial.

Garantir a produção audiovisual de centenas de realizadores é uma decisão ecológica.

No capitalismo contemporâneo o trabalho se separou do emprego.

A inclusão social pelo emprego acabou com o fim da hegemonia do capitalismo fordista.

É tarefa do estado liberar as potências criativas - nem moldar, nem modelar - mesmo que estas potências se voltem contra o estado.

Produzir cinema e arte é produzir novos mundo ainda não imagináveis.

Os números:

Se a cada ano forem oferecidas 1000 bolsas mensais de 2000 reais para jovens realizadores durante um ano chegamos ao seguinte número:

1000 X R$ 2000,00 x 12 (meses)= R$24.000.000,00

Uma revolução no audiovisual brasileiro custa o equivalente a dois longas brasileiros de grande orçamento!
Ao trabalho.


ps. Essas idéias foram aventadas em reunião da Universidade Federal Fluminense para a preparação do Forcine ( FÓRUM BRASILEIRO DE ENSINO DE CINEMA E AUDIOVISUAL). Presentes na Reunião: Prof. João Leocádio. Profa. Elianne Ivo, Profa. Aida Marques, Profa. India Mara Martins, Profa. eliany Salvatierra e Profa. Luciana Rodrigues.

28 de jan. de 2010

Um lugar ao Sol Gabriel Mascaro

No documentário, quando se elege o inimigo, quais os limites éticos?
Coloquei essa pergunta ao Gabriel Mascaro em debate sobre o seu longa, Um lugar ao sol.
Gabriel faz um documentário importante sobre pessoas que moram em coberturas.
Trata-se da elite que mora com uma vista privilegiada, distante do barulho, "perto de Deus", como diz uma entrevistada.
Gabriel usou algumas mentiras para se aproximar dos entrevistas, o que não é problema. Conseguiu entrevistas em que ouvimos frases muito pesadas que confirmam o estereótipo de preconceitos que essas pessoas podem ter.
Na cobertura há a possibilidade de ficar mais distante da cozinha, de ver o mundo de cima, etc.

Alguns pontos:
Primeiramente essas pessoas tem dinheiro, mas não são a elite. São pessoas que expõe seus preconceitos e cafonices com uma ênfase que as distancia do que é a elite hoje no mundo, ligada à comunicação, à sobriedade e à riqueza que permite flutar em um mundo de experiências. De maneira geral a elite do filme é decadente.

Guardo um certo incômodo por conta da forma como oe realizador filma a pobreza. O filme utiliza muitos planos da cidade, de pessoas que estão nas ruas, de favelas que, apesar de Gabriel discordar, me parece planos que acabam forjando um contra-plano, uma contraposição às coberturas e à riqueza. Não seria essa uma utilização instrumental da pobreza? Mais, uma pobreza que está em cada plano da cobertura, mesmo que não apareça, ele pertence ao espectador.


Me lembrei de Didi-Huberman comentado Brecht quando diz algo como : mostrar é tomar posição. Tomar posição, nesse caso seria menos criar uma dialética, um outro lado, mas dialetizar. Por exemplo, me interessa mais investigar esse desejo urbano de estar em uma posição de controle em uma cobertura - ver sem ser visto - do que transformar a investigação sobre o que legitima a cobertura em uma dênuncia. Ou seja, estar em uma cobertura é um desejo compartilhável por uma elite que não compartilha o discurso daqueles que estão no filme.
Esse é, digamos o limite político do filme de Mascaro.


Um dos entrevistas diz: "Você está de parabéns por fazer um filme positivo.", ou seja sem pobreza. É essa ambiguidade, de quem toma posição com a lógica do outro, que é muito forte em cada entrevista feita por Gabriel.


O inimigo é bem escolhido no filme, há um prazer em ver o filme apontar para aquela lógica de mundo. Entretanto acho que o inimigo é bem mais poderoso e inteligente que Um lugar ao sol faz crer.


Apenas para fechar. Há algo brilhante no filme que são as relações de família. Diversas entrevistas são marcadas pelas passagens de herança, pelo compartilhamento da casa com os pais, mesmo na idade adulta. Discussão interessante quando começa a se debater os importos sobre herança para uma reforma tributária.



Gabriel realizou o brilhante Avenida Brasilia Formosa que será apresentado em Rotterdam na próxima semana. Um filme com um outro registro em que a cidade como questão continua no centro.Um prazer ver esse cinema arriscado de realizadores jovens e preparados.

25 de jan. de 2010

O cinema pode matar - Bastardos Inglórios

Perdi o timing dos lançamentos e só agora assisti o último Tarantino - Bastardos Inglórios.
Grande filme, Ilana Feldman já havia comentado e o Filipe Furtado escreveu uma ótima crítica na Cinética.

Um momento fantástico do filme.

A francesa, dona do cinema, acaba de atirar no jovem nazista que é, também, a estrela do filme que ela está projetando. Depois dos tiros ela olha para a tela e o vê em, plano próximo, em um momento de fragilidade, cansado, levemente pensativo. Pois é aquele plano que a faz esquecer quem era aquele homem e o projeto que de acabar com o cinema e com os nazistas ali presentes.
Um simples plano e ela percebe que havia uma pessoa, que havia matado alguém.
Mas, como sabemos, ela não o havia matado e ela é traida pelo cinema. Morta por ele.

O cinema pode matar.
A francesa morreu seduzida pelo filme, o cinema - a sala e a película - matou os nazista aprisionados e Tarantino matou todos, matou Hitler.

23 de jan. de 2010

Além da transparência e da opacidade, (Resposta ao Vinícius Reis)


Caro Vinícius,
Tentando responder a tua pergunta colocada no Twitter.
Vamos ao histórico.
O Daney em uma bela conversa com o Godard fala algo como: O cinema se equilibra entre pedagogia e sedução. Nesse mesmo post eu digo que o problema é outro.
Porque?, v. me provoca.
Essa fala do Daney parece ser pautada por uma clivagem que prevalece ainda hoje e que faz uma divisão entre transparência e opacidade. Todos conhecemos o excelente livro do Ismail de 1977: O Discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. Essa clivagem não me parece dar conta de importantes filmes e realizadores contemporâneos. Não é por acaso que o próprio Ismail acrescenta na reedição do livro um capítulo sobre o dispositivo.
Porque não é o suficiente?
Podemos fazer um recuo na divisão transparecia/opacidade até o ponto em que eu entenderia essa dicotomia fundada na separação natureza/cultura. Ou seja, de um lado há um uma certa objetividade, o real, a verdade da natureza das coisas se fazendo, de outro a coisa feita, aculturadas; a representação. Mantemos a dicotomia representação de uma lado, objeto do outro. O problema certamente não é a representação, mas as consequencias de se apostar na objetividade da natureza, da verdade da construção.
É interessante vermos como o recurso ao “real”, garantido pelo processo, é muito utilizado na TV e na publicidade. A Ilana Feldman escreveu um ótimo artigo sobre esse apelo realista e as imagens amadoras. (O apelo realista), isso aparece nos realitys, claro, e em uma enorme quantidade de anúncios levados ao limite em suas versões mais cínicas, como o famoso comercial da Dove. O processo nesses casos, mas também em boa parte do cinema engajado dos anos 60, precisa ser nitidamente separado do produto final, uma vez que ali resistiria uma objetividade, uma revelação não mediada da mediação. Ou seja, expõe-se verdade do engodo, enquanto a obra acabada é só engoda. As leituras mais simplórias de Brecht, por exemplo só ressaltam esse ponto; a revelação do artifício. A pedagogia da construção, a desmistificação do engodo.
Então, de um lado a pedagogia, de outro a sedução, que tão bem conhecemos.
O que me parece necessário colocar em perspectiva é:
Primeiro, o processo não é menos construção que a obra. A opacidade não é mais uma estratégia de desmistificação ou revelatória. Ou seja a presença do processo no interior da obra não está mais ligada ao distanciamento. Toda natureza é cultural, toda natureza é construção, é o que não cansa de repetir o Eduardo Viveiros de Castro. Ou seja, processo há, mas ele não pode ser pensado como o portador de uma verdade. O que há no processo de uma obra revelado ao público são outras estratégias de criação.
Segundo. E aqui o mais interessante e de onde efetivamente vem meu comentário sobre a impossibilidade de operáramos dentro de uma clivagem processo/obra, pedagogia/dedução. Como pensar filmes como - Juventude em Marcha, do Pedro Costa, Moscou, do Coutinho, Aquele Meu querido Mês de Agosto, do Miguel Gomes, Brasília Teimosa, do Gabriel Mascaro ou mesmo o filme A falta que nos move, Christine Jatahy.
De formas diferenciadas esses filmes, acredito, tem em comum a impossibilidade da clivagem entre processo e obra, entre, no limite, cultura e natureza.
Voltando ainda ao Eduardo Viveiros de Castro, acho que o cinema brasileiro vive um Devir Tupinambá - (com a licença da brincadeira!) Para pensar a relação dos Tupinambás com os portugueses que aqui chegavam, o antropólogo escreve que para os índios, o que importava era a troca e não a identidade. Há um exemplo delicioso em uma entrevista em que ele conta que a pior ofensa para um índio é dizer que ele é avarento. Por outro lado os brancos dizem que não se pode confiar nos índios. Depois de fechar um negócio - te dou 10 mil para filmar aqui - uma semana depois, o índio quer renegociar. Para o branco, fechado o negócio a relação está clara e definida, para o índio é ali que tudo começa, ou seja enquanto um fechou o processo de troca o outro está apenas começando. Evidentemente não cabe aqui fazer um paralelo entre as partes envolvidas em um documentário e a relação entre ameríndios e europeus no século XVI. O processo é a troca entre as partes em que o fim é cambiante, nunca a identidade, nunca a estabilidade. Há um devir Tupinambá no cinema contemporâneo brasileiro. O que é invariável para os Tupinambás é a variação contínua.
A leitura Deleuziana é clara, para quem a essência é a mudança.
Seguindo essa linha, o que entendemos por processo nesses filmes é então uma construção em si e não o ato de construir. Ou seja, não é possível separar, para além de uma cronologia, o que é obra e o que é processo, nos dois casos estamos inseridos em uma invenção, uma montagem de seqüências e de escolhas. A separação não se sustenta então em termos de uma clivagem construção/fim.
Em Moscou, por exemplo. Primeiramente existem dois diretores, um do filme outro da peça - escolhido pelos atores -, a peça que será performada como ensaio. Logo no início do filme, Henrique Dias tenta organizar a cena - do filme - e anuncia: “Ele (Coutinho) é o chefe”. Entretanto, essa chefia é esquiza, desde o início é o que pretende Coutinho, multiplica-se os “autores”, ou os chefes, como quer o Kike, para que todos se percam, e seus lugares sejam assim esvaziados sem que eles deixem de existir, ou seja, de participar de um agenciamento que lhes escapa. Ah, mas sempre escapa, dirão os relativistas. Mas não é desse relativismo que se trata, não é dessa presença do acaso ou do descontrole inerente à realidade e que tentamos organizar. Mas de uma afirmação do descontrole como lugar mesmo de potência, algo absolutamente diferente. “Não se trata de um relativismo da verdade, mas da verdade do relativo” (Deleuze citado pelo Viveiro de Castro - Encontros p90)
O Devir Tupinambá não multiplica os pontos de vista sobre algo, mas coloca a própria noção de ponto de vista em xeque - A pergunta quem vê perde o cabimento. Ela não pode ser respondida sem que se enumere diversos atores, sendo o filme não uma síntese, mas uma multiplicidade.
Na clivagem obra/processo, pedagogia/sedução há uma troca de pontos de vista, como se a instancia enunciativa saísse de um ponto para focar outro. Saísse do mundo construído para o mundo que constrói. - natureza, cultura - Pois no Devir Tupinambá de Moscou e Meu querido mês de Agosto a dicotomia Mundo/Ponto de Vista faz água.
Minha preocupação Vinícius, é incidimos em uma despontecialização dessas narrativas e imagens se sustentarmos uma divisão em dois do universo fílmico, aquele da obra e aquele do processo. Tal divisão é clara nos modos que a produção capitalista se organizou no século XX. A linha de montagem, as arquiteturas disciplinares, as formas de trabalho hierarquizadas e com narrativas Aristotélicas. Os meios, escondidos, se revelados apontavam para o sacrifício, para a exploração, para o tédio, para a dor contida em cada objeto forjado dentro desse modelo. O cinema mesmo, tanto tempo flutuando na discussão sobre sua própria industrialização, como se essa discussão falasse apenas dos meios de produção e não de uma separação que contaminaria toda a obra, ao separar o processo e a obra permanecemos sob a égide da separação que coloca de um lado a espontaneidade, a verdade, a natureza e outro a construção, a cultura.
Ou seja, talvez possamos esquecer essa divisão para pensarmos esses filmes, primeiramente dizendo que o fim, aquele do indivíduo exposto e acabado, do objeto pronto, da narrativa encerrada, nunca se efetiva. Mas, mais importante que isso, é pensar essa narrativa como uma máquina que não faz sistema e que vive se abrindo a uma multiplicidade. (O Didi-Huberman no último livro dele recupera o Brecht para falar dessa multiplicidade presente nas foto-montagens do diário de Trabalho do Brecht, uma dimensão mais complexa do distanciamento Brechtiniano) Não se trata nem de um processo separado do fim, nem o processo para dar conta de um contexto, de um modo de produção, mas o fazer como lugar mesmo de conexão e invenção, inseparável do que há a ser feito, a ser criado.
Em aquele meu querido mês de Agosto, há um seqüência em que a equipe parece juntar toda a comunidade para mostrar o que havia feito. Uma pessoa da equipe avisa que se juntaram ali para filmar o Chapeuzinho Vermelho em versão horror. Vemos na platéia uma senhora que, aparentemente também pertencente à comunidade e faz o papel da vovozinha sacrificada a machadadas. A partir dessa seqüência poderíamos supor que o filme ficara entre esses dois registros - como por exemplo o curta metragem Dada, do Duda Vaisman, você se lembra? que nos anos 90 trabalhara justamente com idas e vindas entre o registro da narração ficcional e a apresentação do processo. Aqui há, digamos, um aprofundamento de tal registro. Chapeuzinho vermelho será abandonado e mesmo a comunidade não passa a ter a importância que essa seqüência ameaça lhe dar. No lugar de ficar entre os dois registros o filme vai somando camadas. Pouco depois, duas jovens procuram a produção do filme que se diverte jogando malha ou algo do gênero. Elas desejam fazer parte do filme, se oferecem para serem filmadas. O filme filma a cena. A jovens se dirigem ao técnico de som, o som que ouvimos é capturado por ele. O técnico de som diz que não sabe de nada, pede para elas falarem com uma outra pessoa mas não tem dúvidas em acompanhá-las e continuar gravando o som de uma cena filmada com a câmera muito distante, sem decupagem, como que por acidente.
Essas camadas de AMQMA não fazem diferenças entre que é o filme trabalhando para mostrar algo, para fazer uma escritura e o que é a própria escritura. Não há interrupção entre o que seria a vida dos realizadores em seus trabalhos, o que é o trabalho em si ou o que é a o espaço e os personagens documentados. Isso não quer dizer que não haja diferença, apenas não há interrupção. Vida, trabalho, criação e criatura fazem parte de um mesmo fluxo que não para de nos levar para o interior do pais, para especificidades de uma região de Portugal, para o extraordinário mês de férias de Agosto, naturalmente onírico, e para o prazer do cinema. A escritura que se dobra, brincar de cinema, brincar com o mundo para que ambos transbordem seus encantamentos.
O real sob o risco do cinema.
Desculpe-me ter me alongada, mas ando pensando nisso e aproveitei para organizar uma coisinha ou outro. 140 caracteres as vezes é pouco né?

Abração Cezar


ps. percebi relendo que deixei no texto um "a" no lugar de um "o" e vice-versa, como faz parte do processo e dá mais veracidade à carta, resolvi deixar.

21 de jan. de 2010

Sem domicílio fixo -SDF

O homem contemporâneo está em qualquer lugar do mundo como se fosse a sua casa. 
Clochard (mendigo) O edredon simula papelão remendado, de Erik van Loo e Peggy van Neer

Sempre conectado, sempre disponível, em trânsito. 
Em qualquer hotel do mundo encontra o interruptor no escuro.
Banco com braço anti-mendigo

19 de jan. de 2010

Excluir para reinventar

Esse desfile é daqueles exemplos prontos demais para serem eficazes, mas vamos a ele.

Um estilista percebe que na estética dos mendigos há uma produção singular.


O que ele faz?
Mais do que simplesmente incorporar texturas, cores, recortes, vazios e ritmos das roupas, ele mimetiza o mendigo.

Mais do que a captura da potência inventiva daquele que está na rua e resolve o problema da vestimenta com o que tem e com o que sobra, é a própria experiência do mendigo que precisa ser capturada.

O desfile se torna assim o momento exato em que se interrompe a criação. O desfile que seria o lugar em que se exibe a criação é na verdade o encerramento de uma criacão estética que está no mundo.

Em troca de mensagens no Twitter a Fernanda Bruno lembrou:
"No Rio temos aquele designer-decorador (G Cardia) que decora as festas VIPs c/ móveis "estilo favela"
Num Rio Cena o mesmo decorador fez um mural com rostos de pobres. P/ o seu azar, um deles era louco e em sua radical lucidez... reivindicou aos gritos entrada e tratamento VIP nos espetáculos, p/ desespero da organização que, claro, barrou o sujeito."

Esta história exemplifica, justamente, a impossibilidade de a criação continuar. A organização do evento poderia ter dito ao louco ao mendigo: "Você já criou o bastante, agora fora!"

Que o capitalismo é inventor de modos de vida, mais do que produtos, isso já é claro, mas não deixa de surpreender quando ele se reinventa nos mais marginalizados por ele mesmo.

Found-footage e imagens de arquivo

A principal diferença entre o found footage e o arquivo é que um foi encontrado.
Não existe found footage sem uma tomada de posição em relação aquele footage. O Found-footage não existe sem a montagem, sem a intervenção, sem a escritura.
Já o arquivo é amorfo, é isolado de outras imagens, não pertence a uma narrativa ou a uma montagem, carece de significado.

18 de jan. de 2010

O PSOL e o Haiti

Esse pessoal do Psol é inacreditável.
A recomendação deles é "cair fora do Haiti" -
O Brasil está "segurando a vaca para os EUA mamarem" (artigo)
Independente da urgência e da necessidade de  homens e mulheres treinadas para ajudar em situações como esta, o que por si só deveria calar esse tipo de comentário, o que eles não suportam é estarem em um lugar de disputa, de mediação, de tensão de forças. Ou seja, a política.
A radicalidade do PSOL é justamente um desejo de que a política seja eclipsada.

Twitter do Miltons Temer, por quem tenho real respeito: "Se Minustah não serviu a nada, é hora de o governo Lula retirar nossas tropas do Haiti. Ou o Brasil estará sendo capataz dos EUA, na repressão"

Milton, é o contrário. Quanto mais houver indícios de opressão, maior deve ser a presença brasileira. 
Fazer conviver os princípios com a diferença é a radicalidade e a dificuldade da política, é isso que o PSOL desconhece.


 

UPPs - "Governo" deixa comentário no Blog

As mídias sociais fazem parte da realidade que estamos construindo, acredito, de uma outra democracia, de formas menos verticais de poder.

O que fazem os governos e as empresas? Tentando correr atrás, se inserir nas mídias sociais, se tornam prestadores de serviço, para além do produto, estabelecem diálogos com comunidades, twitteiros, blogueiros etc.

Publiquei neste blog uma entrevista com o escritor Julio Ludemir sobre as UPP. Julio fez uma fala crítica, historicizou o processo, chamou atenção para a especulação imobiliária e para os usos políticos.

Dois dias depois foi deixado um comentário - note que este deve ser o blog menos comentado da internet!

"Gostaríamos de convidá-lo a visitar o site www.upp.rj.gov.br para conhecer melhor as ações das Unidades de Polícia Pacificadora. Na análise que você postou, há algumas informações equivocadas. O Governo do Rio de Janeiro se coloca à disposição para esclarecer qualquer dúvida sobre as UPPs ou qualquer outra política de governo.

Abs,
Equipe de Comunicação Digital."

a assinatura do Comentário é "Governo".

Curioso não? Bem, fui ao site proposto e o que se vê muita propaganda de governo.
Ai está o exemplo de um uso equivocado de uma "Equipe de Comunicação Digital."
Ou essa equipe entra no debate ou não serve para nada.
A tentativa com esse comentário é fazer dos blogs e mídias sociais uma outra forma de poder vertical em que não vale uma voz aqui outra ali. Tudo que o "governo" conseguiu foi me direcionar para o site e dizer que o Julio está equivicado. Onde, no que, etc, não interessa.
Desta forma o governo atua como um controlador, rastreando na internet o que se fala sobre ele para tentar desqualificar sem entrar no debate.
A ação é muito mais reveladora do método - na Mídia e talvez na UPP - do que uma atenção ao que a população está pensando e escrevendo.

17 de jan. de 2010

"Israel envia missão ao Haiti para analisar ajuda necessária"


Israel vai ajudar no Haiti.

EUA está ajudando.

Palestinos ainda não sabem 
se irão ajudar .

Haiti, 2010

Gaza2009

15 de jan. de 2010

Cinema e vídeo Experimental 60/70 - 5 essenciais.

Ubuweb é um sonho. Não é novidade.
Para quem não conhece, ai vai o link de 5 artistas essências do final dos 60 início dos 70.

Vito Acconci
Marcel Broodthaers
Peter Campus 
Hollis Frampton
Cindy Sherman

13 de jan. de 2010

PNDH3 - Um passo à frente.

Lula "solucionou", hoje, a questão em torno do PNDH da seguinte maneira.

Criou um novo decreto que institui a Comissão Nacional da Verdade.

"Fica criado o grupo de trabalho para elaborar anteprojeto de lei que institua a Comissão Nacional da Vedade, composta de forma plural e suprapartidaria, com mandato e prazo definidos, para examinar as violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memoria e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional."

Uma das recomendações do PNDH3 era a criação dessa comissão.

No que toca todas as outras questões: comunicação, interrupção voluntária de gravidez, agronegócio, etc. Nada foi ainda feito, ou melhor, tudo foi mantido.

Resumo da ópera, Lula - pelo menos até agora - não alterou o PNDH3, criou uma comissão que atendeu o Ministro Jobim e fez o que o PNDH pedia. Enquanto a mídia queria um passo para trás, Lula deu um passo à frente.

Nas internas - Lula enquadrou Jobim! Você acha que eu vou tocar nesse Programa e abrir o debate com todas as categorias?

Enquanto isso, O Globo diz: "A estratégia definida pelo Palácio do Planalto é de não mexer em mais nada agora, para não evidenciar derrota política "
A frase é absurda! Mexer seria uma derrota política, não só do governo, mas da sociedade que produziu o PNDH3.

A crise do PNDH3 antecipa o que será a campanha. A oposição e a grande mídia batem para depois tentarem entender do que se trata. (Ver posts anteriores 1, 2) O governo finge que cede e toca o barco sem comemorar.

Comentários do Azenha (link)

PNDH3 - Mudar é ir contra a democracia

O que o governo precisa deixar claro é que o PNDH3 não está em debate. O debate já foi feito. Ele foi apenas apresentado à sociedade para ser encaminhado ao congresso e às instâncias que podem efetivá-lo, ai sim se inicia um novo debate.

Ter 80% de aprovação da população faz com que Lula se torne vacilante, não quer fazer nada que possa suscitar críticas.
Na verdade, o risco é que o governo pare de pensar e continue apenas gerindo as obras.
O Caso do PNDH explicita isso. Lula não tem o direito de mudá-lo. Trata-se de uma produção social e coletiva legitima. Lula deve dar OK para o processo e não discutir o Programa. No momento que diz isso fica isso sai, assume o Programa como se fosse feito pelo governo dele, e não é. Trata-se de um processo independente do estado, apoiado por ele.
O governo se mete em uma fria se resolve entrar na discussão que a mídia quer, ponto por ponto.

O PNDH indica caminhos. Foi feito pela sociedade civil. No momento que for para o congresso a igreja, os militares etc, têm todo o direito de espernear, mas o governo aceitar as críticas agora é absurdo. Mudar o PNDH agora é negar o processo democrático que o gerou.

12 de jan. de 2010

Para Sérgio Besserman -

Prezado Sérgio,
admiro seus comentários no Jornal das Dez e por isso gostaria de colocar uma questão de fundo no comentário de hoje.
Quando dizes que o Bolsa família não pode existir indefinidamente, me parece que há ai uma distância das reflexões mais progressistas em relação às possibilidades do capitalismo contemporâneo.
Toda a crítica que se faz ao Bolsa Família ainda é fundada em uma percepção antiga que separa os sujeitos entre empregados ou desempregados, incluidos ou excluidos, uma percepção calcada no fordismo do Séc XX e não no que hoje tantos tem chamado de capitalismo cognitivo. A inclusão nesse novo capitalismo se descolou da noção de crescimento e isso é decisivo para percebermos um outro papel do estado. O estado tornou-se mais que nunca um gestor do excesso do capitalismo que inclui mesmo os excluídos - (banda larga na favela, celular de graça até para desempregado, dvd e acesso a bens digitais aos trabalhadores informais).
Me parece que não podemos ter nostalgia da disciplina e orientar o que desejamos para o país a partir apenas de mais desenvolvimento, mais indústrias, etc.
O desafio é justamente pensarmos uma além do emprego - o que significa muito trabalho -, um além da indústria, trata-se de uma percepção de que a vida é valor em si.
Entendo o Bolsa Família como parte de uma sociedade de plena atividade sem pleno emprego. (me refiro aqui ao excelente livro de Giuseppe Cocco, que deves conhecer, MundoBraz) O bolsa família é o embrião do que há de mais avançado, no meu entender, em termos de potencialização da criação e das invenção humana que a a idéia de uma renda mínima universal, defendida durante alguns anos pelo sen. Suplicy.
Desculpe-me se me alongo, gostaria apenas de compartilhar a preocupação com o país, a partir de um outro ponto de vista.
Meu cordial abraço
Cezar Migliorin

Lula não tem o direito de alterar o PNDH III

Lula pode não se engajar na efetivação de todos os pontos do PNDH III, mas não cabe a ele tirar esse ou aquele tema. Isso é um texto formulado na base, com conferências e milhares de pessoas engajadas, ao presidente cabe assinar o processo como um todo ou não assinar. O presidente não está ali para julgar os pontos mas para entender a demanda da sociedade e se esforçar para transformá-los em realidade, ou não.

11 de jan. de 2010

As Bolsas



Citroen com 7 airbags

Barco nobags 
Fábrica de Bolsas na China. 








Algumas imagens carecem de pessoas. Outras não.
Algumas dispensam leitores, outras não.


Grande mídia e oposição antecipam o tom da campanha com as críticas ao Plano Nacional de Direitos Humanos.

Dois pontos Centrais:

1 -Ganha espaço no debate pessoas como a Senadora Kátia Abreu.

Participante do lobby dos latifundiários, a senadora é capaz de escrever coisas como:
"Rússia e o Canadá têm florestas, só que naqueles países as condições climáticas não favorecem a expansão agrícola." Ou seja, como aqui as condições climáticas favorecem.... Corta a floresta!

"Governo usou plano dos direitos humanos para ressuscitar seus demonios de um socialismo radical e totalitario.Viva a democracia!Liberdade!Lei"

Aspásia Camargo,  por exemplo, chama a luta armada de terrorista. No mínimo uma  ignorância conceitual. O Luis Eduardo Soares em seu Twitter pergunta: "A resistência anti-franquista era "terrorismo", @AspasiaCamargo ? A resistência francesa anti-nazista era "terrorismo" ?"

2 -A grande mídia baseia suas críticas em profunda ignorância.
Reclama que não houve debate -  Enquanto o programa teve a participação de 14 mil pessoas
Não entende que o PNDH é um programa de intenções e não tem ação imediata.
Não entende que Lula precisa assinar pois foi o resultado de um processo de participação democrática.
Desconhecem que os PNDH I e II, feitos na era FH Cardoso, tem muitos pontos em comum com o PNDH III.
Willian Waak e um dos meninos da Veja perguntam se se trata de uma nova constituição. - Desconhecem o funcionamento dos processos democráticos fundados em participação popular e conferências.

É com esse nível de debate, desinteressado pelas questões de fundo, que a mídia pautará 2010.


A cidade

10 de jan. de 2010

Merval Pereira e William Waack - incompetência para a crítica

Merval Pereira acusa o PT de esquerdismo!
Em artigo no Globo de Domingo, ele faz uma relação entre o PNDH 3, assinado por Lula e a Carta de Olinda, parte do programa do PT de 2002. O que ele ignora é que boa parte do esquerdismo, estava presente no PNDH 2, assinado por FH Cardoso.

O mesmo aconteceu na Globo News.
William Waack fez ontem um programa em que ele estava indignado. O problema é que ele não sabia o que era o decreto. Começa o programa dizendo isso: "O decreto coloca em funcionamento, execução, não sei bem qual é melhor palavra..."
A primeira pergunta de Waack é se o decreto é uma nova constituição. (ninguém ri no programa)

Nesse mesmo programa, José Gregori, ex-ministro de FH Cardoso defende o PNDH, até porque ele foi responsável pelo primeiro PNDH. Mas começa o programa dizendo que não estudo o terceiro plano.

O desejo asfixiado, Bernard Stiegler (Alguns Comentários)


Em O desejo asfixiado, artigo publicado no Le Monde Diplomatique, o filósofo francês Bernard Stiegler recorre a Deleuze, esvaziando a complexidade de seu pensamento sobre o capitalismo, para poder criticar a indústria cultural contemporânea. Para Stiegler a Sociedade de Controle é formado com um poder central e hierarquizado, só dessa maneira é possível pensar os mídias como um poder que pode se sobrepor à toda forma humana.
Stiegler desconsidera as múltiplas formas de interagir com os meios de comunicação, com a TV ou com os games. Provavelmente ainda não teve a chance de jogar Rock Band com o neto ou ouvir a discussão sobre a novela na fila do banco.
A demonização ingênua da indústria cultural, chamada por ele de “ máquina de aniquilamento do eu”, só pode ser entendida se o filósofo produz, antes dos meios, o aniquilamento desses “eus”. Para Stiegler, um programa de televisão que humilha a inteligência do espectador, o que sabemos é corrente, é recebido sem crítica, sem interferência por essa mesmo vida. Eis o equívoco central. O filósofo aceita o lugar que a TV coloca o público como se o público nada pudesse diante da TV.
Stiegler faz ainda uma leitura torta de Simondon. Voltando à noção de individuação, que como sabemos é parte da formação dos indivíduos à partir de um fundo coletivo e pré-individual, Stiegler ignora justamente que Simondon ajudou Deleuze, e nos ajuda ainda, a pensar a uma potência humana inapreensível pela mídia e pelo capitalismo.
A vida é o que está em jogo nesse capitalismo, Foucault deixou-nos isso muito claro, , ela é, ambiguamente, apropriada e resistência. Dizer, como faz Stiegler, que o que o marketing faz é “transformar o cotidiano e padronizar as existências” é fácil, o difícil é ver onde isso fracassa, onde as vidas se impõem. Eis o desafio intelectual, bastante mais complexo e árduo, para além de um simplório discurso que vê o “eclipse da política” como se diante das TVs houvesse apenas objetos manipuláveis.

Medidas sobre Comunicação do PNDH II assinado por FH Cardoso

Em 2002 o então presidente FH Cardoso assinou o Programa Nacional dos Direitos Humanos com as seguintes diretrizes para a Comunicação"


Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação  Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e Apoiar a instalação, no âmbito do Poder Legislativo, do Conselho de Comunicação  Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e  televisão, regulamentar o uso dos meios de comunicação social e coibir práticas  contrárias aos direitos humanos.

Garantir a possibilidade de fiscalização da programação das emissoras de rádio e  televisão, com vistas a assegurar o controle social sobre os meios de comunicação e  a penalizar, na forma da lei, as empresas de telecomunicação que veicularem  programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos.

8 de jan. de 2010

Nós e eles - Lula de férias.

O cliente HSBC é o que carrega ou ele é o mundo?
 

Lula carrega isopor na Bahia.


comentários

Eu havia retirado a possibilidade do leitor deixar comentários. Me deprimia aqueles posts sem 1 comentário.
Sem a possibilidade dos comentários eu podia imaginar um monte de gente querendo comentar. Mas a única leitura desse blog me falou - Filhinho, deixa o espaço lá para os comentários. Ai está!

Bolsa família e escravidão

Um dos ótimos momentos do novo livro do Giuseppe Cocco, MundoBraz, é quando ele faz um apanhado na mídia das críticas ao Bolsa Família.

No final do século XIX, antes e depois o final da escravidão no país, ainda se discutia a legitimidade ou não da escravidão. Talvez o Brasil não tivesse condições econômicas para suportar o fim da escravidão. Questionar a abolição e o direito dos negros serem cidadãos era algo aceitável. Hoje, o debate seria absurdo, claro.

O Bolsa Família vai na mesma direção. Hoje ainda precisamos debater, argumentar, mostrar que o capitalismo mudou, que o emprego não organiza mais o social, que o Bolsa Família libera as pessoas para a criação, para a educação e que, ao contrário do que dizem os setratores, não "vicia". Precisamos a todo momento falar da urgência que a pobreza exige e dos ganhos na saúde, educação e na economia que esse programa trouxe.(ver relatórios do IPEA)Precisamos tentar explicar a diferença entre assistencialismo e o que há de mais progressista em termos de ação social libertária, como enfatiza o Cocco, algo difícil de entender tanto para uma parte da esquerda quanto para a direita que ainda associam igualdade social com desenvolvimento e, pior, liberdade com a opressão do trabalho fabril. Para desespero dos velhos marxistas, essa transformação profunda se faz no interior do capitalismo e sem a revolução.
Pois, tudo isso e muito mais, que ainda nos ocupa, que ainda é parte de uma necessidade retórica, se tornará tão antigo e absurdo quanto um debate sobre se a escravidão deve ou não existir. Até lá, vamos a luta.